terça-feira, 16 de maio de 2023

Foto 1027 - Jules Goux e Emil Begin, Indy 500 1913

 


Ainda em sua juventude, as 500 Milhas de Indianápolis tinha já despertava o interesse do outro lado do Atlântico. O desafio de percorrer as 500 Milhas no já famoso oval, despertou o interesse da Peugeot e esta enviou para lá o que tinha de melhor: dois L76, que vinham monopolizando as competições na Europa desde 1912, foram destinados à Jules Goux/ Emil Begin e Paolo Zuccarelli.

Ao contrário do que acontece nos dias atuais, os inscritos passavam por uma qualificação onde deveriam atingir a média de 75 Mph (120,7 Km/h) para que pudessem ingressar na corrida. Neste "vestibular" a melhor marca ficou para Jack Tower que atingiu 88,230 Mph com um Duesenberg - aqui rebatizado de Mason, inscrito pela Mason Motor Company. No total, 27 carros conseguiram a qualificação para aquela terceira edição.

Para a formação do grid, um sorteio foi feito na noite anterior e a pole ficou para Calleb Bragg com um Mercer. Os Peugeot apareciam em posições bem distantes: Goux sairia em sétimo e Zucarelli em 26°. Curiosamente, o detentor da melhor volta na qualificação, Jack Tower, ficou apenas na 25ª posição no sorteio.

A corrida foi vencida por Jules Goux e Emil Begin, mas antes disso tiveram que contar com problemas de Bob Burmann - que teve problemas em seu Keeton, após este pegar fogo quando ele liderava a prova. Conseguiu voltar e terminar em 11°. Jack Tower teria sérios problemas na corrida, já que ele teria uma perna quebrada e seu mecânico três costelas fraturadas após o capotamento de seu carro na volta 51.

Goux teve em Bob Evans seu grande rival ao duelarem por um bom tempo pela liderança. Mas Evans acabaria abandonando na volta 158 após a quebra da embreagem de seu Mason. 

Goux e Begin venceram a corrida após seis horas e receberam um prêmio de 20 mil dólares (que convertidos em 2021 valeriam 548,350 mil dólares), foram seguidos por Spencer Wishart (Mercer) e Charlie Stutz (Stutz) - este último chegou com o carro pegando fogo e com o mecânico Harry Martin tentando abrir a tampa do motor para que o fogo fosse apagado rapidamente. Infelizmente, Martin faleceria alguns meses depois durante um teste. O outro Peugeot, pilotado por Zuccarelli, abandonou na volta 18 com problemas no rolamento.

Os treinos livres mostraram a Peugeot que eles teriam problemas com os pneus no piso de tijolos do Speedway, tendo destruído alguns jogos durante as práticas. Eles recorreram a Johnny Aitken, piloto local que conhecia bem os segredos do circuito, que os aconselhou a andarem num ritmo mais brando que ainda assim os dariam uma boa velocidade. Isso foi vital para a conquista da equipe francesa - e essa lembrança seria reforçada à Goux durante a prova, quando foi visto que ele estaria com grandes chances

Sobre Goux, o que marcou a sua conquista foi o fato de ter entornado - ou não - seis garrafas de champanhe durante as paradas de box. Porém, alguns registros marcam que ele teria consumido quatro garrafas em conjunto com Begin. Isso teria sido usado como um enxaguante bucal e também para aliviar o forte calor daquele dia. "O calor estava terrível. Sofri e, se não fosse pelo vinho, não teria conseguido fazer esta corrida." , afirmou Jules Goux após a prova. Esse fato levou o AAA (American Automobile Association) a proibir o uso de bebida alcoólica durante a prova. 

segunda-feira, 15 de maio de 2023

Foto 1026 - A.J Foyt, Indy 500 1993


 

"Enquanto que alguns estreavam, nomes famosos que fizeram parte de Indianápolis nas últimas décadas ficavam de fora: Gordon Johncock e Rick Mears haviam se aposentado após a temporada de 1992; Tom Sneva também saíra de cena ao final do ano anterior, mas ainda tentou um lugar para correr em Indianápolis, mas não obteve sucesso; Michael Andretti, que colecionou dissabores no Brickyard, estava agora a serviço da McLaren na Fórmula-1. Al Unser Sr., Mario Andretti e AJ Foyt ainda eram os elos que ligavam a categoria a uma distante época onde os pilotos desafiavam as altas velocidades do Indianápolis Motor Speedway em carros de motores dianteiros e depois em bólidos de extremamente potentes e letais, tanto quanto uma dose de eutanásia. Para os dois primeiros, esta era a última participação numa edição desta prova – se bem que Mario ainda se classificara para a corrida de 1994, mas não chegou a largar devido a problemas com o sistema de combustível. AJ Foyt, a exemplo de seus dois velhos rivais, chegou a treinar em Indianápolis, mas um acidente do seu novato companheiro de equipe Robby Gordon antes do Pole Day, o fez mudar de idéia. AJ tinha acenado com a possibilidade de se aposentar em 1991, mas decidiu seguir em frente e o acidente de Robby fez florescer essa idéia novamente. Foyt entrou no seu carro para a sua volta, mas a fez de forma lenta e ao sair do carro disse que a sua carreira de piloto tinha terminado. Alegou que o acidente de Robby Gordon pela manhã o fez ver que não conseguiria gerir uma equipe e pilotar ao mesmo tempo e se quisesse o sucesso da equipe, ele teria que gastar 110% dos seus esforços fora do cockpit. Chegava ao fim a carreira de uma das maiores lendas do automobilismo americano e mundial, detentor de quatro Indy 500, uma Daytona 500, uma 24 Horas de Le Mans e de 35 largadas ininterruptas nas 500 Milhas de Indianápolis iniciada em 1958."

Trecho retirado do post sobre a segunda vitória de Emerson Fittipaldi nas 500 Milhas de Indianápolis em 1993.

O texto você pode acessar por aqui

domingo, 7 de maio de 2023

Império Endurance Brasil - 4 Horas de Goiânia: Território da Ligier

(Foto: Império Endurance Brasil/ Instagram)

Uma das coisas mais impressionantes de um ano para cá, tem sido o desempenho do Ligier JSP320 LMP3 no circuito de Goiânia. Desde a sua estréia, através da equipe BTZ Motorsport, o carro francês venceu todas e na realização da segunda etapa do Império Endurance Brasil lá mesmo, nas 4 Horas de Goiânia, eles voltaram a vencer a corrida. Bottura, Di Mauro e Kiryla, o atual campeão da classe P1 e que foi chamado para esta corrida, tiveram boas batalhas contra os AJR e Sigmas.

Essa etapa de Goiânia foi das mais interessantes e bem disputadas, principalmente nas duas primeiras classes (P1 e GT3) onde as vitórias foram confirmadas já nos minutos finais. Na P1 tivemos um início forte do Sigma G5 #2 com Aldo Piedade ao volante que logo assumiu a liderança e ficou por lá quase que por toda primeira meia hora. Foi uma pena que a queda de rendimento do belo protótipo da Scuderiach, seguido por problemas na asa traseira, que chegou a se desfazer por quase completa, tenha tirado o trio (Aldo Piedade/ Sergio Jimenez/ Marcelo Vianna) da briga pela vitória - eles fecharam na 15ª na geral e em 4º na P1. O mesmo se aplica ao outro Sigma G5 #444 da Motorcar que esteve na briga pela vitória por quase toda a corrida, mas problemas no DRS fez com que abrandasse o ritmo do trio formado por Orige/ Bonatti/ Genz que encerrou na quarta posição (geral e na classe).

Os AJR não tiveram melhor sorte, apesar do bom andamento de alguns deles. Talvez pudéssemos apontar o AJR #35 de Pedro Queirolo/ David Muffato que estava bem na liderança após a queda do Sigma #2, mas foi apanhado por problemas logo em seguida a ponto do carro ficar parado no final da reta principal. A perda de seis voltas foi uma tremenda lástima, uma vez que o ritmo era dos melhores. É também de se lamentar os problemas de câmbio que apanharam o AJR #99 do trio Rodrigo/ Romera/ Rimbano que estavam na liderança até os últimos 20-15 minutos e com uma diferença de dez segundos sobre o Ligier #117 de Bottura/ Di Mauro/ Kiryla. A parada de box no final foi um tremendo balde d'água fria no trio que levou a subclasse P1 Legends, destinada a trios ou duplas com pilotos com mais de 50 anos. Eles fecharam em terceiro. De se destacar, também, o bom desempenho do AJR #80 de Finardi/ Suzuki/ Cibien que estiveram entre os primeiros - chegando ocupar até o terceiro lugar - por um bom tempo, mas quebra da correia do alternador forçou o abandono do trio da Power Imports Racing.

Tivemos a estreia de outro Ligier JSP320 que foi inscrito pela FTR Motorsport e conduzido por Poeta/ Ricci/ Toso. Apesar do carro ter chegado na semana da corrida e terem tido pouco tempo para trabalhar no acerto, o trio conseguiu um bom desempenho e estavam em terceiro quando o semi-eixo quebrou. Isso só confirma como este modelo da Ligier tem ótimo casamento com a pista de Goiânia.

GT3 e GT4


(Foto: Império Endurance Brasil/ Instagram)

Apesar da classe GT3 ter tido uma competição mais branda nas três horas e meia, foi na última meia hora que a essa categoria ganhou vida quando o BMW M4 #15 de Sanchez/ Abreu entrou em batalha direta com o Mclaren 720S #16 pilotado por Hahn/ Khodair. Átila Abreu e Allan Khodair batalharam ferozmente pela liderança na fase final da corrida, sempre com vantagem de reta para o BMW e no miolo para o Mclaren. Foi nesse ponto onde ocorreu o entrevero, quando Mclaren deu um toque no BMW e isso fez com que o carro alemão desequilibrasse e desse a Khodair a chance de assumir a liderança. Para os comissários, Allan foi o culpado e tomou 5 segundos de punição e quando foi divulgado, a diferença estava em 3 segundos e foi logo ampliada para 5.6 ao final da corrida, garantindo a vitória da dupla do Mclaren.


Na classe GT4 a vitória ficou para o Porsche Cayman GT4 #718 de Landi/ Quartiero/ Filho/ Dirani. O quarteto foi formado exclusivamente para esta corrida já que o #21, que seria conduzido por Quartiero/ Dirani, teve problemas e não pode correr.

A terceira prova do calendário, as 6 Horas de Interlagos, será realizada em 27 de maio.


quinta-feira, 4 de maio de 2023

Foto 1025 - Alain De Cadenet/ Desiré Wilson, 1000km de Monza 1980

(Foto: Motorsport Images)

 

Um momento importante para uma situação especial.

A troca de guarda entre Alain De Cadenet e Desiré Wilson no Lola LM1 Ford (batizado de Cadenet LM1) #34 durante os 1000km de Monza, então 4ª Etapa do Mundial de Marcas de 1980.

A dupla formada por Cadenet/ Wilson venceu esta prova após herdar a liderança no final da corrida, precisamente quando faltava três voltas para o final, depois que Henri Pescarolo precisou levar o Porsche 935K #21 (que ele dividia com Jürgen Barth) aos boxes para um rápido reabastecimento. A piloto sul-africana teve apenas o trabalho de guiar o Lola até a vitória, nesta que foi a primeira de uma mulher em um campeonato mundial organizado pela FIA na geral. 

O sucesso voltaria a bater à porta desta dupla quinze dias depois na disputa das 6 Horas de Silverstone, quinta etapa.

Mais uma vez eles tiveram o desafio dos Porsche: um 908/3 #5 de Jürgen Barth e Siegfried Brunn e o 935K3-80 da Porsche Kremer pilotado por John Fitzpatrick/ Guy Edwards/ Axel Plankenhorn - estes últimos lideraram a fase inicia da corrida, mas um  problema de pistão forçou o abandono. 

A conquista do De Cadenet LM1 teve alguns percalços que poderiam muito bem ter atrapalhado o andamento, quando Desiré Wilson teve a perda de uma volta após ter cortado a chicane Woodcote.

A dupla ainda lutaria com um problema de ignição, mas recuperariam a liderança quando faltavam 25 minutos para o fim da corrida para vencer mais uma vez e de forma consecutiva.

terça-feira, 11 de abril de 2023

Foto 1024 - O privilégio de Donington Park

 

Duas imagens separadas por 54 anos: Nuvolari e Senna em suas vitórias em Donington Park 

Donington Park é um lugar abençoado. Não é qualquer circuito que possa ser presenteado com vitórias marcantes de grandes gênios do esporte. Talvez o infernal Nordschleife é que tenha tido um número superior de exibições que entraram para a história do motorsport.

Na era dos Grand Prix, Donington Park teve o seu GP local em quatro oportunidades: 1935 a vitória ficou para Richard Shuttleworth com um Alfa Romeo; a de 1936 uma vitória do duo Hans Rüesch/ Richard Seaman com Alfa Romeo; em 1937 os poderoso carros alemães estiveram presentes e Bernd Rosemeyer com o seu Auto Union levou a taça.

A edição de 1938 foi vencida por Tazio Nuvolari que fora chamado naquele ano para substituir o falecido Rosemeyer no comando do Auto Union. Sua vitória naquele GP de Donington foi uma exibição prodigiosa, mostrando a todos que ele também podia domar um carro de motor central assim como Rosemeyer. Após um pit-stop para trocar uma peça que o jogou para quarto - até então ele tinha um avanço de mais de 30 segundos sobre seu companheiro de Auto Union Hermann Müller - ele foi recuperando o terreno durante a prova para assumir a liderança na volta 67 sobre um combalido Hermann Lang que sofria com o para brisa de seu Mercedes que estava quebrado após uma pedrada - isso causaria um sério problema para Lang, que veio a desmaiar por conta do vento gelado que tomou no rosto. A vitória de Nuvolari foi festejada naquela tarde de 22 de outubro de 1938, com direito a aplausos de que já haviam aparecido nas voltas que o mantuano estava a imprimir para voltar ao topo. Essa prova tornaria-se icônica, uma vez que a edição de 1939 acabou sendo cancelada por conta da Segunda Guerra Mundial.

Se passariam quase 55 anos para que Donington Park voltasse a receber uma GP, agora daquela que era herdeira direta da Era de Ouro dos Grand Prix: a Fórmula-1 desembarcava na tradicional pista inglesa para a realização do GP da Europa. Assim como aquela edição de 54 anos antes, a pista revitalizada por Tom Weathcroft presenciaria uma condução digna de Tazio Nuvolari feita por Ayrton Senna que conduziu a sua Mclaren Ford naquela pista molhada com o brilhantismo a qual fomos habituados. A sua primeira volta acabaria por entrar para os grandes momentos do esporte, de uma arte sublime de como aliar o talento em pista molhada com as qualidades que o carro que lhe proporcionava. Enquanto que os seus rivais diretos ficavam pelo caminho e/ou estavam perdidos no meio daquele aguaceiro de Donington, Senna estava numa classe própria para cravar uma impressionante vitória. Assim como Nuvolari em 1938, Senna ficou mais de 1 minuto de vantagem sobre a Williams Renault de Damon Hill.

Como acontecera depois de 1938, Donington não receberia mais um GP, mas ficaria com duas marcas inesquecíveis em sua história com dois grandes gênios do motorsport tendo deixado seu legado gravado no simpático autódromo inglês.

E esse privilégio é para poucos lugares.

terça-feira, 28 de março de 2023

Grandes Atuações - Ayrton Senna, Interlagos 1993

 


Costumo falar para alguns amigos meus que estiveram nas duas vitórias de Ayrton Senna em Interlagos de que eu os invejo. Não tenho invejo de nada material que a pessoa tenha conseguido, mas invejo os grandes momentos que ela viveu. Acaba sendo um sentimento de admiração por algo que é único e que não se pode reproduzir. Para quem viu ao vivo, as emoções são únicas e certamente é levado para a eternidade como um grande troféu.

A vitória de 1991 foi a premiação de algo que Ayrton procurava há anos, principalmente do momento que esteve com um carro que lhe daria todas as condições para chegar a tal. Jacarepaguá 1988 e 1989 foram situações que ele poderia ter vencido e, talvez, com folga, mas os problemas na largada e desclassificação por ter pego o carro reserva (1988) e o enrosco na largada com Gerhard Berger e Riccardo Patrese (1989) frustrou suas intenções de chegar ao topo do pódio.

A badalada volta da Fórmula 1 à uma Interlagos revitalizada em 1990, sugeria que o campeão de 1988 chegaria a essa conquista. O seu andamento na prova era soberbo, mas a falta de cuidado em dobrar o seu ex-companheiro de Lotus, Satoru Nakajima, que na época estava a serviço da Tyrrell, tirou dele não apenas o bico do Mclaren MP4/5B, como também a chance de vitória. Teve que contentar-se com o terceiro lugar e assistir seu rival Alain Prost espoucar a champanhe pela sexta vez no lugar mais mais alto do pódio de um GP do Brasil.

Toda a expectativa para que Ayrton chegasse a sua primeira tão sonhada vitória em solo brasileiro se confirmou em 1991, mas não antes de ter a sua carga de drama: inicialmente, a presença de Nigel Mansell com o Williams FW14, que mostrava naquela etapa o poder que mais tarde seria revelado, foi uma temida sombra que acabaria sendo dissipada quando "Il Leone" rodou na volta 59, no S do Senna, com o câmbio travado. Porém, o que parecia ser uma vitória tranquila, ganharia seu ar de dramaticidade com Senna ficando, também, com problemas no câmbio ficando travado na sexta marcha pelas últimas 7 voltas. A conquista viria, tornando aquela uma das mais emblemáticas conquistas do piloto brasileiro.

Com toda a evolução que foi vista pela Williams já em 1991, era de se esperar que 1992 fossem um páreo ainda mais duro, mas foram além e transformaram o FW14B numa máquina temível e assim foi, a ponto de dar a Nigel Mansell a chance de chegar ao seu único título mundo. Em Interlagos foi um passeio por parte deles e para a Mclaren, com Ayrton Senna e Gerhard Berger, um pesadelo onde a equipe não sabia o que fazer - já que levaram sete carros para aquela corrida (três MP4/6B e três novos MP4/7). O fracasso seria sacramentado pelo abandono de Berger na volta 4 e de Senna na volta 17. Algo inimaginável para aquela que foi a melhor equipe das últimas quatro temporadas.

A era de ouro da Mclaren Honda havia passado.


Ano novo... novo domínio da Williams, mas...


A presença de Alain Prost foi um fator interessante para aquele campeonato de 1993. As apostas giravam para quando francês estaria liquidando o mundial, mas a demora em se adaptar ao ao FW15 deu a impressão de que havia uma possibilidade da disputa estar presente - e de certa forma, nas primeiras corridas daquele ano, houve boas corridas que trouxeram essa falsa impressão, ou talvez, se não houvesse uma queda de rendimento da Mclaren, poderíamos ter tido? Vai saber...

Para a Mclaren também foi um início complicado com Ayrton Senna negociando a sua participação corrida a corrida, o que levantava a cada GP um suspense se o tricampeão estaria ou não no grid. Coincidentemente, houve uma caça às bruxas com Alain Prost que havia criticado fortemente a F1 no final de 1992 e agora era alvo de investigação da FISA, que chegou ameaçar o então tricampeão com uma suspensão de até quatro corridas - claramente isso foi resolvido mais tarde e Alain correu normalmente. Sem dúvida alguma, Bernie Ecclestone e FISA/ FIA não ficariam felizes em ver seus dois principais astros de fora justamente numa temporada em que a F1 conheceria o segundo piloto da história a chegar a 4 títulos mundiais.

A primeira etapa, o GP da África do Sul em Kyalami, nos brindou com um início vertiginoso onde Ayrton Senna batalhou contra Alain Prost pela liderança nas primeiras voltas. Infelizmente problemas com a suspensão ativa tirou dele a oportunidade de continuar a forçar uma briga com o francês, mas aquela voltas iniciais trouxeram uma impressão de que, caso a Mclaren pudesse desenvolver o seu MP4/8 com louvor, poderia sim desafiar o FW15 da Williams pelo restante da temporada. Alain venceu em Kyalami e Ayrton, quase 1 minuto e 20 segundos depois, terminaria na segunda posição. Mas as impressões daquela tarde em Kyalami eram esperançosas.

Com a chegada da Fórmula 1 à Interlagos essa esperança seria colocada a prova e os treinos foram um balde de água gelada nas pretensões de Senna e Mclaren - e claro, na enorme expectativa da torcida brasileira. Na primeira tomada de tempos, Alain Prost chegou a marca de 1'16"809 sendo mais de 1 segundo melhor que Damon Hill e quase dois melhor que Ayrton Senna. Uma lavada que o próprio Alain fez questão de destacar: "Acho difícil a Mclaren de Senna bater a minha marca, mas vai chegar perto". Na segunda e decisiva qualificação, Senna realmente melhorou seu tempo baixando para 1'17"697, mas Prost também baixaria seu tempo para 1'15"866, mantendo os quase dois segundos de vantagem para o brasileiro que assegurou o terceiro lugar. Em segundofl ficou Damon Hill e em quarto Michael Schumacher. Rubens Barrichello era o 14° E Christian Fittipaldi o 23°.

Ayrton Senna sabia que seria bem complicado conseguir desafiar o poder de fogo da Williams ali em Interlagos. Em entrevista para o Jornal da Tarde no final do primeiro classificatório, ele disse que "Honestamente, não esperaria poder confrontar as Williams". Porém, antes que os treinos começassem, ele ainda nutria a esperança de que a Mclaren estaria no encalço da Williams. No entanto, como já foi dito aqui, essa esperança se dissipou: "A diferença é grande, não esperava que fosse tão substancial aqui no Brasil". Ele destacaria ainda que a força do V10 da Renault e os problemas eletrônicos que o seu Mclaren enfrentava naquele momento, impossibilitaria um confronto. Ironicamente, até mesmo, para ele que era reconhecidamente o melhor em pista molhada naquele momento, uma classificação ou corrida na chuva poderia ser desastrosa: "Espero que o tempo esteja seco porque nunca andei com esse carro em piso molhado. É mais provável que tenha uma surpresa desagradável do que uma agradável. A máquina é muito complicada."

Ironicamente, isso acabaria por ser uma arma importantíssima para o que viria acontecer no domingo.


Uma tarde de festa em Interlagos




Mesmo com tudo que foi visto nos treinos livres e de qualificação, era possível acreditar em algum resultado que não fosse a vitória da Williams em Interlagos? Era quase certo que essa conquista viesse, mas sempre existe alguma situação onde o imponderável acabará mudando o curso da história.


O plano inicial de Senna era se meter no meio das duas Williams e ele aproveitou-se bem da má largada de Damon Hill para quebrar essa dobradinha inicial dos carros ingleses. Enquanto que Ayrton fazia uma bela largada, Michael Andretti se envolvia num mega acidente com Gerhard Berger - que já havia batido forte na sexta no muro da reta oposta. Para a sorte deles, foi apenas um susto.

O decorrer daquelas voltas ficava evidente que Ayrton estava andando no limite: primeiramente para não perder contato com Prost e consequentemente abrir uma vantagem decente para manter Damon Hill longe, mas isso cairia no decorrer das voltas com Alain indo embora e Hill se aproximando a ponto de superar o brasileiro na volta 11. É bem provável que naquele momento, o sentimento é de que, se havia alguma chance, esta tinha se esvaido e uma dobradinha da Williams era certeira.

O tempo sempre instável de São Paulo é algo a ser considerado, ainda mais para uma corrida de automóveis e na 18° volta algumas gotas começam aparecer justamente no momento que Ayrton Senna, lutando contra Michael Schumacher pela terceira posição, leva um Stop & Go por ter ultrapassado Eric Comas na Subida da Junção quando aquele trecho estava em bandeira amarela, proveniente do resgate ao Jordan de Rubens Barrichello que abandonara na volta 15. Senna pagou a punição na volta 24, no momento que a chuva passava a estar mais presente.

Provavelmente, se a corrida fosse feita toda em pista seca, a Williams teria a grande chance de levar com a dobradinha Prost/ Hill que estavam intocáveis, mas quando a tempestade chegou ao autódromo, o cenário mudou completamente como um passe de mágica: os acidentes de Aguri Suzuki e Ukyo Katayama, separados por pouco tempo na reta dos boxes já encharcada e com a visão limitada por conta, deixou uma verdadeira armadilha naquele ponto. Senna e Hill foram espertos em trocarem seus pneus para os de chuva, mas Alain Prost não conseguiu entender o rádio - que vinha com defeito - e passou reto para mais a frente escorregar 3 bater no Minardi de Christian Fittipaldi que estava encalhado na brita do S do Senna.


Alain Prost comentou sobre este momento para o Jornal da Tarde, relatando sobre o fato de ter dado mais uma volta no momento em que a chuva estava forte e a com reta tomada de destroços: "Meu engenheiro falou alguma coisa que não entendi. Achei que estavam me avisando que o Damon ainda estava no box. Não fiquei muito contente, mas decidi dar mais uma volta." O problema é que mais a frente é que se daria o fim de prova para o francês: "Peguei alguma sujeira, alguma coisa deixada pelo carro dele (Fittipaldi) e aquaplanei. Se o carro (Minardi) não estivesse parado ali, acho que conseguiria controlar o meu e continuar na prova." , relatou.


Com a saída de Prost e a corrida sob a intervenção do Safety Car - uma tremenda propaganda para a FIAT com o seu Tempra puxando o pelotão - o que seria dali pra frente? Um Damon Hill dando continuidade ao domínio da Williams ou um Ayrton Senna partindo para cima, vendo que a chance estava perto? Com a saída do SC, o cenário parecia ter mudado à favor de Senna com ele andando próximo de Hill, mas... aquilo devia ser apenas pelo fato da pista ter ainda alguns pontos úmidos?

O sol conseguiu secar boa parte do circuito e isso sugeria que o uso dos slicks era uma boa pedida. Senna e Schumacher foram para os boxes para colocarem estes pneus. Ayrton voltou sem problemas e Michael ficou por lá, com problemas no macaco manual. Um desaire que tira o piloto alemão de uma possível chance de vitória.


Na volta 42, uma depois que Senna havia feito a sua parada, Hill foi aos boxes para efetuar a sua parada. Feita sem nenhum problema, ele ainda voltara na frente do piloto brasileiro, mas um astuto Ayrton Senna não deu tempo para o inglês adaptar-se aos novos pneus e o ultrapassou na entrada para o Laranjinha num dos lances mais bonitos da corrida e da temporada. "A troca de pneus de chuva por slick aconteceu num momento importante. A ultrapassagem sobre o Hill também marcou. Eu vinha embalado, quando ele saía do box naquele momento. Sabia que tinha de ultrapassar naquela meia volta, se não fosse ali, não passaria mais. Eu vim no embalo, quando cheguei na curva do Laranja. Ele percebeu que eu vinha e tentou ficar por dentro para não deixar eu ultrapassar. Então vim por fora e ele veio por fora também. Aí voltei para dentro. Catimbei ele um pouco para poder ter oportunidade de passar e deu certo." relatou Ayrton ao Jornal da Tarde.


Essa manobra deu a ele a oportunidade de abrir uma vantagem de dois segundos que depois seria administrada e posteriormente aumentada, quando eles começaram a pegar tráfego. Pelas palavras do próprio Ayrton, "Em pista limpa, andando nós dois sozinhos, ele era mais rápido. Se ia passar ou não era outra coisa." Com todo este jogo tático que Ayrton impôs depois de assumir a liderança, deu a ele uma confortável diferença para Hill que chegaria a 16 segundos no final da corrida.

Essa corrida ainda seria brindada com a grande recuperação de Michael Schumacher: com os problemas no pit-stop, ele despencou de terceiro para nono e precisou usar tudo do que a sua Benetton B193A lhe oferecia para escalar o pelotão. Conseguiu e estaria em quarto na volta 65 e desta até a 68ª ele entraria num confronto com Johnny Herbert pelo terceiro lugar. Mesmo levando um X do piloto inglês no contorno da Descida do Lago, Schumacher ganharia o terceiro lugar no início da volta 69 e ainda levaria a melhor volta do GP após uma sequência de cinco voltas onde ele quebrou em sequência o próprio tempo.

Ayrton caminhava para uma tranquila conquista? Pelo que o mesmo relatou, o susto se fez presente nas últimas dez voltas: "Nas últimas dez voltas, percebi que o carro não estava bem. Aliviei mesmo um pouco pensando que o problema era motor. Falei: pronto, vai quebrar. Era só o que faltava! Vinha rezando. Eu não poderia perder a corrida por uma bobagem como essa." A pressão do óleo estava alta naquele fim de prova.


Com ele poupando o equipamento, a derradeira volta foi um desfile de Ayrton para receber a quadriculada e eclodir uma festa ainda maior do que fora em 1991. A alegria dos comissários de pista e a torcida indo a loucura no final da reta oposta, invadindo a pista a ponto de Ayrton ter que parar o Mclaren após acertar um dos torcedores. Mas a festa era tamanha que isso não intimidou o restante dos torcedores que cercaram o Mclaren para poder ficar próximo do ídolo. A imagem de Senna surgindo do meio da multidão e festejando junto a eles, é emblemática.


Sem poder voltar com a sua Mclaren para os boxes, Ayrton pegou carona com o SC e dali do final da reta oposta até chegar nos boxes, ele foi na janela saudando toda torcida e comissários que estavam espalhados pelo traçado do autódromo paulistano. Mais uma cena apoteótica para um já inesquecível dia, que ainda teria a presença de Juan Manuel Fangio para a entrega do troféu ao vencedor. Teríamos outra cena registrada para a história com Ayrton descendo do pódio para cumprimentar e abraçar o pentacampeão.

Apesar de quase todos imaginarem que uma vitória seria difícil, é claro que a esperança de acontecer algo ainda era alimentada. Talvez até contentassem com um terceiro lugar de Senna naquela prova, mas o abandono de Prost trouxe um reforço a essa esperança de que podia sim haver uma vitória. A fabulosa ultrapassagem de Senna sobre Hill e o seu ritmo diabólico para poder abrir o que podia sobre o inglês, foi a certeza de que ela viria. E veio. Foi a melhor forma de brindar um público que saiu extasiado com o que vira naquela tarde.

Ayrton Senna ainda brindaria a todos com outras vitórias naquele ano, mas essa em Interlagos tornou-se um dos grandes clássicos da gloriosa carreira do piloto brasileiro. E claro, para aqueles que estiveram in loco e também para os que estavam em casa, como este que vos escreve.


quinta-feira, 23 de março de 2023

GP da Arábia Saudita - Não é nada, mas...

(Foto: Red Bull/ Twitter)

 

Este GP da Arábia não foi nada mais que uma continuação do que vimos em Sakhir, quando a Fórmula 1 abriu a sua temporada e foi constatado que a Red Bull tinha uma vantagem considerável sobre os demais.

A ótima recuperação de Max Verstappen de 15° para 2° evidenciou isso e não há dúvidas de que, realmente, o seu terceiro título mundial - em sequência - pode acontecer com certa facilidade. Mas, por outro lado, os problemas mecânicos podem dar a equipe rubro-taurina alguma dor de cabeça, assim como o comportamento de seus dois pilotos.

Os problemas enfrentados por Max na qualificação, quando um semi-eixo quebrou e o deixou de fora do Q3, mostrou que este pode ser o único adversário real da equipe até que algum voluntário (olá Aston Martin) os desafie realmente. A parte final da corrida, com os dois pilotos reclamando de barulhos e problemas de freios, deixaram um ponto de interrogação sobre a confiabilidade mecânica de um carro que pode chegar ao olimpo dos melhores da categoria.

Outro detalhe que ficou em evidência é que os pilotos chegaram a certeza de que realmente tem o melhor equipamento e a distância para os demais é o suficiente para que possam se jogar numa batalha. Sergio Perez chegou a uma importante vitória, visto que ainda estamos no início do mundial e aproveitando-se bem da falha mecânica de Max para faturar essa. As voltas finais com os dois pilotos tentando marcar o território foi interessante, mas claramente não sairiam satisfeitos totalmente: enquanto que Sergio não gostou nada de ter ficado sem a melhor volta, entendendo que a equipe não lhe deu total parâmetro da condição de Max, este último acredita que poderia ter chegado à vitória caso a Red Bull não tivesse controlado tanto por temer uma quebra.

A verdade é que este duelo pode até mesmo acontecer em algumas etapas, mas sabemos que Sergio Perez está um degrau - ou até mesmo dois - abaixo de Max e isso trará sérios problemas para que ele desafie o principal piloto. Porém, é sabido também, que Sergio costuma ter um desempenho às vezes parelho com Max quando as corridas são realizadas em pistas urbanas e isso nos leva as duas próximas corridas que serão neste tipo de circuito: Melbourne, Baku e Miami são três pistas que podem ajudá-lo neste confronto. Mesmo que ele não vença, uma chance de tentar incomodar Max é real a partir do momento que consiga andar próximo, cravar uma pole, uma melhor volta (na derradeira passagem) e até mesmo vencer, daria ao piloto mexicano uma condição de sair fortalecido psicologicamente frente a um piloto que parece não se abalar fácil.

Por outro lado, caso seja derrotado impiedosamente (o que pode acontecer facilmente), o seu sonho de tentar beliscar algo a mais para o final do mundial, ficará apenas no desejo.

Será interessante observarmos o andamento do florescer desta possível batalha por estas três corridas.

Para os demais

Não há dúvida que a Aston Martin seja a terceira força deste campeonato. Arriscamos dizer que, caso Lance Stroll não tivesse quebrado, a chance dele pegar o quarto posto logo após de Fernando Alonso era grande. O ritmo imposto pelo piloto espanhol no final da corrida, quando foi comunicado da confusa punição, mostra o quanto que este carro é muito bem nascido: Alonso estava 4.3s a frente de Russell e em duas ou três voltas conseguiu subir para 5.1s e, momentaneamente, se livrar da possível punição - antes que os comissários entrassem em cena para realizar uma das mais patéticas punições dos últimos anos.

Enquanto que a Aston Martin mostrava que também tem a sua força, Mercedes e Ferrari continuavam a tentar se achar: a equipe anglo-saxônica fez um GP decente com seus dois pilotos, mas ficava claro que não teriam força para brigar contra a Aston Martin, mas tinham um ritmo bem melhor que a sua rival Ferrari que teve em Charles Leclerc um ritmo inicial muito bom, mas que depois ficaria estagnado. A alta degradação dos pneus tem sido, até aqui, o terror dos italianos.

Em relação as demais equipes, a Alpine teve um bom andamento com seus dois pilotos e a Haas sorriu um pouco com o ponto conquistado por Kevin Magnussen numa das poucas batalhas que essa corrida proporcionou, quando ele desafiou Yuki Tsunoda pelo décimo lugar. E se há alguém para chorar é a Mclaren, que teve um brilho com a ótima qualificação de Oscar Piastri e depois com um ritmo pífio no decorrer do GP.

Os próximos GPs serão bem interessantes, a partir do momento que haja alguma ação da parte que mais alimenta esperança. 

sexta-feira, 17 de março de 2023

1000 Milhas de Sebring - A espera de uma grande disputa

 

50 anos depois, uma Ferrari na pole da classe principal do Mundial de Endurance 

Foi apenas um primeiro passo, mas importante para esta era que, agora, ganha notoriedade. A pole da Ferrari com o seu 499P, vinda pelas mãos de Antonio Fuoco, causou uma belíssima festa nos boxes da equipe italiana e isso não era para menos: a última conquista neste sentido remonta a pole de Arturo Merzario/ José Carlos Pace com a Ferrari 312PB para as 24 Horas de Le Mans de 1973. Na ocasião, Merzario cravou 3'37"500 e na corrida terminaram em segundo, perdendo para o Matra MS670B conduzido por Henri Pescarolo e Gérard Larousse. 


A volta de Fuoco para a obtenção da pole para estas 1000 Milhas de Sebring foi de 1'45"067, 0"214 mais veloz que o do Toyota GR010 #8 que teve Brandon Hartley no comando. Aliás, as duas equipes monopolizaram as duas primeiras filas, com o Toyota #7 em terceiro e o Ferrari #51 em quarto. Estes resultados foram o cenário que se desenhou desde os treinos livres, onde as duas estiveram muito próximas e sugere que a batalha pode ser entre elas e com uma intromissão vindo do Cadillac #02.


Em relação as demais classes, pole para o #23 da United Autosport na LMP2  após uma boa disputa com Pietro Fittipaldi que esteve na direção do #28 da JOTA Sport e sairá em segundo.

Sarah Bovy garantiu uma ótima pole para o trio da Iron Dames com o Porsche 911

A outra pole que foi muito bem recebida foi por conta do Porsche #85 da Iron Dames, com Sarah Bovy cravando a marca de 1'58"949, 0"396  a frente do Corvette #3 que foi pilotado por Ben Keating na qualificação. É um início muito promissor para este trio formado pela Sarah Bovy,  Michelle Gatting e Rahel Frey.


A largada para as 1000 Milhas de Sebring será a partir das 13:00 horas, mas a transmissão será aberta meia hora antes pelo canal oficial do WEC que terá os comentários de Rodrigo Mattar e Sérgio Milani.

Link: https://www.youtube.com/live/cS7RHBQoC9M?feature=share


sábado, 11 de março de 2023

Foto 1023 - Arturo Merzario, GP da Áustria 1977

 

(Foto: IMAGO Images)

Arturo Merzario com o Shadow DN8 no final de semana do GP da Áustria de 1977. Foi a sua única aparição na equipe de Don Nichols naquela ocasião.

Aquele final de semana para equipe de Don Nichols foi dos mais movimentados: iniciando pela substituição de Riccardo Patrese que ficou de fora após que Ambrósio, que estampava a sua marca no carro americano, não ter pago parte do patrocínio a equipe. Dessa forma, o jovem Patrese estava de fora e daria lugar ao experiente Arturo Merzario que vinha fazendo a temporada com um March particular. De toda forma, haviam boas notícias: o retorno de Tony Southgate, após este ter trabalhado na Lotus de 1976 até parte de 1977, foi uma ajuda e tanto. A presença do projetista inglês foi de grande valia, uma vez que ele reformulou o DN8 com adição de um radiador de óleo no bico e também refazendo os sidepods, fora outras mudanças que deu ao carro um emagrecimento de 35 kg.

Como um passe de mágica, essa corrida tornaria-se inesquecível para eles: os desempenhos de Merzario e, principalmente, de Alan Jones, foram dos melhores possíveis, fosse na pista molhada (no início da corrida), fosse no seco (da metade da prova em diante). Jones fez o 14° e Merzario o 21° na qualificação, mas na corrida conseguiram escalar o pelotão até ficarem entre os dez primeiros.

Para Merzario a boa corrida terminou na volta 29 com problemas no câmbio. Para Alan Jones, a tarde no fabuloso Osterreichring foi de glória: a quebra do motor Ford Cosworth do Mclaren de James Hunt, que parecia intocável na liderança, parou de funcionar na volta 43 e deixou caminho para que Jones liderasse as últimas onze voltas para ele e Shadow chegassem à primeira vitória na Fórmula 1.

Na corrida seguinte, em Zandvoort, para a disputa do GP da Holanda, Patrese voltaria para a Shadow, assim como Merzario voltaria para o seu March.

Hoje o grande Arturo Merzario chega aos 80 anos.

terça-feira, 7 de março de 2023

Foto 1022 - René Thomas, Indy 500 1914




As duas fotos acima tem uma diferença de 59 anos, porém com a mesma personagem em questão.

Na primeira foto, um jovem René Thomas que estava a bordo do Delage com que ele estava prestes a correr as 500 Milhas de Indianápolis de 1914. Na segunda o mesmo René Thomas, agora do alto de seus 87 anos, reencontrava com seu Delage para uma volta comemorativa um pouco antes das 500 Milhas de Indianápolis de 1973, mas desta vez no banco que era destinado ao mecânico que os pilotos eram obrigados a levar durante as provas de cinco décadas atrás.

Com a não ida da equipe oficial da Delage para Indianápolis, René Thomas e seu colega de equipe Albert Guyot conseguiram junto de Louis Delage dois modelos Type Y para formarem uma equipe particular e se inscreverem na edição de 1914 da Indy 500. Essa edição pode ser chamada de a "Invasão Francesa" à Indianápolis, uma vez que a conquista de Jules Goux e Emile Begin em 1913, a bordo do Peugeot L-76, havia tido bastante repercussão.

Além dessas inscrições de Thomas e Guyot, a Peugeot enviou o atual vencedor Jules Goux e Georges Boillot - um outro Peugeot foi inscrito de forma particular pelo belga Arthur Duray. Outros dois franceses estiveram na pista: Jean Chassagne pilotou um Sunbeam e Ernst Friderich um Bugatti.

Essa edição foi dominada amplamente pelos franceses, principalmente pela Peugeot que parecia estar a caminho de vencer pela segunda vez em Indianápolis quando uma série de problemas de pneus apareceram nos carros de Goux e Boillot - este último abandonou na volta 141 por conta do estouro de um dos pneus. Goux resistiu na prova, chegando inclusive na mesma volta do vencedor, mas com a chances de vencer muito reduzidas ao fechar em quarto.

René Thomas conquistou a vitória, seguido por Arthur Duray e Albert Guyot. Foi a primeira conquista de Thomas em Indianápolis, local que ele ainda visitaria outras três vezes: foi pole na edição de 1919 e terminou em 11°; terminou em segundo em 1920; e abandonou em 1921 após um rompimento da mangueira de água. Em 1919 e 1920 ele pilotou um Ballot e em 1921 um Sunbeam.

Hoje completa 137 anos do nascimento de René Thomas. 

segunda-feira, 6 de março de 2023

GP do Bahrein - Ainda é cedo, mas...

 

A largada do GP do Bahrein, que abriu a temporada 2023 da Fórmula 1


Essa abertura do Campeonato Mundial de Fórmula-1 deixou uma impressão que chega soar como algo de doido: em que prova que Max Verstappen e Red Bull vão sacramentar os dois campeonatos? A superiodade deste duo nos faz regressar a momentos clássicos como 1992 com Nigel Mansell/ Williams ou 2004 com Michael Schumacher/ Ferrari.

É um exagero, afinal apenas o primeiro passo foi dado em Sakhir, mas esta impressão fora do eixo ainda no começo é por conta de equipes que deveria estar na cola deles, terem iniciado o campeonato batendo cabeça com seus bólidos: Ferrari e Mercedes ainda precisam desvendar - ou arrumar - suas crias para que possam desafiar o poder de fogo mostrado pelos rubro-taurinos.

A Ferrari é que pode, neste momento, conseguir algo frente a Red Bull, mas precisará lidar com o desgaste de pneus que apareceu bem acentuado neste GP e ficar de olho nos problemas que apareceram no motor de Charles Leclerc, que abandonou a corrida quando era terceiro por conta de falha elétrica - e claro, ter uma melhor organização nas estratégias e isso foi algo que, a princípio, parecem ter feito de modo correto nesta corrida.

O caso da Mercedes é bem mais complexo: ao que tudo indica, acordaram do seu conto de fadas sobre o zeropod e agora já estão no trabalho para entradas de ar convencionais. Isso sugere que o trabalho será ainda mais árduo que ano passado com o filho rebelde W13. Porém, é algo que dá a impressão de que já estavam esperando que não fosse resultar em grande coisa e por isso já estavam trabalhando em laterais convencionais. De toda forma, esperar algo deles ainda nessa primeira parte do mundial, soa como um verdadeiro devaneio.

Se estas estão perdidas, a Aston Martin, entra de forma positiva nesse balaio e até com vantagem sobre a Mercedes deixando uma boa impressão. O trabalho fabuloso feito por Fernando Alonso e o esforço de Lance Stroll, mostram que o projeto do AMR23 é algo a considerar e ser acompanhado com atenção para ver até onde a equipe pode chegar. Se as atualizações forem corretas, é uma equipe pode tentar beliscar uma vitória em alguma corrida tresloucada.

Falando do restante do pelotão, fica claro que aquele meio está bem bagunçado onde uma corrida é outra pode aparecer equipes para serem a melhor do resto. Times como a Mclaren, Alpine e Alpha Tauri, que deveriam ser as líderes do segundo escalão, não apresentaram grande coisa nessa prova de abertura. Quem devemos observar com atenção é a Williams, que já salvou um ponto logo de cara e teve um rendimento honesto e que nos faz pensar que podem, enfim, passar a lanterna do fundão para outro time.

A verdade é que a próximas duas provas, na Arábia Saudita e Austrália, nos dará uma visão mais clara de onde cada equipe possa estar.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Foto 1021: Jean Pierre Jabouille, 300km de Nurburgring 1976

 


O grande Jean Pierre Jabouille com o Alpine Renault A442 Turbo no final de semana dos 300km de Nurburgring, prova que abria o Mundial de Marcas de 1976.

Não era nenhuma novidade o avanço da Renault com o seu motor turbo nas competições naquela segunda metade da década de 1970 e, claramente, com os olhos já voltados para entrar na Fórmula-1 em 1977. Mas antes dessa aventura, a fábrica francesa estava com esforços concentrados nas provas de endurance - justamente para ajudar no desenvolvimento de seu V6 Turbo. 

Após um titulo esmagador no Campeonato Europeu de 2 Litros em 1974 (equivalente ao European Le Mans Series), o próximo passo foi ingressar no Mundial de Marcas de 1975 com um A441 do ano anterior adaptado para este certame, enquanto que o novo A442 estava sendo finalizado para estrear em Dijon. Apesar das declarações mais contidas de Jean Terramorsi, então chefe da equipe francesa, indicava apenas um ano dedicado para desenvolver o projeto e era 1976 o alvo principal. Como corridas de carros nunca são uma ciência exata, foi com enorme surpresa que todos viram o Alpine Renault #5 de Gerard Larousse/ Jean Pierre Jabouille vencerem a os 1000km de Mugello com um volta de vantagem sobre o Alfa Romeo 33 T 12 de Jacky Ickx/ Arturo Merzario. Uma surpresa para aquela estréia despretensiosa na segunda etapa do Mundial - a primeira foram as 24 Horas de Daytona, mas apenas os GTs que participaram. 

Uma inesperada vitória mudou um pouco o pensamento dos franceses que já alimentavam esperanças para decorrer do campeonato, mas o certame lhes dariam algumas dores de cabeça com a confiabilidade do novo A442 Turbo. Isso obrigou-os a se retirar de algumas etapas (1000km de Spa e 1000km de Pergusa) para resolver essas questões. Aos menos ficou a boa impressão de que o carro era veloz, bem mais que seu rival direto o Alfa Romeo 33 T 12. Por outro lado, o Alfa Romeo sobrava em confiabilidade. O título de 1975 ficou para a Alfa Romeo que chegou aos 140 pontos, enquanto que a Alpine Renault ficou em terceiro com 54. A Porsche, com os seus já surrados 908, ficou na segunda posição marcando 98 pontos.

Voltando à foto que encabeça o post, esta foi da abertura do Mundial de Marcas de 1976 e que dava aos franceses uma grande expectativa de que, agora, as coisas fluíssem da melhor forma possível. E este sentimento ficou reforçando quando Patrick Depailler levou o Alpine Renault A442 Turbo à pole no Nordschleife com a marca de 7'16''900, mais de dois segundos melhor que a marca de Rolf Stommelen com o Porsche 936 que ficou com o segundo lugar e mais de cinco segundos à frente do outro Alpine conduzido por Jabouille. Um desempenho monstruoso naquela qualificação.

Mas o que poderia ser um passeio para os carros franceses, tornou-se numa grande decepção quando a prova teve seu inicio sob chuva. Jabouille teve uma melhor partida, mas Depailler não vendeu barato e arriscaria por fora na Nordkehre (que ficava logo após a reta que passava por detrás dos boxes). Jean Pierre Jabouille, em entrevista concedida à Simon Taylor para a MotorSport, relembrou o episódio: “Patrick estava na pole, eu era terceiro, mas fiz uma boa largada e assumi a liderança imediatamente, imperativo porque estava chovendo e se você não estivesse na frente seria impossível
ver qualquer coisa”
 relembrou Jabouille, que completaria “Eu freei bastante tarde para uma descida à esquerda, mas Patrick tentou me seguir e deslizou com força para as barreiras. Não havíamos nos tocado, mas bati em uma tampa de drenagem, caí de lado e bati. Todos os gerentes da Renault estavam lá e depois de cerca de um quilômetro os dois carros estavam fora. Eles ficaram absolutamente lívidos, não tanto comigo, mas suspenderam Patrick pelas próximas três corridas. Acho que foi algo inédito no esporte…” . Patrick ficou de fora das 4 Horas de Monza, 500km de Imola e 24 Horas de Le Mans, voltando para as 4 Horas de Enna-Pergusa em parceria com Jacques Laffite. 

Para a Renault Sport - chamando-se assim a partir de Le Mans após a empresa ter comprado a parte de Jean Rédélé na Alpine - foi uma temporada frustrante: não venceram nenhuma prova, assistindo todo domínio da Porsche com o seu 936 e sofrendo com vários problemas de confiabilidade que voltaram a assombrar a equipe. Como melhor resultados ficaram em segundo em Monza (Henri Pescarolo/ Jean Pierre Jarier) e um segundo e terceiro nos 500km de Dijon (Laffite/ Depailler e Jabouille/ Jarier). Em Le Mans, onde os olhares estavam voltados, a pole position foi garantida com Jabouille ao volante, mas ele, junto de Jose Dolhem e Patrick Tambay, abandonariam na 11ª hora de corrida após uma quebra de pistão. 

Jabouille conquistaria o seu sonhado título de F2 naquele ano de 1976 ao derrotar René Arnoux por um ponto (53 x 52), conciliando com os exaustivos testes da Renault visando a entrada da equipe na Fórmula-1 em 1977. 

Jean Pierre Jabouille morreu no último dia 2 de fevereiro em Paris.

FOTOS: AUTO-HEBDO/ FASTLANE

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Sebastião, O Venerável

 



Despedidas nunca são legais. A carga emocional em qualquer que seja a situação, sempre deixa as pessoas mais vulneráveis, ainda mais quando se tem um trabalho a ser feito. Mas estes super-esportitas tem um poder de concentração absurdo e acabam entregando o melhor quando vão para o "campo de batalha". Sebastian Vettel, ontem, por exemplo, foi um desses casos.

Desde o anúncio de sua aposentadoria das pistas em julho deste ano, imaginávamos que cada corrida seria uma despedida. Falando particularmente de Interlagos, sua passagem foi marcante: desde antes das atividades, foi um dos pilotos mais procurados. Fotos, vídeos, conversas com os fãs, conselhos... Seb recebeu um grande carinho de seus adoráveis fãs que o apoiam desde a sua primeira corrida na categoria e que se apaixonaram de vez quando ele conquistou a memorável vitória em Monza 2008. E toda essa veneração foi ampliada no desfile dos pilotos, com ele fazendo questão de ficar mais para o fim do pelotão saudando todos que gritavam seu nome. Um ato de reconhecimento e respeito de ambos os lados.

Sebastian Vettel passou a fazer parte da vida da maioria e quando olharem para o grid de largada do GP do Bahrein de 2023, a saudade baterá forte como se ele fosse alguém da família que resolveu ir embora e que vai aparecer uma vez e outra para um olá em algum GP da próxima temporada, para matar as saudades de uma casa que o acolheu desde 2007 e onde foi rei por 4 vezes.

Falando especificamente de sua brilhante carreira, o cartão de visitas em Monza 2008 é um dos grandes momentos da história moderna da Fórmula-1 onde ele soube domar um carro de meio de grid frente ao poder de fogo de uma Mclaren e Ferrari justamente dentro de um dos templos do automobilismo mundial. Se ele e a Toro Rosso se apresentaram ao mesmo tempo ao mundo dos vencedores, alguns meses depois ele levaria o restante do conglomerado da Red Bull ao topo dos vencedores e a partir dali, construir um período de glórias. Seja a fórceps (2010 e 2012), seja aniquilando os rivais sem piedade (2011 e 2013), Vettel cravou seu nome com propriedades. Foi uma era dourada.

A pena que fica nisso tudo foi a sua passagem pela Ferrari, um lugar que ele almejava há muito tempo que era fonte de sonhos pela mágica passagem de seu ídolo Michael Schumacher. A desorganização da equipe italiana o privou de conquistar, ao menos, um título das duas possibilidades que ele teve.

Seus dois últimos anos na Aston Martin, indo para lá ajudar na construção de equipe que retornava à categoria após 60 anos, poderia ser um indicativo de ressurgimento, principalmente por conta de sua boas atuações e dois belíssimos pódios conquistados em Baku e Hungaroring em 2021. Porém, uma temporada de altos e baixos em uma equipe que pareceu totalmente perdida neste 2022, foi a gota d'água para que Vettel repensasse tudo e decidisse sair para cuidar de sua vida fora das pistas.

Vettel também passou a olhar mais para fora da categoria, alertando para os problemas externos que todos tem sentido na pele, seja pelas condições da natureza/ climática, pelos direitos humanos... Vettel, ao lado de Lewis Hamilton, tem formado nos últimos anos um duo dinâmico que abraçou as causas sociais, aproveitando-se de sua imagem perante um público que os acompanham desde sempre e também junto daqueles que têm chegado para acompanhar a categoria nos últimos anos, para deixar as mensagens e alertas para que façamos a nossa parte e ajudemos a transformar um mundo mais amigável e sociável.

Agora Sebastian Vettel sairá para cuidar de sua família e guiar sua prole para um mundo melhor, ensinando-os os melhores valores. O seu vídeo de despedida no Instagram é um resumo de tudo que sempre vimos sobre ele e, com certeza, sua voz e atitudes estarão ecoando mundo afora.

Nos resta apenas agradecer por todos estes anos por aqui e desejar-lhe o melhor sempre.

Até mais, Sebastião!

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

GP de São Paulo - Redescobrindo a energia de Interlagos

 

George e Lewis festejando com a galera em Interlagos: a energia caótica de sempre
(Foto: F1 Twitter)

A última vez que eu havia pisado os pés em Interlagos em um dia de Fórmula-1, foi no histórico GP de 2008 que ficou marcado pela fabulosa decisão entre Felipe Massa e Lewis Hamilton que acabou pendendo para o britânico nos metros finais daquela corrida. 

De lá para cá, Lewis elevou a conta para incríveis sete títulos; Felipe Massa, Rubens Barrichello, Nelson Angelo Piquet, Lucas Di Grassi, Bruno Senna e Felipe Nasr encerraram as sua participações na categoria; Jenson Button e Nico Rosberg conquistaram seus campeonatos; Sebastian Vettel varreu os campeonatos de 2010 à 2013; Max Verstappen tornou-se campeão mundial. Enfim, muita coisa mudou neste meus 14 anos de ausência. 

No entanto, foi bom ver o nosso autódromo novamente efervescente em dias de Fórmula-1 sem ter um piloto brasileiro no grid, mas tendo adotado Lewis como um filho nosso após a apoteótica conquista de 2021 que teve como momento maior ele empunhando a bandeira brasileira num gesto que tão bem conhecemos. Para quem não tinha visto, foi um máximo. Para nós, os saudosistas, foi um resgate momentâneo de uma das grandes imagens que guardamos com carinho de um era onde "Éramos Reis". 

Mas a sina principal dessa senhora pista de 82 anos tem sido de proporcionar a todos momentos espetaculares e que ficaram cravados nas nossas retinas, como se fosse um grande filme digno de recorde de bilheteria. 

O melhor de tudo, nessa saga que tem sido nos últimos anos, é que Interlagos passou a ter o poder de decidir quem deve ganhar a corrida, assim como seus co-irmãos mais velhos como o Indianápolis Motor Speedway, Autodromo Nazionale de Monza, Le Mans e por aí vai. A cada ano que passa fica claro que aqui é um lugar perfeito para que voltasse a encerrar o campeonato.

Lugares assim são mágicos e a velha Interlagos de guerra tem feito para entregar aos fãs e pilotos a melhor experiência possivel. 

Magia pura. Só isso!


Russell, o dono das tardes em Interlagos

Um final de semana dos sonhos para o jovem inglês
(Foto: Mercedes Twitter)

O mais interessante de tudo é que George Russell marcou presença nos três momentos cruciais deste 2º GP de São Paulo: a sua escapada na freada no final da Reta Oposta, quando encontrou uma pista bem escorregadia por conta da chuva que estava bem mais forte, decidiu as coisas à favor de Kevin Magnussen para que o dinamarquês conseguisse largar da pole na corrida Sprint. 

Na Sprint - que relatada aqui por este que vos escreve - Max e George superaram Magnussen ainda nas primeiras voltas e o piloto britânico não deixou o bicampeão escapar em nenhum momento, mostrando uma incomum combatividade até conseguir ultrapassar Verstappen e despachar o piloto da Red Bull para uma vitória convincente numa bela tarde de sol em Interlagos.

O domingo prometia uma disputa até interessante: será que a Red Bull, que havia tido um desempenho abaixo do esperado, reagiria? As respostas começaram a ser respondidas com a ótima largada de George Russell seguido por Hamilton e logo em seguida Max. O acidente entre Daniel Ricciardo e Kevin Magnussen no Pinheirinho forçou a entrada do SC e após a relargada foi a vez de Lewis e Max reviverem a rivalidade de 2021 com um entrevero que custaria 5 segundos para Verstappen e futuramente uma chance de vitória de Hamilton, com os dois caindo na classificação. 

Para George restou apenas manter-se a frente e controlar algum avanço que Sergio Perez pudesse fazer. Num ritmo impecável e com a corrida na mão, ele apenas administrou a diferença que o separava de Hamilton - que fez uma belíssima recuperação - para conseguir uma emocionante primeira vitória na F1 e também da Mercedes nesta temporada, que aparentava ser desastrosa por conta do temperamental W13. 

"À minha família, meus amigos, meus companheiros de equipe e a todos que estiveram nesta jornada, obrigado. Não consigo colocar em palavras o quanto o seu apoio significa para mim e o quanto foi um esforço conjunto. Essa vitória é tanto sua quanto minha. Fizemos isso, juntos. Estou tão orgulhoso de todos vocês.". A fala de George, publicada em seu Twitter, expressa o que há de melhor quando alguém chega no seu objetivo, que é agradecer a todos que possibilitaram chegar neste momento."

Russell tornou-se o sexto piloto a vencer pela Mercedes na F1 (juntando-se a Juan Manuel Fangio, Stirling Moss, Nico Rosberg, Lewis Hamilton e Valtteri Bottas) e o quarto britânico a vencer pela marca alemã em provas de monoposto junto de Richard Seaman, Stirling Moss e Lewis Hamilton.


Os demais...



Lewis Hamilton era um dos que poderiam ter desafiado George naquela tarde de tempo instável em Interlagos, não fosse o enrosco com Max Verstappen logo após a relargada: uma dividida na segunda perna do S do Senna causou alguns estragos para os dois rivais, os jogando para o meio do pelotão. Se para Lewis custou a chance de disputar a vitória, para Max foram cinco segundos ganhos como punição pelo enrosco. Foi o revival dos inúmeros enroscos que estes dois proporcionaram na eletrizante batalha de 2021.

Com uma escalada entremeada pelas paradas de boxe, Hamilton ficou oscilando entre 1,5 a 2 segundos de George sem nunca ter a chance de entrar na zona de detecção do DRS e nem mesmo o uso de asa de menor arrasto, que lhe proporcionava 5km/h a mais que Russell, deu condições para tentar a manobra - já que seu companheiro de Mercedes usava uma asa com maior carga que o ajudava na parte sinuosa de Interlagos. Lewis acabou em segundo, testemunhando a conquista de seu pupilo pela segunda vez naquele final de semana.

Max Verstappen, como já dito antes, não teve o melhor final de semana que todos pensavam. Mesmo se recuperando a fórceps, ainda teve uma rusga das grandes com seu companheiro Sérgio Perez por conta da ultrapassagem que fizera sobre ele já na parte final da corrida. Para o mexicano, que teve uma atuação bem abaixo nas duas provas, a não devolução da posição acabou custando pontos que poderiam ter lhe ajudado na disputa pelo vice contra Charles Leclerc e isso causou um tremendo mal estar na Red Bull. Com a devida rapidez, os panos quentes foram colocados e logo saíram as notícias de que Verstappen faria o que fosse possível para ajudar Perez a chegar ao segundo lugar do campeonato em Abu Dhabi. Porém, sabe-se lá o que vai acontecer no enjoado circuito de Yas Marina...

Falando em rusgas, o clima na Alpine não foi dos mais agradaveis após o toque entre Alonso e Ocon em plena reta dos boxes quando o espanhol tentou passar pelo francês durante a prova Sprint, o jogando para o fim do pelotão. De qualquer forma, foi interessante ver o bicampeão remar da 17ª posição e conquistar um impressionante quinto lugar nos brindando com um ritmo de prova alucinante. Aí sempre ficará a boa e velha pergunta: o que seria dele com um carro competitivo ali entre as três grandes.

Charles Leclerc foi um dos que sofreram com toques na corrida quando se enroscou com Lando Norris no contorno do Laranjinha, ao ser jogado contra a barreira de pneus. Por sorte o Ferrari saiu inteiro e ele pôde voltar para, também, escalar o pelotão e chegar num ótimo quarto lugar. Vai para Abu Dhabi empatado com Sergio Perez em 290 pontos na luta pelo vice-campeonato.

Assim como tem sido corriqueiro, Interlagos entregou o que tem de melhor para seus fãs: emoções em doses bem generosas.

A velha Interlagos de sempre nunca decepciona.

sábado, 12 de novembro de 2022

GP de São Paulo (Sprint Race) - Interlagos e sua sina

 

(Foto: Mercedes F1/ Twitter)

É até repetitivo dizer que Interlagos tem uma magia especial, mas mesmo procurando palavras diferentes para expressar os nosso sentimentos a aquela senhora pista de 82 anos é difícil não citar a mágica que aquela pista exala.

Foi ontem na qualificação para a Sprint Race com a inédita - e impressionante - pole de Kevin Magnussen que se beneficiou da leve chuva que caiu no final do Q3 para conquistar a posição de honra na Sprint Race deste sábado. 

A propósito: Interlagos nos brindou com duas Sprint Race magníficas, já que ano passado foi o palco da primeira grande recuperação de Lewis Hamilton - abrindo um final de semana apoteótico para ele - e a deste ano, onde a surpresa com a pole de Magnussen já era um atrativo. 

O dinamarquês teve uma boa largada e ótimo andamento nas duas primeiras voltas, mas sabia-se que seria difícil segurar o ímpeto do bicampeão Max Verstappen - que logo assumiria a ponta. Porém, a velocidade e ritmo de George Russell, com um W13 que resolveu fazer suas graças nesta parte final de campeonato - mostrou que a batalha pela vitória seria real quando ele também despachou Kevin e ficou no encalço de Max por um bom tempo.

Do mesmo modo, podemos ver Lewis Hamilton escalando desde a sua oitava posição para ficar entre os 4 primeiros e esperar por algum presente dos Deuses. Mas este parecia estar reservado a  Russell que se aproximava ainda mais de Max ao ponto de emparelhar em algumas oportunidades. 

Foi numa dessas que ao aproveitar-se de uma rara velocidade do W13 - que tanto dificultou os Mercedes após a eliminação do porpoising  - para ganhar a primeira posição de Max e disparar na liderança. 

Um irreconhecível Max precisou lutar contra a Ferrari de Carlos Sainz, a ponto dos dois se tocarem na segunda perna do S do Senna, quando Carlos mergulhou para ultrapassar e assumir a segunda posição. 

Isso possibilitou a chegada de Hamilton para reeditar algumas das batalhas de 2021 contra Max. O inglês aproveitou-se de sua ótima velocidade e dos problemas enfrentados por Max, para efetuar a ultrapassagem em plena reta dos boxes e assumir o terceiro lugar.

Foi uma festa e tanto essa primeira conquista de George Russell -  mesmo que ainda tenha sido numa Sprint Race - um piloto de que se espera muito. Sainz salvou o dia para a Ferrari e Lewis levou a outra Mercedes para o pódio, completando a festa das Silver Arrows no autódromo paulistano.

E pensar que ainda tem mais amanhã e Interlagos já entregou tanto.

Que lugar fantástico!

terça-feira, 27 de setembro de 2022

Foto 1020: Reims, Fórmula 2 1969


O grid da Fórmula 2 em Reims bem recheado de estrelas que faziam - e fariam - parte da Fórmula 1 em breve. A primeira fila formada por Jacky Ickx, que marcou a pole com o seu Brabham BT23C #30, tendo ao seu lado Piers Courage (Brabham BT30 #24 da equipe de Frank Williams) e na outra ponta o Tecno 68/F2 #28 de Nanni Galli. Ainda podemos ver a presença de Jackie Stewart com um Matra MS7; Jo Siffert com um BMW 269; Jochen Rindt com um Lotus 59B; François Cevert com um Tecno 68/F2 e Graham Hill, mais ao fundo, com um Lotus 59B. Ao todo largaram 20 carros para esta que era uma das provas extra-oficiais do Campeonato Europeu de Fórmula 2 de 1969, aqui intitulada como "35º Grand Prix de Reims".

Após 35 voltas, a vitória ficou para François Cevert tendo Robin Widdows (Brabham BT23C #40) em segundo e em terceiro Piers Courage. Ickx acabou tendo problemas no motor de seu Brabham, vindo abandonar na volta 10. 

Jackie Stewart fechou em quarto e Galli em quinto;Pedro Rodriguez (Matra MS7) ficou em sétimo; Siffert teve quebra de motor na volta 21; Rindt, Hill e Jean Pierre Beltoise, este último com um Matra MS7, abandonaram por acidente.  

O Campeonato Europeu de Fórmula 2 daquele ano foi vencido por Johnny Servoz-Gavin (Matra MS7 Cosworth) ao marcar 37 pontos, nove a mais que o vice-campeão Hubert Hahne (BMW).