(Foto: fiawec) |
Não é de se estranhar que as duas primeiras etapas do
Campeonato Mundial de Endurance tenham sido as mais emocionantes. Isso é algo
que vem sendo a tônica de um mundial que foi retomado em 2012, exatamente quando
estava completando 20 anos da sua última temporada. Mas certamente não foi
apenas os pegas que deram esse interesse para um inicio tão fulgurante, mas sim
os problemas – dos mais diversos – que as três principais fábricas tem
enfrentado na LMP1.
Sabemos bem que a Porsche tem os carros mais velozes desta
classe, e isso faz deles os favoritos quase que automáticos em qualquer prova.
Isso ficou claro em Silverstone com o ritmo imposto pelo 919 Hybrid #1 e também
pelo #2, mas os problemas abreviaram uma possível vitória para os atuais
campeões: enquanto que Brendon Hartley foi com toda confiança do mundo para
dobrar um Porsche dos GTs e quase teve um pavoroso acidente com o #1, o #2, que
estava próximo de atacar o #7 da Audi, se viu ao contrário quando foi tocado
por um dos Ford GT numa das relargadas e com isso teve que contentar-se com o
segundo lugar, que mais tarde se transformaria em primeiro com a
desclassificação do R18 #7 que teve um
desgaste maior que o permitido no assoalho. Por falar nos co-irmãos, a Audi
teve a sua desforra com a primeira fila no grid de largada e apareceu bem
durante a corrida, com um ritmo convincente dos dois carros. Infelizmente o #8
teve problemas no turbo, que o limou cedo da prova e o #7 esteve sempre em voga
até conquistar a vitória que logo foi retirada depois da vistoria técnica. Para
a Toyota, que até conseguiu um bom trabalho no Prologue em Paul Ricard,
esperava-se um pouco mais, mas mesmo assim ainda conseguiu salvar um pódio com
o TS050 #6 que terminou em segundo após a revisão da tabela final. O #5 não
teve melhor sorte naquela ocasião, após abandonar a corrida com pneu traseiro
estourado.
Se havia sido o caos em Silverstone, as coisas poderiam ter
seguido uma linha mais “normal” na Bélgica, quando o WEC aportou para a disputa
das 6 Horas de Spa neste último sábado. Com uma dobradinha irretocável da
Porsche, era de se esperar uma corrida com os dois gêmeos da casa de Weissach a
discutir a vitória, mas os velhos problemas deram as caras para embaralhar as
coisas na floresta de Ardennes: enquanto que o #1 sofria com dois furos de
pneus seguidos e mais tarde problemas no drive train, o #2 teve pane no sistema
hibrido que cortava pela metade sua velocidade. Isso foi um presente dos deuses
para a Toyota que, com o #5, liderava a prova de forma imaculada – depois de
ter tido um duelo sensacional contra o Audi #8 nos estágios iniciais da prova –
quando uma rara quebra de motor tirou uma boa chance dos japoneses vencerem no
WEC, coisa que não acontece desde as 6 Horas do Bahrein de 2014. Foi uma pena
ver aquela fumaça azul tirar uma chance dessa quando o carro estava na reta
Kemmel... Pior foi o #6, que esteve envolvido em alguns incidentes e que
poderia ter sido o “backup” para tentar salvar o dia da Toyota. A Audi mostrou
bom ritmo em Spa, e desta vez foi o #8 que brilhou com o belo trabalho de seus
três pilotos (Lucas Di Grassi – que se tornou o primeiro brasileiro a vencer
uma prova do mundial de endurance em 29 anos –, Oliver Jarvis e Löic Duval) que
também se livraram de confusões e problemas – apesar de terem entrado no box,
na última intervenção do SC, para reparos – para ficarem no lugar certo e na
hora certa e vencerem esta segunda etapa de forma convincente. O #7 não teve
seus melhores dias, mas terminou em quinto. Com todos estes problemas quem mais
agradece é a Rebellion, que pôde colocar por duas provas seguidas o #12 na
terceira colocação. É tanto que a trinca formada por Mathéo Tuscher/ Dominic
Kraihamer/ Alex Impertori é a vice líder do mundial, que tem na primeira
colocação a trinca do Porsche #2 Marc Lieb/ Romain Dumas/ Neel Jani.
Com duas etapas tão caóticas nos termos técnicos e mecânicos
para estas fábricas, fica até complicado pensar que estas passarão as 24 Horas
de Le Mans de forma incólume. Se em provas de seis horas as coisas já foram
tensas, o que esperar em Sarthe? A verdade é que até lá é bem possível que
consigam sanar os problemas mecânicos e torcer para que nada de anormal nesse
campo, apareça logo na prova principal do campeonato. Outro fator interessante
é que nem Audi e Porsche contarão com o seu habitual terceiro carro, o que as
deixam vulneráveis se caso acontecer algo com os dois carros principais. É
sempre uma boa ter o terceiro carro, pois você liberar dois para que lutem de
forma visceral pelas primeiras posições, enquanto que o terceiro ficará a
espreita para caso precise entrar em ação. Foi mais ou menos assim que a
Porsche venceu ano passado, quando deixou que o #18 e #17 lutassem contra os
Audis pelas primeiras posições, enquanto que o #19 estava apenas “comboiando” a
batalha. Quando viram que o #18 enfrentava problemas de freios e o #17 se
atrapalhou com os retardatários nas zonas onde tinham bandeira amarela, o #19
apareceu para assumir a liderança e não mais largar para uma vitória histórica.
Este ano será de mais cautela por conta dessas fábricas, o que abrirá uma boa
chance para que a Toyota, agora em pé de igualdade, possa tentar beliscar a sua
tão sonhada vitória em Sarthe.
Com tantas variáveis assim, quem sabe uma “zebrassa” histórica
possa cavalgar por aquelas bandas. Do jeito que tem sido até aqui, até a
Rebellion pode tentar sonhar com algo maior na maior prova automobilística do
planeta.
E sonhar não custa nada. Claro.
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