Para quem acompanha o mundial desde a
pré-temporada, sabe que a esperança maior para mudar um pouco as ações durante
as provas era depositada especialmente sobre a Ferrari, devido ao grande
desempenho oferecido nos testes. Mas como bem sabemos, os testes tendem a ser
mentirosos, mas até a prova da China a Ferrari parecia muito forte e próxima da
Mercedes o que nos levava a crer que as evoluções que cada time levasse para as
provas seguintes, seriam como movimentos de peças num jogo de xadrez. Mas para
a maior surpresa, ou nem tanto assim, o fator Red Bull, que andou apagado em
2015, ressurgiu bem já na prova da China. E de lá para cá, tem sido uma pedra
enorme no sapato da Ferrari e também um pedrisco que vira e mexe incomoda a
Mercedes. Como bem falou Luca Di Montezemolo ano passado, a boa fase que a
Ferrari passava naquele momento era mais fruto da queda de rendimento da Red
Bull e Williams, do que de um salto enorme de qualidade. De certa forma eles
melhoraram, mas talvez não tanto assim como imaginassem.
Foram os mais variados problemas do time
até aqui e claro que os mais graves repousam estritamente as falhas no câmbio e
também nas estratégias, que tiraram especialmente de Sebastian Vettel, a
possibilidade de vencer algumas etapas que poderiam deixá-lo em melhores
condições de tentar se aproveitar da fase complicada que Mercedes tem
enfrentado com a guerra entre seus dois pilotos. Mas outro ponto importante é
que o SF16-H tem perdido terreno para o RB12 da Red Bull de forma progressiva.
Porém, assim como o carro italiano, os austríacos também tem tido os seus altos
e baixos nessa ascensão como vimos bem em Baku e Montreal, o que ajudou
bastante a manter a Ferrari em segundo no Mundial de Construtores até aqui. Desde
a prova da China é que temos observado bem este duelo pelo segundo escalão: a
segunda posição de Ricciardo no grid, mais a sua inicial apresentação, andando
no mesmo ritmo das Mercedes (até o furo no pneu que o jogou para o fundo do
pelotão) e a terceira posição de Kvyat, mostrou a real evolução de um carro que
parecia não estar tão próximo assim da Mercedes e Ferrari nas etapas iniciais.
Para a Ferrari, o real confronto com a Red Bull se deu em Barcelona quando o
duo da Mercedes resolveu resolverem as diferenças ainda nos primeiros
quilômetros de prova e se auto eliminando, deixando caminho aberto para uma
luta de gigantes entre ferraristas e rubro taurinos. Apesar das estratégias de
box terem jogado os reais pretendentes a vitória – Vettel e Ricciardo – para
terceiro e quarto, respectivamente, Verstappen e Raikkonen se encontraram com
reais chances de conquistar aquela prova. E foi um momento propício para que
observássemos como as coisas poderiam acontecer dali em diante: com um carro
com muito mais carga aerodinâmica, dava a Max a vantagem de se defender dos
ataques de Raikkonen quando ambos chagassem a grande reta aproveitando
integralmente da melhor eficiência do RB12 nos dois últimos trechos mais
sinuosos da pista espanhola. Não era muito difícil ver que o jovem holandês
conseguia estilingar bem da saída da chicane para ingressar na reta feito um
raio e quando Raikkonen conseguia alcança-lo, já estava em cima da zona de
frenagem. Nem mesmo o uso da asa móvel ajudava. Para Ricciardo era o inverso:
se ele conseguia aproximar-se de Vettel nos trechos já citados, no decorrer da
grande reta Sebastian conseguia abrir bem a diferença. Mesmo assim, Daniel
ainda conseguiu arriscar-se no seu melhor que é “mergulhar por dentro e seja o
que Deus quiser”. A prova espanhola é um bom resumo para se ver em que pé estão
as duas equipes.
Mônaco foi outra demonstração clara de como
a Red Bull está bem: Ricciardo não apenas conquistou uma pole sensacional, como
também esteve em grande forma naquele dia no Principado ao desafiar de forma
imponente a Mercedes de Lewis Hamilton. Não fosse o erro grotesco da equipe na
sua última parada de box, certamente teria vencido, e até com certa folga. Para
mostrar o quanto que este carro rubro taurino é bom em condições que precisam
de altas cargas aerodinâmicas, Max Verstappen estava se redimindo do seu erro
na classificação ao fazer uma exibição de gala e abrir caminho na estreita
pista com ousadas ultrapassagens, até achar o guard-rail no Cassino. Para a
Ferrari, sobrou a quarta posição de Vettel numa prova bem apagada do time que
ainda seria eclipsada pela Force India de Sergio Perez, que terminou logo a sua
frente.
Arrivabene jogou na mesa que veríamos uma
outra Ferrari à partir de Montreal, e ele não mentiu: uma corrida tão
fantástica de Vettel que merecia de fato a vitória, mas a estratégia mal feita
pelos italianos acabou deixando o alemão na segunda posição num momento que ele
tinha um carro superior a Hamilton. Para Red Bull, que já esperava algumas
dificuldades por conta da natureza da pista da Ilha de Notre Dame, o que restou
a comemorar foi a ótima performance de Max Verstappen frente ao assédio nas
voltas finais de Nico Rosberg. Em Baku, as coisas pareciam pender para a Red
Bull, principalmente após a ótima segunda colocação de Ricciardo no grid, mas
na corrida foi a Ferrari, com Vettel, que deu as cartas e terminou em segundo.
A prova austríaca foi um pouco mais
equilibrada, mas com ligeira vantagem para a Ferrari. O problema no pneu de
Vettel, num momento que ele se preparava para tentar uma estratégia diferente e
surpreender a Mercedes, deu à Red Bull a chance de chegar ao pódio e que foi
agraciado após o entrevero dos dois Mercedes na volta final, dando à Max a
chance de chegar em segundo, logo a frente de Raikkonen que o pressionava fortemente.
Neste duelo particular entre os dois times,
talvez a maior lavada tenha sido vista exatamente nesta prova de Silverstone,
quando a Ferrari não se encontrou bem desde os treinos e a Red Bull,
representada pela figura de seu “golden boy” Max Verstappen, conseguiu desafiar
a Mercedes de Rosberg de forma forte e viril com direito a uma ultrapassagem de
mestre do jovem holandês sobre Nico na saída do complexo das rápidas Maggots,
Becketts e Chapel. E este desempenho apagado da Ferrari, traduzido num até
muito bom quarto lugar de Raikkonen e num péssimo nono lugar de Vettel, está
gerando um desconforto na Rossa que forçou até Sergio Marchionne a realizar uma
reunião de urgência com equipes técnicas da equipe. E as coisas precisam ser
fortes e incisivas, uma vez que Hungria e Hockenheim, a primeira vista,
favorecem os carros da Red Bull.
Não tivesse a presença da Mercedes na disputa, a batalha pelo título mundial
seria extremamente apertada entre estes dois times.