domingo, 18 de outubro de 2015

Os 25 anos do Bi: O troco - Parte 2



Alesi brilha na abertura, o erro de Senna em Interlagos e o equilíbrio no primeiro quarto do mundial

Senna e Alesi brindaram a abertura do mundial com um duelo limpo e espetacular nas ruas de Phoenix
A abertura do mundial deu-se nas ruas de Phoenix, no Arizona, para a disputa do GP dos EUA. Apesar de todo o entusiasmo em ver o desempenho de Ayrton Senna, sob os olhares rigorosos da FISA, e da estréia de Alain Prost pela Ferrari, o que se viu na tomada de tempos para a corrida foi a formação de um grid totalmente inesperado: devido a chuva e a boa performance dos pneus de qualificação da Pirelli, Pierluigi Martini, Andrea De Cesaris e Jean Alesi, conseguiram ocupar a segunda, terceira e quarta colocações no grid. Para completar o pacote de surpresas, Gerhard Berger cravou a pole na sua estréia pela McLaren, enquanto Ayrton aparecia num tímido quinto lugar ao lado de Nelson Piquet, que saía em sexto. Roberto Pupo Moreno conseguiu não apenas passar nas pré-qualificações, como também conseguir uma ótima 16ª colocação para a EuroBrun, enquanto que seu companheiro Claudio Langes, ficou nas pré. Mauricio Gugelmin não teve uma boa jornada com a sua Leyton House, da mesma forma que Capelli: os dois pilotos ficaram na última fila.
A prova tornou-se um grande clássico dos anos 90 e da Fórmula-1 pelo fato exclusivo do grande desempenho de Jean Alesi, que assumira a liderança já na largada e começava a impor um grande ritmo sobre Gerhard Berger, que aparecia em segundo. Senna, que optara por uma largada mais conservadora, conseguia chegar ao terceiro posto após superar De Cesaris nas primeiras voltas. O erro de Berger ao bater sozinho na barreira de pneus na nona volta, deixou caminho aberto para que Ayrton conseguisse chegar em Alesi de forma pautada, sem afobação, esperando para que o ritmo alucinante do jovem francês destruísse os Pirelli. Quando estava na 30ª volta é que começou o grande duelo da prova, e porque não dizer, do ano: Alesi já conseguia ver o McLaren de Senna encher o seu retrovisor, mas apenas na 34ª volta é que Ayrton foi ao ataque e o Jean conseguiu rechaçar a tentativa do brasileiro de forma arrojada e limpa. Talvez Ayrton tenha estudado bem a manobra do francês e agora ele faria o mesmo ataque, no mesmo local, mas de uma forma que não deixasse espaço para que Jean não tivesse tração suficiente e voltasse à ponta da corrida. Enfim, Ayrton era líder e agora bastava apenas encaminhar-se para uma vitória que havia sido muito bem valorizada por aquela batalha com Alesi. O jovem francês, o grande nome do dia, chegava em segundo, com Thierry Boutsen em terceiro, Piquet em quarto, Stefano Modena num heróico quinto lugar para a Brabham e Satoru Nakajima, fechando o ótimo fim de semana para a Tyrrell, em sexto. Alain Prost teve problemas de câmbio na 21ª volta, enquanto que Nigel Mansell abandonou na volta 49 por estouro no motor. Moreno, que enfrentou problemas no seu EuroBrun, fechou em 13º, cinco voltas atrás do vencedor e Gugelmin também sofreu com a estabilidade no seu March, tanto que as dores nas costas ao final da corrida (ele terminou em 14º) eram terríveis.
Com um circuito totalmente remodelado, tendo saído dos seus originais 7.960 metros para 4.325 metros, a Fórmula-1 voltava a Interlagos após um intervalo de dez anos. Ayrton Senna, para delírio da torcida, marcou a pole e Berger fechou a primeira fila para a McLaren. As outras duas filas seriam de “gêmeos”: Thierry Boutsen e Ricardo Patrese conquistaram a segunda fila para a Williams, enquanto que Mansell e Prost fecharam a terceira para a Ferrari. Nelson Piquet, já sentindo o carro antigo da Benetton não dava combate aos mais evoluídos, marcou o 13º tempo – Nannini também não passou da 15ª posição, confirmando a baixa performance do antigo B189. Os outros brasileiros não tiveram grande sorte: enquanto que Moreno ficou nas pré-qualificações, Gugelmin – e igualmente Capelli – fez o que pôde, mas acabou ficando de fora da corrida ao marcar o 30º tempo.
Prost vencia pela sexta vez o GP do Brasil
Com uma largada segura e precisa, Ayrton parecia estar rumo a sua primeira vitória em solo brasileiro, mas um erro de tempo entre ele e Nakajima pôs tudo a perder quando o brasileiro tentou pôr uma volta no piloto da Tyrrell no Bico de Pato. O toque entre eles acabou quebrando o bico do McLaren, forçando uma ida de Senna aos boxes e automaticamente abrir mão da vitória. Melhor para Prost, que até então não tinha mais hipóteses de vitória e com um presente deste caindo em seu colo – vindo de seu maior rival e dentro da casa deste – era apenas levar o carro tranquilamente até a bandeira – se bem que dores em um dos pés e um barulho estranho o fez abrandar o ritmo, mas não o suficiente para Berger alcançá-lo. O austríaco ficou em segundo, com Senna – que marcou a melhor volta após a sua parada forçada – em terceiro, Mansell em quarto, Boutsen – que teve até chances de vencer, se não fosse problema de freios que ocasionaram um incidente nos boxes forçando uma troca do bico do Williams que o jogaram de segundo para 11º - em quinto e Piquet – que também fizera ótima prova de recuperação – em sexto.
O GP de San Marino se deu exatamente na data que a Fórmula-1 completava seus 40 anos de existência. Na classificação as seis primeiras posições tinham sido quase idênticas ao do GP do Brasil, mas a única diferença era em relação à Patrese que saía à frente de Boutsen. Nelson Piquet, já estreando o novo Benetton B190, conseguiu um bom oitavo lugar. Outra boa jornada ficou por conta de Gugelmin que conseguiria um ótimo 12º lugar após a desilusão em Interlagos. Moreno também passou das prés e alinhava em 24º.
Ayrton teve uma roda quebrada na terceira passagem e abandonou, deixando caminho aberto para que Boutsen, que fizera uma bela largada ao pular de quarto para segundo, assumisse a ponta. Thierry, a exemplo que acontecera em Interlagos, conseguia um bom ritmo e se mantinha à frente de Berger com tranquilidade, mas o azar lhe tirou a chance de algo melhor: o motor Renault estourou na 18ª volta e Berger
Berger jogou duro com Mansell, mas o "Il Leone" foi sensacional para segurar o
Ferrari
subiu para o primeiro lugar, sempre escoltado por Patrese, que mostrara o bom passo da Williams naquele GP. O austríaco ainda teria uma breve batalha com Mansell, que vinha ferozmente no seu rastro. O “Il Leone” tentou uma ultrapassagem na reta que antecedia a Villeneuve, mas uma fechada de Berger o fez passar com duas rodas na grama e protagonizar uma rodada espetacular em plena reta. Mostrando todo seu controle num carro de corrida, Nigel conseguiu segurar-se em pista e continuar sua caça a Gerhard. Mas o motor do Ferrari não agüentou o tranco e o inglês teve que abandonar algumas voltas depois. Patrese começou a ganhar terreno sobre Berger e ultrapassaria o McLaren faltando dez voltas para chegar a uma vitória que não conquistava desde o GP da África do Sul de 1983, quando ainda era piloto da Brabham. Melhor ainda: redimiu-se do erro que lhe tirou a conquista lá mesmo em San Marino, sete anos antes. A segunda colocação foi de Berger, seguido por Nannini, Prost – que errara na escolha de pneus mais duros – Piquet - que se recuperara bem após um toque com Alesi que o jogara para 11º - e Jean Alesi fechando em sexto, garantindo um ponto na estréia do novo Tyrrell 019. Além de Senna, os outros brasileiros também não completaram: Moreno nem completou voltas por conta de problemas no acelerador e Gugelmin encerrou a sua participação na 24ª voltas com problemas elétricos.  

Três corridas, três vencedores diferentes e com três equipes diferentes! Era um mundial muito interessante e de certa forma imprevisível até aquele momento, já que a maioria das apostas era para um domínio revezado entre McLaren e Ferrari, mas poucos apostavam numa (rápida) intromissão da Williams naquele momento e ainda salvo alguns malabarismos de Alesi no meio dos favoritos. E Mônaco, com seu traçado histórico, difícil e cheios de armadilhas, dava vida ao quarto GP daquele ano. Jean Alesi confirmava a sua grande fase ao batalhar contra Senna e Prost a pole-position nos dois treinos, mas esta ficaria para o piloto brasileiro que teve ao seu lado na primeira fila Alain. Alesi partiu de um ótimo terceiro lugar, com Patrese em quarto, Berger em quinto e Boutsen em sexto e Piquet marcou o décimo tempo. Gugelmin não conseguiu qualificar-se para a prova, em contraste ao seu companheiro Capelli, que conseguiu o 23º tempo. Moreno não conseguiu passar da pré-qualificação.
A corrida acabou por ter duas largadas após o enrosco entre Prost e Alesi, onde o tri-campeão levou a pior ao rodar na Mirabeau e ser acertado pela McLaren de Berger. Com o local totalmente bloqueado, a direção de prova teve que dar bandeira vermelha e reiniciar todo o procedimento de largada. Dessa forma, Prost e Berger puderam pegar seus carros reservas e irem para a segunda largada.
Ayrton conseguiu mais manter a liderança, como fizera na primeira partida e abriu grande vantagem. O único contratempo que teve neste GP foi por conta do motor, que apresentou problemas no fim da corrida. Alain
Prost apresentou problemas elétricos em seu Ferrari na 32ª volta e deixou a segunda colocação para que Alesi repetisse a sua melhor posição de chegada na F1 e no ano. Por muito pouco o pequeno francês não conseguiria sua primeira vitória na categoria, ao chegar com um segundo atrás de um problemático Ayrton Senna. Caso tivesse mais uma volta, a vitória poderia ter sido sua...
Berger fechou em terceiro, enquanto que Boutsen, que chegou a tocar-se com Mansell e Piquet, terminou em quarto. A quinta e sexta colocações ficaram para os “sobreviventes” de um GP que teve apenas seis carros chegando ao final: Alex Caffi garantiu dois pontos da Arrows (que seriam os dois únicos da equipe no ano todo) e Eric Bernard garantiu o primeiro ponto para a Larousse após travar um duelo com Gregor Foitek pelo sexto lugar. Um toque entre eles na chicane, na 73ª volta, selava disputa a favor de Bernard e Foitek abandonara em seguida. Nelson Piquet acabou sendo desclassificado quando teve seu carro empurrado pelos comissários na Lowes, após o toque com Boutsen. Menção honrosa a Mansell que, após o entrevero com Boutsen, caiu para 16º e recuperou-se de forma espetacular até chegar ao quinto lugar, mas problemas elétricos o limariam da disputa na 63ª volta.
O primeiro quarto do mundial chegava ao fim e Ayrton liderava o mundial de pilotos com 22 pontos; Berger o segundo com 16; Alesi o terceiro com 13; Prost em quarto com 12; Patrese e Bousten empatados em quinto com 9. A Fórmula-1 seguiria mais uma vez para a América do Norte para os GPs do Canadá e México, para depois retornar à Europa para as clássicas corridas na França e Grã-Bretanha onde a McLaren começaria a ter suas dores de cabeça e Alain Prost, com sua Ferrari, enfim, chegariam ao topo naquela temporada de 1990.   


A reação de Prost e os problemas de Senna

A quinta etapa, o GP do Canadá, viu mais uma vez, a exemplo que acontecera em 1989, a chuva dar as cartas numa pista conhecida por ter corridas caóticas, não importando que esteja sendo disputado no seco ou no molhado.
Ayrton Senna, mais uma vez, marcou a pole seguido de bem perto por Berger – cerca de 0’’066 centésimos – na segunda colocação. Alain Prost aparecia em terceiro, com Nannini em quarto e Piquet em quinto – mostrando bem o passo que novo Benetton B190 apresentava – e Boutsen ocupava o sexto posto. Apesar de ter conseguido passar da pré-qualificação, Moreno esteve perto de conseguir uma colocação no grid ao ficar 59 centésimos de Alex Caffi, que fez a última marca. Gugelmin também esteve próximo disso, ficando logo atrás de Moreno.
A corrida foi uma sucessão de erros por parte dos pilotos, exatamente por conta da mudança nas condições do asfalto que passava de molhado para seco no transcorrer do GP. Pilotos como Boutsen, Nannini, Alesi – este último a protagonizar o grande susto da corrida, ao escapar e bater no Benetton de Nannini que estava a ser recolhido pelos fiscais – acabaram abandonando devido a erros de cálculos em tentativas de ultrapassagens sobre retardatários.
Ayrton acabou por vencer a prova que talvez não fosse para ele: primeiramente pelo problema no câmbio que o fez andar toda corrida sem a primeira marcha; Berger, que poderia ter lhe dado combate, acabou queimando a largada e foi punido. Mesmo caindo para o fundo do pelotão, recuperou-se formidavelmente
(Foto: World Where You Live/ Flickr)
até a quarta colocação mostrando que se não errasse na largada poderia ter discutido a vitória com o seu companheiro de McLaren; Alain Prost era outro que poderia ter incomodado Senna, pois os problemas nos freios foram se agravando até que ele caísse de segundo para quinto nas voltas finais; Nelson Piquet era outro que teria tido sérias hipóteses de sair de Montreal com uma vitória, caso não tivesse perdido tempo atrás de Alain por 29 voltas ao esperar um melhor momento para tentar a ultrapassagem, que aconteceu na 49ª passagem. Todos esses fatores juntos ajudaram bastante Senna, que teve problemas com a estabilidade de seu McLaren e juntando isso ao fato de ter feito quase todo certame sem a primeira marcha, foi de grande sorte ter terminado o GP. Os dois pilotos brasileiros foram ao pódio, formando a penúltima dobradinha brasileira na categoria. Mansell terminou em terceiro, Berger o quarto, Prost o quinto e Warwick, garantindo os primeiros pontos da Lotus no campeonato, em sexto.
O belo circuito dos Hermanos Rodriguez viu o inicio da reação de Prost e Ferrari no campeonato, que estava fadado a ser um passeio de Senna e McLaren. A equipe de Ron Dennis teve mais uma pole para a sua galeria, mas desta vez não era de Senna, mas sim de Berger que cravava a sua segunda na temporada. Patrese fez o segundo tempo, Senna – que optara, segundo ele, em regulagens para a prova, aparecia em terceiro, com Mansell em quarto, Boutsen em quinto e Alesi em sexto. Uma má jornada de Prost com os pneus macios o jogara para 13º colocação. Piquet marcou o oitavo tempo, enquanto que Gugelmin e Roberto Moreno ficaram de fora. No caso do piloto da EuroBrun até que ele conseguiu uma marca que o
deixaria entre os classificados, mas ao ter o seu carro empurrado durante a classificação ele foi desclassificado pelos comissários – a regra de que nenhum carro poderia ser empurrado de voltas à pista caso tivesse problemas, também valia para os treinos. Moreno havia feito o tempo de 1’21’’142, o que lhe daria a 25ª posição.
Apesar de uma boa largada que lhe deu a liderança desde a primeira volta, Senna não chegou ao fim da corrida após liderá-la por quase toda totalidade: um erro de cálculos e, porque não dizer, de toda a equipe McLaren, incluindo o próprio Ayrton – deixou que ele ficasse na pista arriscando terminar a prova sem ter que parar nos boxes. O piloto brasileiro avisou algumas vezes os problemas de instabilidade que começaram aparecer na volta 25, e a insistência da equipe em dizer que estava tudo sob controle acabou custando a vitória. Berger, que recebera ordens de Ron Dennis para que andasse com a pressão dos pneus alta, teve sérios desgastes e já na 13ª volta teve que ir aos boxes. Acabaria em terceiro.
Alain Prost, sem dúvida alguma, foi o nome da prova ao ter largado em 13º - e ainda perdeu duas posições na largada – e subir na classificação a ponto de estar em sexto já na 15ª passagem. A escolha por menos asa, para aproveitar bem a longa reta do circuito mexicano, deu a Prost a essa chance de recuperar-se rapidamente tanto que ele estava em terceiro – logo atrás de Nigel – quando Senna teve que abrandar o ritmo por conta dos pneus. Com as duas Ferraris passando pelo piloto brasileiro, Prost apenas esperou o momento certo para passar Mansell e assumir a ponta. Senna abandonaria na 64ª volta.
As voltas finais foram brindadas com a disputa entre Mansell – que rodara e caíra para terceiro – e Berger
Mais um encontro de Berger e Mansell na pista... e outro show de Nigel, agora
na Peraltada
pela segunda colocação. Nigel atacou Gerhard na entrada da Peraltada e essa manobra foi rechaçada pelo austríaco, mas na volta seguinte, no mesmo ponto, Mansell pareceu tirar Berger para bailar ao ziguezaguear atrás do McLaren e fazer uma arriscada – e espetacular – ultrapassagem por fora na curva mais veloz e temida do circuito. Uma manobra que automaticamente entrou para a galeria das melhores da história da F1.
Prost chegava a sua segunda vitória no mundial, seguido por Mansell, Berger, Nannini, Boutsen e Piquet.
O cenário visto em Paul Ricard, para a disputa do GP da França, acabou por ser inesperado assim como foi visto em Phoenix, na abertura do campeonato. A participação ativa das Leyton House,especialmente de Ivan Capelli, que deu um resultado além do surpreendente vistoque os carros azuis – até o GP do México – penavam para tentar um mísero lugar no grid.
Mansell conseguiu quebrar a sequencia de poles consecutivas dos pilotos da McLaren, mas mesmo assim ainda teve Berger ao seu lado na primeira fila. Senna e Prost estavam na segunda fila, enquanto que Nannini e Patrese compunham a terceira fila. Nelson Piquet e Mauricio Gugelmin estavam na quinta fila – além do bom trabalho de Gugelmin com o décimo tempo, Capelli conseguia o oitavo tempo para a Leyton House. Moreno não passou da pré-qualificação.
As mudanças feitas por Adrian Newey no March antes de sua saída para a Williams, deu uma sobrevida e salto de qualidade ao chassi CG-901 que foi muito bem visto em Paul Ricard. Apesar de não ter mostrado grande velocidade até a metade da prova, os dois carros foram subindo na classificação conforme os líderes
Apesar da vitória de Prost, o nome do dia em Paul Ricard  foi de Ivan Capelli
iam para suas paradas de box e mostrando que aquelas modificações também cuidavam bem do desgaste dos pneus. Foram catorze voltas (40-54) onde os Leyton House marcavam uma inesperada dobradinha, até que o sonho começou a desfazer a partir de Gugelmin na 54ª passagem quando este teve problemas de motor e caiu de rendimento até abandonar de vez na volta 58. Capelli ainda estava na liderança quando a pressão da bomba de gasolina começou a afetar o seu rendimento. Prost aproximou-se e conseguiu a ultrapassagem a três voltas do fim. Ivan ainda conseguiu salvar a segunda colocação, com três segundos de avanço sobre Senna.
Prost chegava a sua terceira vitória, a segunda consecutiva e a centésima para a Ferrari na F1. Capelli terminou em segundo, seguido por Senna, Piquet, Berger e Patrese.
Chegando ao meio do campeonato, com a realização do GP da Grã-Bretanha, a F1 viu uma Ferrari muito mais bem equilibrada que a McLaren e aliando isso ao novo motor que tinha sido utilizado em Paul Ricard, a Rossa já era um carro a temer naquela altura do campeonato.        
Mansell levou a segunda pole consecutiva, para delírio dos torcedores locais. Senna aparecia em segundo, mais de seis décimos e desvantagem mostrando o tamanho da força que a equipe italiana tinha naquele momento. Berger era o terceiro, Boutsen o quarto, Prost o quinto e Alesi o sexto. Piquet era o 11º e Gugelmin o 13º. Com problemas de embreagem e elétrico, Moreno ficou na pré.
Nigel estava numa tarde inspirada e por mais que não tenha conseguido fazer uma boa largada, ele ficou atrás do McLaren de Senna esperando a melhor oportunidade para passar o brasileiro e assumir a liderança. Quando a conseguiu na 12ª volta, aproveitando-se bem dos problemas de Senna, comandou a prova com a bravura de sempre até que os problemas de câmbio – que começaram na 22ª volta, quando Berger o ultrapassou, mas que retomaria cinco voltas depois – que foram aumentando com o passar da corrida, tiraram dele a possibilidade de vencer faltando onze voltas para o fim. Ao final daquele GP, Mansell aproveitou para anunciar a sua aposentadoria ao final daquele ano, mas no decorrer do restante da temporada acabou cedendo as investidas de Frank Williams que o levaria para seu team a partir de 1991.
De mencionar a grande prova de Capelli e Piquet: enquanto que o italiano fizera uma prova irretocável, até mesmo com chances de vencer quando tinha 15 segundos de desvantagem para a dupla ferrarista faltando 20 voltas para o término, num momento em que era o carro mais veloz da pista – para se ter uma idéia do desempenho de Ivan, ele fez por sete vezes a melhor volta do GP sendo seis consecutivas – quanto teve problemas mecânicos que forçaram o seu abandono. Piquete teve o motor apagado na volta de aquecimento, fazendo-o largar em último e protagonizar uma corrida de recuperação espetacular que o deixou até com chances de conseguir um pódio. A rodada na Bridges fez com que perdesse a quarta colocação para Eric Bernard, mas mesmo assim, conquistando o quinto lugar, Nelson havia sido o grande nome do GP ao lado de Capelli e Mansell.
Prost herdou uma vitória que não parecia ser sua, a quarta no campeonato e a terceira seguida. Boutsen ficou em segundo, Senna – com um carro quase inguiável – em terceiro. Eric Bernard conseguiu um ótimo quarto lugar para a Larrousse, Piquet foi o quinto e Suzuki em sexto, garantindo mais um ponto para a Larrousse. Foi a última vez que Silverstone recebia a F1 com seu layout quase original.
O mundial terminava a sua segunda parte e a ascensão da Ferrari, convertida em três vitórias de Alain Prost, dava a certeza que a segunda parte do campeonato seria ainda melhor. A McLaren teria que trabalhar duro para reverter àquela situação que parecia pender para Ayrton até a o GP do Canadá.
Prost terminou aquela primeira parte na liderança com 41 pontos; Senna era o segundo com 39; Berger o terceiro com 25; Piquet o quarto com 18 e Boutsen o quinto com 17.  
Apesar da grande corrida que fizera Nigel Mansell, a conquista caiu no colo de Alain Prost que assumia a liderança daquele mundial
 

sábado, 17 de outubro de 2015

Os 25 anos do Bi: O troco - Parte 1

Os dois primeiros anos da associação entre McLaren e Honda tinham sido os dois mais rentáveis da história da categoria. As marcas alcançadas nesta junção foram brutais: em 32 provas disputadas entre 1988 e 1989, foram 28 poles, 18 melhores voltas e 25 vitórias e quatro campeonatos (dois de pilotos e dois de construtores), sem ter nenhum tipo de ameaça externa. Foi um momento em que os melhores estavam a serviço da equipe de Woking e ajudaram a erguer um dos domínios mais poderosos e impiedosos do esporte a motor em todos os tempos. Pessoas como Gordon Murray, Neil Oatley, Steve Nichols (parte técnica), Osamu Goto (Diretor de Projetos da Honda), Jo Ramirez (Diretor Desportivo) e o comando de mão firme de Ron Dennis, foram vitais para tal sucesso e ainda mais contando com dois pilotos do calibre de Alain Prost e Ayrton Senna, o sucesso seria inevitável. Temos que considerar, também, que essas marcas foram alcançadas num momento que a categoria vivia da transição entre os turbos e aspirados e, enquanto boa parte do grid já apostava nos motores atmosféricos em 1988, procurando adaptar-se para a próxima temporada, a McLaren, junto de Lotus, Ferrari e Arrows, continuaram nos turbos. Mas a apenas a equipe de Ron Dennis é que conseguiu tal sucesso e de forma avassaladora. Por mais que boa parte do grid estivesse adaptada aos motores atmosféricos, apenas os “ex-turbos” Lotus e Arrows e que penaram na temporada de 1989. A McLaren repetiu o domínio de 88, mas já estava com a Ferrari e Benetton nos calcanhares.
Por outro lado, tendo dois pilotos número 1 em suas fileiras, seria um desafio ainda maior conter a animosidade que crescia a passos largos entre Prost e Senna naquela equipe. Se as coisas pareceram mais amistosas até certo ponto de 1988, depois começou a azedar exatamente pelo excesso de arrojo de Ayrton que tinha e em mente apenas derrotar e domar Alain, como bem disse John Watson certa vez. A espremida de Senna em Prost no GP de Portugal de 1988 foi o embrião para que batalha entre as duas partes se tornasse ainda mais visceral no ano seguinte. O famoso de pacto de não atacar nas primeiras curvas que foi desrespeitado por Ayrton na segunda largada do GP de San Marino, eclodiu uma das maiores rivalidades da história da F1. E para Prost foi uma boa toda aquela desestabilização: pôde trazer para ele algumas pessoas e guardar para si informações que até antes eram divididas com o piloto brasileiro. Os azares e erros de Senna contribuíram bastante para que o campeonato chegasse a Suzuka ainda totalmente aberto, se bem que este pendia mais para o lado de Prost. Com a corrida de gato de rato que ambos protagonizaram naquela tarde nublada na pista japonesa, teve o desfecho com a batida de Prost sobre Senna que daria o título ao francês em caso de abandono do brasileiro. Por mais que o esforço do tenha sido válido, tornou-se inútil quando Ayrton voltou à pista pela chicane e após uma passagem nos boxes para a troca da asa dianteira que se soltara, ele alcançou Nannini para ganhar o GP e adiar para Adelaide a decisão. Talvez um plano B estivesse já arquitetado, pois assim que Senna desceu de seu McLaren foi convocado a ir falar com os comissários e foi onde soube de sua desclassificação da prova devido ter voltado pela área de escape. Com toda a confusão instalada após esta desclassificação de Senna e com Ron Dennis entrando com processo contra esta decisão dos comissários, acabou que nada pôde ser feito a favor do brasileiro: com o julgamento acontecendo entre o GP japonês e o australiano, ficou decretada a pena de Ayrton que constituía em 100.000 dólares de multa e um período de seis meses a correr sob a visão da FISA, onde se ele cometesse qualquer infração, tomaria uma pena de seis meses de suspensão a partir da data do acontecido. Começou a valer essa condição do GP da Austrália daquele ano até os GPs dos EUA e Brasil da temporada seguinte. A verdade é que o mundial de 1990 já havia começado com todo esse imbróglio entre Senna, Prost, Balestre e FISA.
Aquela temporada de 1990 mostrou algumas movimentações de pilotos para outras equipes: Nelson Piquet, que saía de duas temporadas bem improdutivas na Lotus, aportava na Benetton; Satoru Nakajima seguiu seu antigo companheiro de Lotus e partiu para a Tyrrell, para ser companheiro do novato Jean Alesi; a Lotus aproveitou para renovar seu quadro de pilotos, ao contratar Derek Warwick e o novato Martin Donnelly. A maior das mudanças era à saída de Prost da McLaren para a Ferrari, após seis temporadas de serviços muito bem prestados a equipe de Ron Dennis; automaticamente, Gerhard Berger passou a ser companheiro de Senna na McLaren naquele ano. Martin Brundle, que correra pela Brabham em 1989, voltou ao mundo dos Protótipos para defender a Jaguar e com isso abriu a vaga na equipe, que foi ocupada por Gregor Foitek que rapidamente foi substituído por David Brabham; a Arrows também mudou a sua dupla de pilotos, passando a contar com os serviços da dupla italiana Michele Alboreto e Alex Caffi.
As equipes pouco apresentaram inovações para aquele ano de 1990, optando claramente na evolução e adaptações em carros lançados ainda em 1989. Isso ficava claro que o ano de 90 era mais para transição, visando novos motores e carros, do que arriscar algo totalmente novo. A Ferrari, agora contando com Alain Prost e Nigel Mansell, aparecia com força no cenário e já era apontada como favorita a desafiar e
Ferrari F641/2
vencer a McLaren. Além da ida de Prost, outro membro da McLaren, Steve Nichols, responsável direto pela idealização do MP4/5, também aportou na equipe italiana. Isso deu a Ferrari uma subida considerável
de desempenho, que havia sido bem vista em 1989. Nichols pouco modificou o bom trabalho feito por John Barnard, apenas alterações no tanque de gasolina – que passou dos 205 para 220 litros – e outras leves mudanças que deixaram o F641/2 mais estável. Porém, modificações para classificações foram um terror para os dois pilotos, pois gerir os ultra sensíveis pneus de qualificação da Goodyear não estava a ser fácil, chegando ao desgaste muito antes do que era previsto. A utilização de três versões do motor V12 Ferrari – 036, 037e 037B – deram a eles a chance de desafiar o poderio dos V10 da Honda. 
A Tyrrell teve em suas fileiras Satoru Nakajima e a grande estrela em ascensão Jean Alesi, que dispuseram
Tyrrell 019
de um Tyrrell 019 novinho em folha – e de fácil regulagem, segundo Harvey Postlethwaite na época – em contraste a outras equipes, que preferiram trabalhar apenas em evoluções. Mesmo tendo iniciado a temporada com o velho 018, a equipe de Ken Tyrrell mostrou boas performances principalmente pelas mãos de Alesi que desafiou pilotos como Senna e Prost em algumas ocasiões, mesmo tendo em mãos o 018 e 019, posteriormente. Outros dois fatores que chamaram a atenção para esta equipe foi a utilização dos pneus da Pirelli – principalmente os de classificação, que eram bem melhores que os Goodyear até certa parte do mundial – e do rejuvenescimento do motor Ford DFR por Brian Hart, que conseguiu dar uma sobrevida a um propulsor derivado do lendário Ford DFV atingindo a marca de 625cv. Não é a toa que a Tyrrell foi a melhor equipe entre os utilizadores Ford naquela temporada. 
Dando continuidade ao FW13B que estreara em Estoril na temporada passada, a Williams continuava a ter Thierry Boutsen e Ricardo Patrese no trabalho. Esse adianto na estréia do FW13B ainda em 1989, gerou
Williams FW13B
um bom trabalho para Patrick Head e sua equipe de engenheiros no que se diz respeito a montagem do novo Renault V10 RS2 de 1990: alterações nos pontos de montagem e refrigeração do motor e mais as modificações na caixa de câmbio, foram os pontos a serem mudados. O cockpit também sofreu modificações, principalmente para a melhoria no acesso. O único problema grave da Williams, que foi sendo revisado durante a temporada, principalmente após chegada de Adrian Newey no meio da temporada, foi o alto desgaste de pneus. A Renault contribuiu bastante para a subida de performance da equipe inglesa naquela temporada, ao trabalhar incansavelmente no seu motor, entregando a Williams três evoluções durante aquele ano. Para falar a verdade, aquele ano significava já um olhar mais adiante para a equipe, que se preparava constantemente para a temporada de 1991. 
No segundo ano após o seu retorno à F1, a Brabham se viu com sérios problemas para construir seu carro
Brabham BT59
e colocá-lo na pista para a abertura do mundial. Com o problema resolvido às portas do mundial, o BT59 teve que usar peças do BT58, como a suspensão, traseira e câmbio até conseguir concluir a construção deste durante o ano. A Brabham utilizou o Judd V8 e conseguiu dois pontos conquistados por Stefano Modena na abertura do campeonato. Além do italiano, tomaram partido no carro Gregor Foitek e David Brabham. 
A Arrows, agora com mais da metade absorvida pela empresa japonesa Footwork, trabalhou apenas na evolução do A11 de 1989, levando agora para 1990 a nomenclatura A11B e o motor Ford DFR. Contando com Michele Alboreto e Alex Caffi (Bernd
Arrows A11B
Schneider participou nos GPs dos EUA e Espanha), a equipe de Jackie Oliver não teve das melhores temporadas, marcando apenas dois pontos com Caffi no GP de Mônaco. Os olhares da equipe estavam voltados para 1991, quando passariam a usar os motores da Porsche. 
A Lotus continuava a sua derrocada em 1990 e isso foi possível ver quando Frank Dernie não fez um bom trabalho ao desenhar o novo 102, que foi feito para acomodar o V12 da Lamborghini. O motor italiano, desenvolvido sob a batuta de Mauro Forghieri, parecia ser uma boa aposta, mas os problemas naquele chassi acabaram minando quaisquer chances de Derek Warwick e Marin Donnelly em
Lotus 102
conseguir algo. Os acidentes de Warwick (Monza) e o de Donnelly (Jerez) assustaram bastante num ano terrível para a legendária equipe, que marcaria apenas três pontos naquele ano, todos com Derek em Montreal (6º) e Hungria (5º). 
Outra equipe que utilizou os Lamborghini V12, mas que se deu bem melhor que os ingleses foi a Larousse, que tendo na construção de seu chassi Lola L90 por Chris Murphy – que depois partiria para o lugar de Adrian Newey na March – e com desenvolvimento por parte do experiente Gerard Ducarouge. Erik Bernard e Aguri Suzuki somaram onze pontos para a equipe franco-inglesa, com direito a pódio de Suzuki no GP do Japão.
Larrousse Lola LC90
A Leyton House March também não teve lá grandes exibições na temporada, excetuando-se a grande corrida de Ivan Capelli em Paul Ricard, quando desafiou bravamente a Ferrari e McLaren. Mas ali ficou nítido que a melhoria do chassi, deixada por Adrian Newey antes de sua saída para Williams, foi o grande fator da performance dos carros azuis, tanto que Capelli e Mauricio Gugelmin chegaram a comandar uma dobradinha por um bom número de voltas. Mas os problemas na primeira parte
Leyton House March CG901
do mundial foram tão severos, que a equipe nem chegou a qualificar-se para o GP mexicano. O motor Judd V8 estava mais confiável que 1989, mas o seu desempenho também deixava a desejar. 
A Benetton tinha motivos para sonhar alto em 1990: os dois últimos anos tinham sido de boa evolução da equipe italiana e com o apoio forte da Ford, com os ótimos motores HB V8. A entrada de John Barnard para chefiar a construção do B190, que já estava em fase de desenvolvimento, foi bem vinda, assim como a presença de Nelson Piquet. Dois decanos da F1 juntos num projeto
Benetton B190
que se tornaria muito bem visto ao final daquele ano. Alessandro Nannini, que teve a carreira na F1 interrompida devido a um acidente de avião, fez bons trabalhos naquele carro multicolorido. 
A McLaren iniciava a sua terceira temporada de associação com Honda tentando manter-se no topo. Sabia-se que a força vinda da Ferrari seria o maior perigo e uma evolução bem sucedida do MP4/5 seria vital para isso. Ayrton Senna e Gerhard Berger tiveram bons momentos na temporada, mas a queda de performance ao meio dela, num exato momento em que a Ferrari, com Prost, engatou três vitórias seguidas (México, França e Grã-Bretanha) gerou certa preocupação sem que instalasse o pânico na equipe.
Mclaren MP4/5B
Por outro lado, essa queda de desempenho pegou justamente no momento que Senna discutia sua renovação com a equipe, mas o abandono do difusor em arco por um mais simples, ajudou e muito para que o carro vermelho e branco retomasse o caminho das vitórias a partir de Hockenheim. A Honda também não baixou os braços e continuou a desenvolver o V10 – numa altura em que trabalhavam incansavelmente no V12 que a equipe McLaren utilizaria em 1991 – chegando à casa dos 680 cv para a versão de corrida e 700 cv para as qualificações. 
Equipes como Ligier, Osella, AGS, Scuderia Itália (ou Dallara, se preferirem), EuroBrun, Coloni, Onyx e Life, tiveram mais destaque por suas tentativas frustradas em entrar nos grids dos GPs, do que por resultados mais concretos. Talvez as maiores decepções nesta turma toda, ficavam depositadas na Minardi e Ligier, principalmente esta última, devido a sua história na categoria. Mas na verdade, os últimos anos para o time de Guy Ligier já não eram dos melhores e a Minardi também havia decaído bastante, após ser uma boa sensação no ano de 89 ao chegar a liderar brevemente o GP português. Assim como a Ligier, a Minardi teria motor novo para 1991: o V12 da Ferrari. Talvez, quem sabe, em 1991, com a utilização dos Lamborghini V12, as coisas poderiam melhorar. 
O calendário de 1990 era basicamente o mesmo de 1989, com 16 etapas, mas com algumas alterações nos locais de provas e datas: o GP dos EUA, em Phoenix, passou de ser a quinta prova de 89 e foi a ser a prova de abertura; Interlagos, totalmente remodelado, voltou ao calendário dez anos depois em substituição a Jacarepaguá; o México passou a ser o sexto GP do calendário, ao contrário que foi em 89 quando era o quarto; San Marino passou a ser o terceiro GP, Mônaco o quarto e Canadá o quinto. O resto dos GPs da segunda metade da temporada, ficaram como estavam em 1989.


Ligier JS33B Cosworth – A evolução do JS31 estreou durante a temporada de 1989 e algumas mudanças para 1990 foram feitas, como adoção de um câmbio X-Trac no lugar do câmbio da March – isso chegou causar alguns problemas de temperatura durante a temporada, dando uma boa dose de dor de cabeça a equipe de Guy Ligier. Outra modificação foi em relação a suspensão dianteira que foi revisada. Além da assinatura de Michel Beaujon, que projetou o carro, Ricardo Divilla também teve a sua participação. 



Osella FA1ME – Basicamente era uma evolução do FA1M que foi trabalhado desde 1988 com pequenas modificações para 1989. Talvez a melhor mudança neste carro foi a mudança da suspensão dianteira, onde as molas ficavam na parte interna do carro e foram realocadas na parte de fora. Um aumento de 10mm na distância entre eixos e a permanência do motor Cosworth – agora trabalhado por Brian Hart – eram as outras duas novidades. Olivier Grouillard foi o piloto da Osella naquela temporada conseguindo o 16º lugar como melhor resultado da equipe naquele 1990.


AGS JH25 – A única coisa que destacava neste carro desenhado por Michel Costa era a sua beleza. Escaparam de uma fria tremenda ao deixarem de lado o W12 desenhando por Guy Nègre, por entenderem que este não tinha potência suficiente, e optaram por continuar com o Cosworth. O JH25 sofreu com atrasos por causa de mudança da equipe para a nova fábrica, mas quando o trabalho foi feito praticamente nada teve de ser destacado. Gabriele Tarquini e Yannick Dalmas foram os pilotos. O melhor resultado remonta ao GP da Espanha, quando Dalmas foi o nono. 



BMS Scuderia Italia Dallara F190 - Infelizmente a baixa confiabilidade do carro projetado por Gianpaolo Dallara não permitiu que Emmanuele Pirro – Gianni Morbidelli andou nas duas primeiras etapas em substituição a Pirro, que estava com hepatite – e Andrea De Cesaris conseguissem bons resultados – ao menos para De Cesaris a primeira corrida foi promissora, quando marcou o terceiro melhor tempo no grid e chegou a ficar em quinto quando o motor Cosworth quebrou. O melhores resultados foram dois décimos lugares: Pirro em Hungaroring e De Cesaris em Monza. 



EuroBrun ER189B - Em comparação a 1989, pouca coisa melhorou nessa versão B assinada por George Ryton: apenas a adoção um amortecedor num dos carros e que acabou não dando grandes resultados, fazendo com que voltasse ao uso de duplos amortecedores, foi a única novidade na equipe de Walter Brun. O grande espirito de luta de Roberto Pupo Moreno e os cheques polpudos de Claudio Langes é que deu a equipe algum sustento, mas nem isso foi possível e a equipe durou até o GP da Espanha.


Coloni C3C - Infelizmente o trabalho da equipe com o motor Subaru 1235 – ou Motori Moderni, como queiram –  atrasou bastante a vida da equipe de Enzo Coloni, tanto que quando estreou a versão reformulada do C3B – nomeado de C3C – e empurrado pelo Cosworth, ao menos o carro conduzido por Bertrand Gachot começou a passar nas pré-qualificações e dando a chance de lutar pela qualificação para os grids – coisa que jamais aconteceu. 


Monteverdi Onyx ORE-1/ ORE-1B/ ORE-2 – O caos instalado na equipe com o péssimo relacionamento de Jean Pierre Van Rossem com Greg Field, Mike Earle e Jo Chamberlain em 1989, atrapalhou bastante os desenvolvimento e mesmo com a compra da Onyx por parte de Peter Monteverdi, as coisas não melhoraram para aquele ano de 1990. Stefan Johansson foi demitido no inicio da temporada e para o seu lugar entra Gregor Foitek, que quase marcou um ponto em Mônaco ao terminar em sétimo – nesta que foi o melhor resultado da equipe naquele ano. Anteriormente, J.J Lehto conseguira um 12º lugar em San Marino. Após o GP da Hungria a equipe faliu.



Life F190 – Um problemático motor W12 remendado a um antigo chassi First, biela se soltando antes do carro ir para a pista, velocidade igual ou pior que um Fórmula-3. Assim foi a breve história da Life naquela temporada de 1990 que ainda tentou passar da pré-qualificação sem nenhum sucesso, escrevendo uma das páginas de tragicomédia mais bem sucedidas da história de uma equipe na Fórmula-1. Nem adoção de um Judd V8 durante a temporada ajudou ao menos dar um pouco de dignidade. Gary Brabham na primeiras provas e depois Bruno Giacomelli é que tentaram tirar alguma coisa do carro vermelho. Mas ao menos garantiram um lugar nas páginas da história moderna da categoria.


Minardi M190 – A equipe de Giancarlo Minardi esperava dar um passo maior do que 1989 quando eles marcaram seis pontos e chegaram, até, liderar uma volta no GP de Portugal. Usaram o M189 nas duas primeiras etapas de 1990 conseguindo até um 7º e 9º lugares com Pierluigi Martini em Phoenix e Interlagos. Mas o uso do M190 a partir do GP de San Marino revelou-se tremendo fracasso e a equipe não marcou nenhum ponto, isso sem contar nos inúmeros problemas. Gianni Morbidelli substituiu Paolo Barilla nas duas etapas, enquanto que Martini garantiu os dois melhores resultados deste chassi exatamente nestas últimas duas corridas ao terminar em 8º (Suzuka) e 9º (Adelaide).

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Grandes Atuações – Kimi Raikkonen, Suzuka 2005


O inicio de carreira de Kimi Raikkonen na Fórmula-1 foi dos mais comentados da história da categoria até aquele começo de década: um piloto com apenas algumas dezenas de corridas em monopostos poderia tomar partido dos já brutais carros da F1 em 2001? As respostas começaram aparecer no teste que ele fez em Mugello pela Sauber e os seus resultados foram os melhores possíveis, a ponto da FIA lhe conceder uma licença especial para a sua estréia na categoria em 2001 pela equipe de Peter Sauber.
Após um período de rápida aprendizagem naquele carro azul da equipe suíça, Raikkonen foi alçado a piloto titular na McLaren exatamente no lugar de seu conterrâneo bi-campeão mundial Mika Hakkinen. Assim como fizera na Sauber, Kimi mostrou do que sabia e rapidamente dominou o quase decano David Coulthard e só não conquistou a sua primeira vitória naquela temporada porque escorregou no óleo deixado por Allan Mcnish na freada para hairpin em Magny-Cours, quando liderava o GP francês com uma pequena diferença para Michael Schumacher que veio a vencer a corrida e cravar o seu quinto título mundial. Conquistaria a sua primeira vitória em Sepang, 2003 e naquele mesmo ano, por muito pouco, não levou o título que foi ceifado por causa das inúmeras quebras assim como acontecera em 2004, com um problemático MP4-19 que precisou ser revisado algumas vezes devido a sua fragilidade que foi acusada nos testes de resistência da FIA, forçando o uso de uma versão B deste carro. A sua vitória em Spa naquele ano, acabou por salvar a temporada da McLaren. 2005 poderia ter sido o ano da desforra para Raikkonen, não fosse os inúmeros problemas no motor Mercedes que arrancaram dele algumas possibilidades de vitórias, mas azares extras, como em Nurburgring, também ajudaram a tirar dele essa chance. Por mais que aquela temporada tenha sido decepcionante no plano da confiabilidade, esta serviu para confirmar o grande talento de Kimi Raikkonen a bordo de um carro de corrida e a etapa de Suzuka, a penúltima prova daquele ano, celebrou a grande velocidade do finlandês.
Naturalmente como acontecia nos tempos em que Adelaide sediava o final do campeonato e com este já definido, Suzuka recebeu a penúltima corrida daquele ano com um ar amistoso. Com pilotos mais relaxados, a tendência é que tivéssemos uma prova mais animada, desamarrada daquela tensão natural pela decisão de um mundial de pilotos como acontecera semanas atrás em Interlagos. O mais novo campeão do mundo, Fernando Alonso, já acenava que voltaria à velha forma de sempre depois de ter feito as últimas corridas apenas para colecionar os pontos que o levariam ao primeiro campeonato de sua carreira. Mesmo com toda essa animação, ainda havia um campeonato em jogo: o mundial de construtores estava em aberto, com a McLaren a liderar a tabela com apenas dois pontos de vantagem sobre a Renault (164x162). Isso significaria que, apesar dos pilotos das duas equipes estarem mais à vontade, ainda teriam algo para conquistar para seus respectivos times. Com a aproximação de um tufão nas redondezas de Suzuka – o que levantou a hipótese de possível cancelamento da classificação – o treino que definiu o grid de largada viu uma formação bem atípica: enquanto que Toyota e Honda formavam uma primeira fila em seu território – pole para Ralf Schumacher e segunda posição para Jenson Button –,os figurões pegaram chuva exatamente na suas voltas lançadas – naquela época, cada piloto tinha direito a uma volta lançada para obter a sua melhor marca, sendo que o primeiro a classificar era o último colocado da prova anterior e assim seguia até o último piloto, exatamente o vencedor do último GP – e viu um fundo de grid formado por Michael Schumacher (14º), Fernando Alonso (16º), Kimi Raikkonen (17º) e Juan Pablo Montoya (18º). Kimi ainda teve o agravante de ter o motor quebrado na sua volta veloz, o que obrigou a troca deste, mas sem que tomasse punição.
Uma olhada rápida na formação das dez primeiras posições indicava que Giancarlo Fisichella seria o favorito para a prova, afinal de contas os grandes adversários estavam saindo do fundo do grid e ultrapassar em Suzuka nunca foi uma grande facilidade. Isso ficou ainda mais claro quando o italiano da Renault conseguiu uma saída bem melhor que Button e virou a primeira curva em segundo, já na cola de Ralf Schumacher. Mais atrás, Takuma Sato e Rubens Barrichello escapam para fora da pista, mas conseguem retornar. Enquanto que Schumacher, Alonso e Raikkonen avançam o pelotão, Montoya se vê fora da pista até encontrar a barreira de pneus, após uma dura disputa com Jacques Villeneuve que vendeu caro a posição. Isso forçou a entrada do Safety Car para a remoção do McLaren do colombiano e essa manobra de Villeneuve lhe rendeu 25 segundos de acréscimo no seu tempo total como punição. Com a prova reiniciada, Alonso tentou uma ultrapassagem sobre Christian Klien na freada da chicane, mas ele acabara cortando. Devolveu a posição, mas na freada para a curva 1 ele retomou a posição. Para os comissários a manobra ainda estava errada e entraram em comunicação com a equipe francesa para que o espanhol devolvesse a posição ao piloto rubro-taurino. Essa manobra lhe custou segundos preciosos que fariam falta no final, mas algumas curvas depois, enfim, Fernando conseguia superar o austríaco sem contratempos.
Enquanto que iniciava a primeira rodada de pit-stops que deixaria Fisichella na liderança, um embate interessante acontecia no meio do pelotão entre Schumi, Alonso e Raikkonen: algumas voltas de estudos procurando o local certo para a tal manobra, Fernando efetuou uma das melhores ultrapassagens da temporada e uma das melhores da história, ao atacar Michael por fora na veloz e traiçoeira 130R. Apesar de todo esse esforço, o atual campeão teve que ir aos boxes e dessa vez a batalha ficaria entre Raikkonen e Schumi, mas o finlandês não conseguiria a ultrapassagem antes do seu primeiro pit-stop. Após a parada dos dois, voltando à frente de Alonso, Kimi conseguiu a manobra e agora estava no encalço de Webber e Button, enquanto que Alonso começava a sua investida sobre Michael, que resultaria em outra ultrapassagem, mas desta vez na curva 1. A opção por duas paradas de Alonso o forçou a fazer outro pit-stop na volta 36, deixando o caminho aberto para a retomada de Schumacher.  Fisichella, que estava 20 segundos à frente, também foi aos boxes, despencando para quarto na classificação logo atrás de Webber, Button e Raikkonen.
O bote final: Raikkonen começa o movimento para a grande manobra sobre Fisichella
Apesar de uma diferença larga que poderia ter dado a Fisichella a chance de vencer a prova em Suzuka, as possibilidades começaram a mudar quando Webber e Button pararam nos boxes e deixaram caminho aberto para Raikkonen efetuar uma boa série de voltas – entre elas a melhor da corrida, com o tempo de 1’31’’540 – e tentar pegar Giancarlo nas voltas seguintes. Quando Kimi voltou de seu pit-stop, toda aquela diferença de mais de vinte segundos que o separava de Fisichella havia despencado para um pouco mais de cinco segundos. Uma atuação que só por si já valeria o dia, mas Raikkonen queria mais... As últimas oito voltas foram vertiginosas, com o italiano tentando como podia distanciar-se do perigo prateado que se aproximava cada vez mais. Enquanto esse jogo de gato e rato acontecia na frente, Alonso continuava a sua escalada: após superar Schumi pela terceira vez na corrida, tinha deixado Coulthard para trás e agora buscava incansavelmente Webber e Button que foram superados impiedosamente pelo espanhol, que chegara ao terceiro posto após uma grande corrida. O desperdício de tempo nas devoluções de posições para Klien atrasaram-no bastante.
Ganhando cerca de um segundo por volta sobre Fisichella, Raikkonen tinha o italiano na sua alça de mira faltando três voltas para o fim. Apesar de defender-se bem de algumas investidas do finlandês, o desfecho foi favorável ao piloto da McLaren: conseguindo grudar no vácuo do Renault, Kimi teve a sua passagem bloqueada por Fisichella que lhe fechara a parte de dentro da grande reta, mas Raikkonen conseguiu levar o carro para esquerda e arriscar a manobra por fora na freada da curva 1. Certamente foi de cortar a respiração e Raikkonen estava à frente de Giancarlo naquela volta final e o finlandês tratou de continuar na mesma tocada para vencer por uma margem de 1’6 segundos sobre Fisichella. A saudação dos membros da McLaren e das pessoas que ali estava no parque fechado foi estrondosa.
Foi a sétima vitória dele no campeonato e a nona na carreira, e que acabou por ser a sua última pela McLaren. Mas certamente foi a melhor de sua carreira, num dos melhores GPs da década passada.  


quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Foto 540: Michael Schumacher, 15 anos atrás

O ápice de um grande momento do esporte. Assim podíamos ter definido aquele final do GP do Japão de 2000, quando Michael Schumacher chegou ao tão desejado tri-campeonato e tirou a Ferrari da famosa e incômoda fila de 21 anos sem o título de pilotos. Foi uma festa tremenda.
A corrida foi a mais tensa possível, com Schumi e Hakkinen a se marcarem implacavelmente de perto, desde uma pole apertadíssima à favor do alemão até uma prova pautada pelo nervosismo e estratégia, que acabou brindando um trabalho que começou em 1996 no meio de um caos em Maranello que foi aos poucos sendo arrumado. Se 1996 as condições não eram favoráveis, 97 eles estiveram próximos da conquista senão fosse a burrada de Michael em jogar o carro contra Jacques Villeneuve em Jerez, ou até mesmo o duplo azar na prova final em Suzuka 98; o acidente de Silverstone em 99 o impossibilitou de chegar ao título, algo que parecia bem possível, mas 2000 essa não escapou.
A verdade é que aquela conquista em 8 de outubro desencadearia uma época dourada para ele e a Ferrari.
A Fórmula-1 entrava na era do vermelho escarlate.

sábado, 3 de outubro de 2015

Foto 539: Divisão

Ferrari 187 milhões de euros em 2014; Marussia 10 milhões.
A disparidade financeira - e consequentemente técnica - nas divisões do dinheiro na categoria.
(Infográfico: Marca)

Foto 1042 - Uma imagem simbólica

Naquela época, para aqueles que vivenciaram as entranhas da Fórmula-1, o final daquele GP da Austrália de 1994, na sempre festiva e acolhedo...