(Foto: Abril/Quatro Rodas) |
Nestes quase cinco anos de blog foram
poucas as vezes que dei alguma ênfase aos testes de pré-temporada – a não ser
colocar os tempos obtidos em cada dia -, por imaginar que na maioria das vezes
elas são ilusórias. Alguma equipe pode dominá-las totalmente, fazendo com que
imprensa e fãs apontem-a como a grande favorita e quando esta alinhasse para as
primeiras corridas do ano, poderia muito bem ser um grande fiasco. Enquanto
isso, aquele time que passou todo inverno vagueando pelo meio do pelotão e em quase
nenhum momento mostrou algo de concreto, simplesmente domina todo - ou boa
parte – das corridas e torna-se a grande sensação. É claro que faz parte do
jogo você acertar ou errar, mas preferi sempre ficar observando as ações
durante essa época da F1. Porém, com essa mudança de regulamentos, achei
conveniente expressar a minha opinião do que vi nestes doze dias de testes
entre Jerez e a dupla bateria em Sakhir.
Quem
levou a melhor? Para quem acompanhou os tempos,
notícias e comentários, não é novidade que os carros com motores Mercedes foram
os grandes nomes desta pré-temporada. Ao todo foram onze dias com os
propulsores alemães na frente (McLaren, Mercedes e Force India 3 cada; Williams
2) o outro dia ficou por conta da Ferrari, em Jerez.
A confiabilidade passada pela Mercedes,
tanto para a equipe de fábrica, quanto para os clientes, foi positiva e poucos
problemas relacionados ao motor foram notificados. Isso traz um bom presságio
para as quatro equipes que usam este motor. A Ferrari também pode comemorar, de
certa forma, já que tiveram problemas, mas nada alarmante – apenas a Marussia e
Sauber é que enfrentaram contratempos, mas que foram resolvidas e ambas pôde
realizar a sua programação. Pelos menos não foi nada parecido com a Renault,
que enfrentou vários problemas desde Jerez com as suas equipes clientes devido
a refrigeração dos seus motores. O mais grave dos problemas ainda repousa sobre
a Red Bull, devido – principalmente – a um carro concebido por Adrian Newey
que, como todos sabem, privilegia a aerodinâmica em sua totalidade durante a
concepção do carro. Devido a isso a falta de espaço para refrigerar o propulsor
francês e daí o alto número de quebras. Toro Rosso e Caterham amenizaram um
pouco estes contratempos, mas não o eliminaram. A Lotus, que optou em não
testar em Jerez, aparecendo apenas na segunda sessão no Bahrein, também tem
feito companhia para a Red Bull neste calvário. Mas ao menos poderão alegar que
tudo isso é por conta da baixa quilometragem do E22 – a Lotus, nestas duas
rodadas de testes em Sakhir, completou 196 voltas, cem a menos que a Red Bull
(contando apenas estes testes no Bahrein).
O
desempenho: Interessante observar a tabela dos
tempos de cada dia e depois a somatória geral ao final dos quatro dias. Em
Jerez, por exemplo, os pilotos estiveram impedidos de usar a potência dos
motores em sua totalidade, daí o fato da melhor marca ter ficado em torno de cinco
segundos mais lenta que a alcançada por Massa durante os testes de 2013 (Massa
fez na casa de 1’18 contra 1’23 de Magnussen neste ano). Porém, já em pista
barenita, com os pilotos podendo explorar o máximo de seus carros, a marca de
Nico Rosberg foi de 1’33’’283 ficando a 0’’953 acima da pole que foi
estabelecida por ele ano passado. Uma boa volta que ele mesmo admitiu ter
conseguido devido a pouca gasolina no tanque. Felipe Massa, no penúltimo dia da
última bateria de testes, bateria a marca de Rosberg ao fazer 1’33’’258 (0’’928
acima da pole de 2013), mostrando que os carros com motores V6 Turbo parecem
não ser a catástrofe que aparentavam... Ao menos pelos lados da Mercedes.
A Ferrari ficou sempre em colocações
próximas aos dos carros com motores Mercedes. Tomando em conta apenas os testes
em Sakhir, a média dos tempos da “Rossa” oscilou entre 1’34 e 1’36 o que faz
crer que a equipe tenha optado por trabalhar o carro para o GPs. Isso me faz
imaginar as caras de poucos amigos que Alonso e Raikkonen poderão mostrar ao
fim das classificações... a média de tempo entre ela e a Mercedes e Williams
neste ficou na casa de um a dois segundos de desvantagem. As outras duas
equipes impulsionadas pelos Ferrari, Sauber e Marussia, tiveram desempenhos
quase parelhos: se em Jerez eles estiveram bem próximos nos tempos, a Sauber
teve uma boa vantagem sobre a equipe russa na segunda bateria. Porém, na
terceira parte dos testes, a Marussia voltou a incomodar os suíços. Numa
análise fria, a equipe russa pode fazer um bom papel nestas primeiras corridas
enquanto que a Sauber deve demorar a se acertar.
No panorama das equipes Renault, a coisa
andou bem nebulosa nos primeiros testes, mas que aparentemente clareou uma
parte nesta última rodada de testes: a Toro Rosso terminou com a melhor marca
entre os Renaults e num geral, computando os resultados desde Jerez, pode-se
dizer que foi a melhor das clientes – principalmente nestes últimos dias com
Vergne ficando próximo do tempo de Hulkenberg e Kvyat a dois décimos de
Magnussen. A Caterham conseguiu apresentar um bom ritmo até a segunda parte do
programa, que veio a despencar neste último. Mas foi a equipe que mais andou
com o Renault, completando 626 voltas nestes doze dias. Com relação à Red Bull
talvez foi a que mais tenha sofrido com os motores franceses devido ao
superaquecimento, que já dito aqui. Mas a construção do carro ajuda bastante
nesta falta de refrigeração. Tão pior, ou igual a eles, a Lotus, que preferiu
participar dos testes a partir da segunda rodada, enfrentou problemas a rodo em
Sakhir com o motor e também na parte mecânica do carro.
Partindo para os difamados motores V6 Turbo,
estes apresentaram boas performances na pista barenita, principalmente em reta.
Fernando Alonso, em um destes oitos dias, chegou a cravar a marca de 336 Km/h
no final de uma das retas do circuito, levando Nico Rosberg a acreditar que
eles possam chegar aos 360 Km/h em Monza... seria nada mal para um motor que
tem sido tão criticado. O barulho também não está todo mal: o ronco abafado e o
barulho da turbina nas retomadas de velocidade são bem agradáveis – pelo menos
para mim –, mas para quem gostava do barulho estridente dos saudosos V10 e V8,
a crítica continuará por um bom tempo. A digiribilidade dos carros também mudou
devido à baixa carga aerodinâmica, fazendo com que saia mais de traseira na
saída de curva. Pelo menos a Pirelli caprichou nos pneus deste ano e talvez não
vejamos aquela “farofeira” no canto das pistas e nem os pilotos andou cinco,
seis voltas e correndo para trocá-los.
(Arte: Caio Signorelli) |
(Arte: Caio Signorelli) |
Resultado Geral
Bahrein - Circuito de Sakhir
Testes de
Pré-Temporada- Terceira parte
Fórmula-1 – Soma dos tempos
1. Felipe Massa (BRA/Williams-Mercedes) 1m33.258
2. Lewis Hamilton (ING/Mercedes) 1m33.278
3. Nico Rosberg (ALE/Mercedes) 1m33.484
4. Valtteri Bottas (FIN/Williams-Mercedes) 1m33.987
5. Fernando Alonso (ESP/Ferrari) 1m34.280
6. Sergio Pérez (MEX/Force India-Mercedes) 1m35.290
7. Kimi Raikkonen (FIN/Ferrari) 1m35.426
8. Nico Hulkenberg (ALE/Force India-Mercedes) 1m35.577
9. Jean-Eric Vergne (FRA/Toro Rosso-Renault) 1m35.701
10.Daniel
Ricciardo (AUS/RBR-Renault) 1m35.743
11.Kevin Magnussen (DIN/McLaren-Mercedes) 1m35.894
12.Daniil Kvyat (RUS/Toro Rosso-Renault) 1m36.113
13.Adrian Sutil (ALE/Sauber-Ferrari) 1m36.467
14.Max Chilton (ING/Marussia-Ferrari) 1m36.835
15.Jenson Button (ING/McLaren-Mercedes)
1m36.901
16.Jules Bianchi (FRA/Marussia-Ferrari)
1m37.087
17.Esteban Gutierrez (MEX/Sauber-Ferrari)
1m37.303
18.Sebastian Vettel (ALE/Red Bull-Renault)
1m37.468
19.Marcus Ericsson (SUE/Caterham-Renault) 1m38.083
20.Kamui Kobayashi (JAP/Caterham-Renault)
1m38.391
21.Romain Grosjean (FRA/Lotus-Renault) 1m39.302
22.Pastor
Maldonado (VEN/Lotus-Renault) 1m40.599
Com relação às marcas alcançadas por cada piloto e
destacando a ótima performance dos clientes da Mercedes, a única dúvida que
fica nestas “Flying Laps” é se eles conseguiram elas em poucas voltas ou tiveram
uma longa sequência no mesmo segundo. Isso indicaria, por exemplo, se de fato o
carro é forte suficiente até mesmo durante a corrida ou se apenas essas marcas
podem ser alcançadas em classificações. Mas baseando-se no que disse Rosberg
sobre a sua melhor marca na segunda bateria de testes, é bem provável que seja
desempenho para classificação.
O
que esperar nestas primeiras corridas? Acredito que
Mercedes e Williams serão as mais fortes nas classificações e os tempos delas
nas tabelas das três sessões de testes mostram bem isso. Talvez eu possa
inserir a McLaren nessa batalha também, mas a última bateria de testes mostrou
uma equipe mais apática devido, quem sabe, por estarem trabalhando em ritmo de
corrida. A Ferrari está em pé de igualdade com a Force India neste quesito de
velocidade pura. Portanto é provável que sejam estas as cinco equipes presentes
no Q3 destas primeiras corridas. O restante deve sair nos tapas para quem sobe
até o Q2...
Olhando para as corridas, já acho que essa
vantagem de Mercedes e Williams não será tão latente. McLaren, Force India e
até a Ferrari pode embolar a briga pela dianteira tornando a corrida totalmente
imprevisível. E ficarei atento a Ferrari, principalmente neste quesito...
A verdade é que a Formula-1, com todas
essas mudanças, trouxe de volta a categoria o fator da imprevisibilidade que
ficou cravada nos anos 90. Não estranhem se houver muitas quebras em Melbourne,
no dia 16 de março. E muito menos se o vencedor da corrida seja aquele ninguém
apostava um centavo furado...