A atmosfera em Sarthe sempre foi sensacional e mesmo estando
a milhas e milhas de distância, conseguimos perceber o quanto que aquele local
exala automobilismo em seu estado puro. Um local santificado que agora acolhe a
final do World Endurance Championship e o seu palco está para lá de preparado
para mais uma edição fabulosa.
Sabemos que a luta na LMP1 não será das mais fáceis para as
demais equipes que compõe essa classe ao lado da Toyota, mas ainda existe uma
luz no final do túnel se julgarmos pelo que foi visto nos treinos realizados em
Sarthe desde a quarta. Em tempos de voltas, SMP e Rebellion conseguiram ficar
bem próximas da Toyota perdendo, no máximo, um segundo. Algo bem diferente do
que foi visto há doze meses lá mesmo em Sarthe. Na classificação final, o SMP
#17 ficou míseros dois décimos do Toyota #8 (segundo colocado) e a seis do
Toyota #7 que foi o pole. A distância total do pole para o sexto colocado, o
Rebellion #1, foi de 1’3 segundos de vantagem. Para se ter uma idéia, a pole de
2018 feito pelo Toyota #8 foi na casa de 3’15’’377, enquanto que o terceiro colocado – o Rebellion
#1 – ficou a quatro segundos do melhor tempo. Um massacre.
Outro ponto a ser abordado e que pode ajudar estas equipe na
largada e primeiras voltas, é a velocidade de reta. As cinco primeiras posições
neste quesito pertencem a cinco carros dos P1 não híbridos: SMP #11 lidera a
tabela com 347 Km/h com o gêmeo #17 em segundo (346 Km/h); os Rebellion #1 e #3
em seguida com 341 e 339 Km/h e o #10 da Dragonspeed em quinto com 337 Km/h. Os
dois Toyotas (#7 e #8 respectivamente) parecem em 11º e 12º no quesito com
iguais 334 Km/h. Uma desvantagem de 13 Km/h que pode bem fazer diferença caso
algum dos não híbridos consiga segui-los de perto após a largada e arriscar de
um modo seguro – ao contrario do que fizera Lotterer ano passado, ao atacar
fortemente os Toyotas antes da Dunlop Curve e estragar a corrida do trio ainda
na largada.
Apesar de todas essas situações, temos que levar em conta
que a Toyota tem se segurado bastante nessa corrida. A prova do ano passado foi
um caso, onde os dois carros japoneses passaram todas as 24 horas comboiando um
ao outro sem correr grandes riscos – excetuando os momentos críticos de dobrar grandes
tráfegos. E outra: as lições do passado onde eles fizeram provas espetaculares,
tendo o carro mais veloz do grupo, lhes trazem amargas lembranças e que
certamente deu a eles o caminho certo para que pudessem fazer aquela prova
conservadora de 2018 – mesmo sabendo da superioridade técnica sobre a horda dos
não híbridos.
Na LMP2 a batalha tende a ser tensa. Os cinco primeiros
estão no mesmo segundo e do primeiro até o oitavo 1’’5 de diferença. A pole foi
feita pelo #39 da Graff em 3’25’’073, mas acabariam por perder a posição por
não terem parado para a pesagem obrigatória que era feita ao final do Qualy 3. Com
isso, a posição de honra acabou no colo da TDS Racing com o seu #28, seguido
pelo #31 da Dragonspeed e o #36 da Signatech Alpine. Interessante observar que
o #31 da Dragonspeed esteve muito bem na classificação até o derradeiro
qualificatório onde acabou perdendo terreno para os demais, mas sempre ficando
entre os três primeiros. É uma equipe a se considerar na luta pela vitória,
ainda mais tendo o pé pesado de Pastor Maldonado ao volante. A Signatech Alpine
saindo em terceiro sabe bem o caminho das pedras para vencer em Sarthe como
ficou comprovado em 2018, enquanto que rivais mais clássicos, como a Jackie
Chan DC, parte de sétimo com o #38 e de 12º com o #37. Se bem que eles também
conseguem subir na classificação, como ficou comprovado ano passado quando saíram
de 10º e 11º e levou o #37 ao quarto lugar e o #38 ao sexto. A G-Drive, outra
equipe clássica da P2, sairá da quinta colocação com o seu #26. Isso sem contar
na própria Graff que parte da 14ª colocação e que no ano passado foi segunda na
classe. Emoções não devem faltar na LMP2.
Talvez o duelo que é mais esperado
remonta a classe LMGTE-PRO, onde a Aston Martin - com o #95 - fez a pole,
seguida pelo Ford GT #67 e pelo Corvette #63. Mas o BOP de performance feito
hoje em Sarthe acabou por "amansar" os Aston com a diminuição da potência
do turbo e também da capacidade do tanque de combustível, caindo de 97 para 95.
Outra mudança foi em relação ao peso, mas nesta quase todos os carros da PRO
(menos os Corvette) acabaram perdendo 5 kg.
Ainda que esperemos para saber qual o impacto que essas
mudanças terão especialmente para a Aston Martin, a expectativa é que as
disputas sejam as mais ferrenhas. Como bem disse, ainda esperamos para ver como
será o comportamento da Aston frente a essas restrições, mas a maior oposição
pode vir da Porsche que esteve muito bem em todos os treinos e que acabou
falhando no último qualy onde sucumbiu a melhor performance de Aston, Ford e
Corvette. Por falar em Ford, apenas o #67 é que esteve em boa forma. Os outros
carros da marca oval estiveram longe de serem competitivos. A Ferrari também
não teve grande destaque nesta jornada em Sarthe, tendo apenas o #71 da AF
Corse como o melhor dos italianos na oitava colocação da classe. Quem teve uma
pequena melhora foi a BMW que conseguiu se meter entre os cinco primeiros com o
#82. Já o #81 acabou em último (16o) na classe.
Mas a probabilidade de escaladas nessa classe, promete ser
das mais interessantes. E como sempre acontece, é classe de onde se espera as
grande emoções.
Por fim, na LMGTE-AM, a Porsche deitou e rolou ao cravar
cinco carros nas seis primeiras posições. Porém o BOP também deu uma atrasada
nos carros alemães, que engordaram dez kilos. No entanto o único Ford GT
inscrito na classe pela Keating Motorsport, emagreceu 10kg.
Apesar de tudo, a chance de um Porsche vencer ainda é grande.
Mas com esse aumento de peso, é de ficar de olho no Ferrari da Spirit Of Race -
que sempre faz um bom trabalho em Sarthe - e também no Ford GT da Keating.
A previsão é tempo instável em Sarthe desde a largada até a
chegada, com a espera de chuvas - leve e mais pesada - na parte da noite.
E claro, vamos para a 87a da história de Sarthe!