quinta-feira, 18 de abril de 2024

Foto 1039 - Bernd Rosemeyer, Roosevelt Raceway 1937

 

(Foto: Adam Gawliczek) 

Um momento de descontração antes do embate dos europeus vs americanos pela 13ª edição da Vanderbilt Cup, realizada no antigo Roosevelt Raceway. 

Essa corrida foi uma semana antes do GP da Bélgica, o que forçou as equipes da Mercedes, Auto Union e Scuderia Ferrari a dividirem o contingente para cobrir os dois eventos - como não havia vôos comerciais naquele período, os pilotos que competiram na Vanderbilt Cup acabaram voltando de navio com chegada prevista para 13 de julho, dois dias após a realização do GP belga. No lado da Mercedes, com os seus W125, Rudolf Caracciola e Richard Seaman seguiram para os EUA enquanto que Hermann Lang, Manfred Von Brauschitsch e Christian Kautz pilotaram em Spa; a Auto Union levou dois Type C para Bernd Rosemeyer e Ernst Von Delius para o Roosevelt Raceway e quatro Type C ficaram para Hans Stuck, Luigi Fagioli, Rudolf Hasse e Hermann Müller na Bélgica; a Scuderia Ferrari seguiu o mesmo caminho ao levar dois Alfa Romeo 12C-36 para Tazio Nuvolari - então vencedor da edição de 1936 da Vanderbilt Cup - e Giuseppe Farina e na Bélgica Raymond Sommer e Carlo Felice Trossi comandaram os outros dois 12C-36. 

A corrida na América teve um grande contingente contando um total de 38 inscritos para 30 lugares no grid de largada. Na grande lista contavam nomes como os de Kelly Petillo, Wilbur Shaw, Bill Cummings, Milt Marion, Rex Mays, Babe Stapp, Joel Thorne, personagens que dentro de pouco tempo estariam gravadas na história do motorsport americano. A prova distribuiu prêmios do primeiro ao décimo, sendo que o vencedor levava 20 mil dólares e o décimo 1.400 dólares e os outros vinte levando uma quantia de 500 dólares.

A qualificação consistiu na média de nove voltas (dividida a cada três passagens) e Rudolf Caracciola acabou por fazer a pole, seguido por Bernd Rosemeyer e Rex Mays, que conseguiu um ótimo terceiro lugar com uma Alfa Romeo 8C-35 cujo carro foi o reserva da Ferrari na edição de 1936.

No dia da corrida, que seria num sábado, dia 3 de julho, acabou não acontecendo devido as fortes chuvas que caíram justamente quando os carros estavam no grid. Isso levou a organização a não realizar a prova, visto que o perigo era considerável naquela condição - e você pensando que isso acontece apenas nos dias atuais, não é mesmo caro leitor. Dessa forma, a prova foi transferida para a segunda-feira, 5 de julho. Curiosamente o sol chegou a voltar, secando parcialmente a pista, mas em seguida voltaria a chover com força. 

A corrida foi realizada na segunda-feira com a largada às 14 horas locais. Rosemeyer e Caracciola travaram grande duelo desde a primeira volta, com o piloto da Auto Union conseguindo um melhor arranque, mas perdendo a liderança para Rudolf na terceira volta. A disputa entre os dois melhores pilotos da Alemanha continuou até o momento em que Rosemeyer reassumiu a liderança na volta 11 e terminaria a batalha quando Caracciola abandonou a corrida na volta 17 por problemas de motor. 

Esta prova teve bons destaques, começando por Rex Mays que se manteve entre os primeiros durante toda a prova e fecharia num ótimo terceiro lugar; Billy Winn, pilotando um Summers-Miller, teve um inicio promissor chegando a ocupar a quinta colocação, mas teria uma avaria na transmissão que forçou o seu abandono na volta 8; o mestre Tazio Nuvolari estava em grande forma nessa edição, mas o fato de forçar demais os Alfa Romeo, custou caro: inicialmente teve uma quebra de motor na volta 16 quando estava em quarto e se aproximando de Mays. Ele abandonou, mas acabaria pegando o carro de Farina - que ocupava a quinta posição - para tentar escalar o pelotão. O mantuano continuou à toda velocidade, mas teria novamente problemas no motor na volta 50 quando havia subido para quarto. Ele abandonou a corrida definitivamente após entregar o agora problemático Alfa à Farina que ainda salvou um quinto lugar. 

Apesar do abandono de Caracciola parecer ter facilitado as coisas para Rosemeyer, o piloto alemão ainda teve em Richard Seaman um oponente a se preocupar. O inglês da Mercedes chegou liderar a corrida nas ocasiões onde Bernd ia aos boxes para as suas paradas, mas chegando ao final da corrida é que o perigo pareceu mais claro quando Richard se aproximava rapidamente de Rosemeyer. Para azar de Seaman - e sorte de Bernd - o inglês teve que realizar uma parada extra nos boxes. 

Bernd Rosemeyer venceu a prova com 51 segundos de vantagem sobre Seaman, que foram acompanhados por Rex Mays em terceiro, o melhor piloto americano na prova, Von Delius em quarto e Farina/ Nuvolari em quinto. Os americanos ainda tiveram Joel Thorne em sexto; Snowberger em sétimo; Wilbur Shaw em oitavo; Bill Cummings, que teve queimaduras no braço e tornozelo por conta de um vazamento de óleo, ficou em nono; e Herb Ardinger em décimo. 

Essa edição da Vanderbilt Cup foi a última realizada, voltando apenas em 1960 com a vitória ficando para Harry Carter com um Stanguelini da Fórmula Júnior no mesmo Roosevelt Raceway - esta que foi a última edição famosa prova neste circuito.

terça-feira, 19 de março de 2024

4 Horas de Goiânia - Uma estreia e tanto para Renan Guerra e Marco Pisani

Um inicio promissor: Marco Pisani/ Renan Guerra vencendo na estreia deles com Ligier e na classe P1
(Foto: Bruno Terena)

O autódromo de Goiânia mostrou mais uma vez que é território restrito da Ligier. Desde a estréia do modelo JS P320 em 2022 através da equipe BTZ, que foi a pioneira em trazer o modelo LMP3 francês para cá, o protótipo perdeu apenas uma etapa. A forte adaptação ao local e também as altas temperaturas de Goiânia, rederam frutos impressionantes para um carro que tem crescido bastante no gosto dos pilotos e chefes de equipes, tanto que nesta etapa de abertura do Império Endurance Brasil outros três modelos fizeram seu debut: a Autlog trouxe um para o trio formado por André Moraes Jr/ Flavio Abrunhoza/ Leandro Ferrari; a novata Foresti Sport tem o seu que foi pilotado por Victor Foresti/ Lucas Foresti; e a KTF Sports com um destinado à Marco Pisani/ Renan Guerra que, assim como os outros que também estreariam com o modelo JS P320, eram oriundos da GT4 - isso sem contar no retorno do Ligier da equipe FTR conduzido por Claudio Ricci/ Fernando Poeta/ Andersom Toso, que voltam à categoria após o carro ter tido um incêndio na etapa de Cascavel ano passado. Juntando estes quatro ao outros dois Ligier, que já estão consagrados nas mãos da BTZ (que são os campeões da categoria com Gaetano Di Mauro/ Guilherme Bottura) e da AMattheis (Xandinho Negrão/ Marcos Gomes), o contingente de seis carros franceses para competir contra os AJR e Sigma, abrem uma ótima perspectiva de como será este campeonato de endurance. 

Os treinos livres deram uma tônica de como poderiam ser estes trabalhos, com Renan Guerra/ Marco Pisani conseguindo cravar o melhor tempo na quinta com o Ligier #31 e com uma ligeira diferença de 88 milésimo sobre o AJR #444 de Vicente Orige/ Sarim Carlesso e de 3 décimos sobre o outro AJR #35 de Pedro Queirolo/ David Muffato. Os demais treinos livres ainda mostraram bastante desse equilibrio, ainda que pese o domínio dos AJR: no segundo treino livre a melhor marca foi de Alexandre Finardi/ Nicolas Costa/ Pedro Maldi com o AJR #30 e no terceiro treino livre foi a vez do AJR #35 de David Muffato/ Pedro Queirolo assumirem a dianteira. 

Esse melhor tempo da dupla que estreou pela TMG Racing nesta temporada, após um bom tempo pela JLM Racing, foi um ótimo presságio para eles já que na qualificação a dupla do AJR #35 acabaria ficando com a pole. Foi um momento muito importante para Muffato e Queirolo, que estão iniciando essa nova jornada na nova equipe. “Estamos aliviados! Acho que fazia dois anos que não largávamos na pole position. Sofremos muito com problemas de motor nos últimos anos. Para começar em uma nova equipe é muito bom”, destacou Pedro Queirolo. 

Essa felicidade da dupla se converteria num inicio vertiginoso e convincente através do bom andamento do AJR #35 que abriu ótima vantagem já no início de prova sobre o AJR #444 de Orige/ Carlesso - que são da JLM Racing, antiga equipe de Muffato/ Queirolo. O carro não deu nenhum sinal de fraqueza, com ambos os pilotos conseguindo um bom ritmo em seus stints sem nunca deixar cair o rendimento mesmo com o forte calor. Infelizmente, num dos últimos pit-stops, o pneu traseiro esquerdo não teve a porca bem fixada e eles acabariam perdendo muito tempo no box, jogando fora a chance de vencer uma corrida que estavam em suas mãos. Para completar o pacote de azares,a porta do lado esquerdo não fechava, mas isso era o de menos: o período perdido ali foi crucial para que o melhor carro da prova não ficasse com a vitória. 

Este domínio do AJR #35 por quase toda a prova deixou bem claro que, para alguém sonhar com algo melhor, teria que torcer para que o carro tivesse algum problema. Com esse azar (mais um) de Muffato/ Queirolo, a corrida ficou em aberto para dois Ligier: Marcos Gomes/ Xandinho Negrão estiveram brilhantes nessa corrida com um ritmo muito forte, sendo a segunda dupla mais veloz da corrida, mas ficava claro que uma vitória era bem mais dificil por conta dos implacáveis Pedro Queirolo/ David Muffato. Com o problema destes, o caminho parecia aberto para a vitória, mas eles precisavam de um Splash & Go para completar a corrida e se isso fosse feito em Safety Car, a chance de ganhar era enorme, mas em bandeira verde, a situação tornaria-se irreversível. Esse SC nunca veio e eles precisaram entrar para a sua parada rápida para completar o tanque. A chance de Renan Guerra/ Marco Pisani no outro Ligier #31 tinha aparecido.

A corrida feita por Guerra/ Pisani foi brilhante também. Ao mesmo modo de seus outros dois rivais, eles estavam num ritmo muito bom com os dois pilotos, sendo que Renan conseguia poupar bastante o combustível e Pisani conseguia andar extremamente rápido quando era preciso. A boa economia feita por Guerra, aliado a ótima velocidade de Pisani, deu uma janela importante para eles já que não precisariam parar mais para um reabastecimento rápido no final da corrida. Pisani foi sensacional em sua condução no stint final, levando muito bem o carro a uma vitória importante ao lado do também brilhante Renan Guerra, que esteve espetacular quando tomava posse do Ligier. Pisani destacou bem essa inédita conquista deles na classe principal: “Inacreditável. Acho que ainda não caiu a ficha. A gente teve pouco tempo com o carro, mas contamos com o apoio da equipe (KTF Racing). O resultado aqui foi feito fora da pista. Foi 90% fora da pista e 10% na pista. É incrível sair da GT4 onde a gente toma 5, 7, 8 voltas dos protótipos. Fazer isso tudo com concorrentes de peso, pilotos sensacionais de primeira categoria… não tenho nem o que falar. Só quero agradecer”.

A segunda posição para o Ligier #9 de Xandinho Negrão/ Marcos Gomes pode ter soado como uma vitória para eles já que a classificação foi sofrível, mas ainda assim não foi tão satisfatório: “Foi um fim de semana com uma performance bem aquém do esperado, do que a gente tem de equipe e pilotos. Conseguimos ainda salvar um P2 super importante para o campeonato. A estratégia foi perfeita. Agora é trabalhar para voltar a 100% da nossa velocidade e disputar esse campeonato, que tem tudo para ser o mais competitivo da história da P1” destacou Marcos Gomes. O engenheiro da equipe, Guilherme Gonçalves, reforçou a ideia de melhorar muitos pontos que foram abaixo nessa etapa de abertura: “Certamente temos uma lista de coisas bem grande a fazer para a próxima etapa, principalmente do ponto de vista de performance do carro. Algumas mudanças que a gente decidiu fazer do ano passado para esse certamente não corresponderam e precisamos trabalhar para buscar mais performance”

Os demais Ligier tiveram diferentes destinos: enquanto que dois estavam na briga pela vitória, o #42 da Foresti Motorsport, com Lucas Foresti/ Victor Foresti, tinham terminado na quinta posição, mas acabaram levando dez voltas de acréscimo ao final da prova por não terem cumprido um procedimento numa das paradas de box. Inicialmente, com essa punição, cairiam para oitavo, mas acabaram entrando com recurso e a penalização foi retirada, voltando, assim, a quinta posição. Os Ligier das equipes BTZ e FTR abandonaram com problemas mecânicos.

A TechForce, que comanda as ações do Sigma G5 P1 #12, também enfrentou alguns percalços nessa etapa, mas a sua parte final foi forte o suficiente para garantir a terceira posição com o trio formado por Marcelo Vianna/ Christian Rocha/ Sergio Jimenez. O inicio da corrida para eles pareci bem forte, mas tiveram uma queda de performance que o fizeram despencar na classificação e, no decorrer da prova, ainda tiveram que lidar com o vazamento intenso de óleo do AJR #444 que sujou bastante o para-brisa do carro. O chefe da equipe e que também estava inscrito neste caso acontecesse algo com algum dos pilotos, Jindra Kraucher, falou sobre o desempenho da equipe nessa etapa: “O problema do óleo acabou com o stint do Marcelinho. Ainda por cima, quando o Christian assumiu para o seu stint, o Safety Car passava pela reta e ficamos presos mais uma volta na saída dos boxes. Mas eu diria que estava ruim e ficou bom. O carro estava perfeito, o Serginho [Jimenez] andou rápido e constante como sempre, o Christian que era novato fez um ótimo stint, muito constante e sem erros. Saímos satisfeitos de Goiânia e motivados para fazer melhor na próxima etapa”. O outro Sigma G5 P1 #11 da equipe FTR Motorsport, pilotado por Emilio Padron/ Fernando Ohashi/ Henrique Assunção, teve problemas na qualificação e fizeram uma boa prova de recuperação, conseguindo fechar na sexta colocação e vencendo na subclasse "P1 Legends"

Os AJR poderiam muito bem ter conseguido bons resultados com três dos quatro carros presentes, mas apenas o #35 de Muffato/ Queirolo é que teve a grande chance de vencer e que não aconteceu por motivos já citados mais acima. O #444 da JLM Racing de Orige/ Carlesso sofreram bastante com o vazamento de óleo - que gerou algumas reclamações de outros competidores - o que forçou algumas visitas a mais nos boxes para reposição de óleo; o AJR #30 da Power Imports, pilotado por Alexandre Finardi/ Nicolas Costa/ Pedro Maldi, teve um inicio bem promissor com o ritmo muito forte de Nicolas Costa, mas depois passaram a ter problemas no câmbio e em seguida com a asa traseira pra mais tarde abandonarem; o terceiro AJR, #26 da Mottin Racing de Adriano Baldo/ Gustavo Martins/ Oswaldo Sheer, tiveram problemas desde o inicio da corrida e abandonaram na volta 26 com problemas no motor.


Vitória para a Porsche na GT3 e GT4

Uma vitória tranquila na despedida do multi campeão 911 GT3 R
(Foto: Ricardo Saibro)


Essas duas classes ficaram bem esvaziadas devido aos problemas com os envios dos demais carros, que estava na Alemanha para revisão, não conseguirem chegar a tempo por conta da greve naquele país. Dessa forma, a classe GT3 se viu com apenas três carros - o Porsche 911 GT3 R #55 da Stuttgart Motorsport (Marcel Visconde/ Ricardo Mauricio/ Marçal Müller); o Mercedes AMGT GT3 #83 do Team RC com Maurizio Billi/ Marco Billi/ Max Wilson; e o outro Mercedes AMG GT3 #63 da Tech Force conduzido por Guilherme Ribas/ Sergio Ribas.

Nessa classe a vitória ficou para o Porsche #55 após uma prova tranquila que o trio, vencedor das Mil Milhas,  conseguiu manter sob controle e contou com problemas no Mercedes #83 que acabou abandonando na volta 103 quando Max Wilson estava no comando. A segunda posição ficou para o Mercedes #63. 

Os três pilotos do Porsche #55 comentaram sobre essa conquista na abertura do campeonato:

Marcel Visconde: “Foi uma vitória merecida da equipe. Cumprimos nosso dever de colocar o carro no grid e de fazer as quatro horas de prova. Estamos muito contentes porque fizemos nosso trabalho e o resultado foi colhido”.

Marçal Müller: “Foi um ótimo fim de semana. É bom começar o ano vencendo e marcando pontos importantes para o campeonato”.

Ricardo Mauricio: “Começar vencendo é muito bom. Tomara que o carro novo chegue a tempo de podermos entendê-lo e, quem sabe, conseguir mais vitórias e mais um título na GT3”.

Para este modelo GT3 R, que venceu o campeonato da classe em 2023 e ganhou as Mil Milhas em janeiro passado, é o canto do cisne, já que a principio não estaria em Goiânia, mas o atraso na chegada do novo GT3, acabou sendo recrutado para levar este trio à conquista mais uma vez.

Na GT4 a Porsche teve uma disputa caseira, já que, à exemplo da GT3, também estava esvaziada. O dois 718 estiveram na ponta em diversas situações, mas a vitória acabou ficando para o #21 pilotado por Allan Hellmeister/ Jacques Quartiero - que ainda pagaram um punição por terem ficado menos tempo numa das paradas de box. Eles contaram com problemas no ABS do gêmeo #718 pilotado por Luiz Landi/ Eric Santos/ Giuliano Bertucelli (João Tesser pilotaria também, mas na noite anterior foi diagnosticado com dengue e não pôde correr), que teve essa avaria por conta de algum detrito que teria rompido o chicote do dispositivo. "O suporte falhou, o chicote do ABS ficou pendurado e raspando no pneu, até o momento em que partiram-se os fios do sensor de velocidade de roda. Aí dá falha do ABS. O freio continua funcionando normalmente, mas você não tem o sistema de ABS e tem que desligar o sistema para que não fique dando alarme e atrapalhando o piloto", disse Felipe Grizzi, engenheiro e chefe da equipe Stuttgart Motorsport.

Vitória do professor e aluno, já que Hellmeister foi instrutor do Quartiero no inicio de carreira
(Foto: Ricardo Saibro)


Os pilotos dos dois 718 comentaram sobre o desempenho nessa prova:

Jacques Quartiero: “Estou muito emocionado. O Alan foi meu professor quando comecei a treinar para estrear no automobilismo. Só agora conseguimos correr juntos. Foi uma corrida difícil porque tivemos uma penalização, mas no fim tudo deu certo”.

Alan Hellmeister: “Foi nossa primeira prova juntos e começamos com vitória. Estou muito contente, é um ótimo começo.”

Luiz Landi: “Nosso problema foi o rompimento do chicote do sensor do ABS, devido a algum atrito. Fiz todo o último stint sem ABS e por isso eu tinha que frear antes, e às vezes alguma roda travava. Dei uma rodada no fim da reta e por sorte não aconteceu nada, pude voltar para a corrida. ‘Peguei a mão’ do carro sem ABS e consegui andar rápido, mas perdemos a liderança da GT4”.

Giuliano Bertucelli: “Foi muito legal, até mais do que eu imaginava. O carro é muito gostoso de pilotar. Chegamos a liderar, mas tivemos uma pane e o carro andou boa parte do tempo sem ABS. Já estou pensando na próxima corrida!”.

Eric Santos: “Larguei e consegui estabelecer um ritmo legal de corrida. Foi uma estreia, precisei aprender a lidar com o tráfego. Estava muito quente, e nessas horas ter ar condicionado dentro do carro sempre ajuda!”.

Na terceira posição ficou o BMW M2 Clubsport #64 da MC Tubarão e pilotado por Henry Visconde/ Enzo Visconde/ Kim Camelo. Este trio nem pôde largar, já que tiveram problemas eletrônicos, mas os problemas foram resolvidos e assim conseguiram entrar para a corrida.

Para a próxima etapa, que será realizada em Interlagos no dia 11 de maio, espera-se a presença dos carros que não puderam vir para esta etapa de Goiânia, assim como a reativação da classe P2.


domingo, 3 de março de 2024

WEC - Vitória para a Porsche, drama para a Peugeot em Losail

 

Um grande inicio para a Porsche no WEC
(Foto: Andrew Hall/ Dailysportscar)

Sabemos que testes de pré-temporada sempre nos pregam algumas peças, mas desta vez, os que foram realizados em Losail, visando a abertura da temporada 2024 do World Endurance Championship, confirmou para esta primeira etapa, realizada na mesma Losail, que a Porsche está num nível muito acima do que vimos no ano de 2023 quando os LMDh foram inseridos no certame mundial. E não apenas os carros alemães, como também os curiosos Peugeot 9X8, estiveram muito bem nessa etapa de abertura.

Fosse com a Penske, fosse com o JOTA, a Porsche sempre esteve com ótimas condições de conquistar a etapa de abertura deste mundial e a principio não teria um rival a altura, mesmo que de última hora a Toyota tenha aparecido com um ótima segunda posição na qualificação através de Nicky De Vries, que estreou na equipe japonesa, e levou o GR010 #7 à primeira fila. Mas isso acabaria sendo apenas um sonho bem curto, já que na largada acabaria sendo engolido pelo pelotão e ficaria, por toda a prova, flutuando entre o oitavo e terceiro lugar. 

A Porsche ainda teria um pequeno desafio quando a Peugeot, com o 9X8 #93, conseguiu ascender à liderança com um ritmo alucinante imposto por Nico Müller que conseguiu assumir a ponta no final da primeira hora de corrida sobre uma também surpreendente Ferrari, que teve uma bela ascenção à ponta da corrida com Miguel Molina no comando do 499P #50 na primeira meia hora, mas com a mancada de ter queimando a linha branca da saída de box, jogou por terra uma chance da equipe italiana ter brigado pela vitória. Aliando isso ao fato do #51 também ter sofrido com problemas com a parte traseira que se soltou inteira, depois que a presilha quebrou proveniente de um toque com um LMGT3 quando James Calado estava em seu turno. O outro Ferrari 499P de #83, nas cores amarelo e vermelho - usando o inverso dos dois oficiais - e que estará cuidados da AF Corse - a parte semi-oficial da Ferrari - esteve muito bem com o trio formado por Robert Kubica/ Robert Shwartzman/ Yefei Ye e seria um dos bons canditados a pegar o pódio se não fosse problemas, também, com a parte traseira do protótipo. Enquanto que os carros oficiais fecharam em 7º e 14º (#50 e #51), o #83 foi o melhor dos italianos ao terminar em quinto com uma volta de atraso para o vencedor. 

A Cadillac também esteve numa boa jornada, ainda que seu início tenha sido em atribulado quando Alex Lynn, no comando  do V.Series.R #2, acertou o Peugeot #94 na primeira curva após a largada - ainda que houvesse uma suspeita de que ele tenha sido tocado pelo Porsche #38 da Hertz JOTA que, dessa forma, teria desestabilizado para este toque no Peugeot. Isso acabou os levando a troca a dianteira e tirando deles uma boa oportunidade, mas o ritmo mostrado por Lynn/ Sebastian Bourdais/ Earl Bamber para a recuperação do carro americano, deixou uma impressão do que eles poderiam ter feito em condições normais. 

No campo dos estreantes, além do Ferrari da AF Corse que conseguiu um ótimo quinto lugar, tivemos a BMW com seus dois M Hybrid V8, a Lamborghini com o SC63, Alpine com os seu A424 e a Isotta Fraschini com o Tipo-6C. A Alpine fechou em oitavo com o #35 e em 12º com o #36 e apesar do cenário não ser dos mais encorajadores, os carros franceses tiveram ritmo decente, inclusive conseguindo um brilhareco ao chegarem aos primeiros lugares com as paradas de boxes. Philippe Sinault, chefe da Signatec Alpine, destacou a importância em fechar com os dois carros: “Fizemos uma corrida limpa e terminar com os nossos dois carros, incluindo um entre os dez primeiros, é uma boa conquista. Demos mais um passo em frente, mas sabemos que ainda há um longo caminho a percorrer. Devemos continuar a aprender e adquirir conhecimento e experiência em todas as áreas.”

A BMW fechou com o #20 na 11ª posição, enquanto que o #15 teve problemas já na parte final da corrida, o relegando para o 15ª lugar. Lamborghini e Isotta Fraschini tiveram desempenhos bem discretos, sendo que o SC63 #63 da Iron Lynx tenha fechado em 14º na corrida, com cinco voltas de atraso para o vencedor, e o Isotta Fraschini #11 conseguiu se sustentar até a volta 157 quando aconteceu o abandono - isso sem contar numa punição de 200 segundos por conta de uma infração. 

O duelo entre Porsche e Peugeot

Foi uma jornada positiva da Peugeot em Losail, até a falta de combustível acabar com todo trabalho
(Foto: Peugeot Sport/ X)


O desafio que a Peugeot impôs aos Porsche foi algo impressionante, já que vimos bem como foi a temporada dos franceses em 2023 - ainda que eles tivessem uma boa velocidade de reta que foi demonstrada algumas vezes, especialmente em Le Mans. Mas desta vez, foi uma disputa que terminou quando o mesmo Nico Müller, que havia dado à Peugeot a oportunidade de entrar na briga, acabou errando a primeira curva e proporcionando o Porsche #6 do Team Penske a chance de assumir a liderança, que era perdida apenas nas paradas de boxes.

Ainda que o que carro alemão estivesse na liderança, o Peugeot #93 não esteve longe em toda a sua jornada, dando o indicativo que qualquer que fosse o vacilo do Porsche 963 #6 da Penske desse, eles estariam prontos para assumir a dianteira. Mas o Peugeot #93 quando estava prestes a conquistar a segunda posição, acabou sofrendo uma perda de potência na abertura da penúltima volta e isso facilitou bastante a vida do outros dois Porsche 963 do Hertz Team JOTA #12 que duelava ferozmente com o da Porsche Penske #5 pela terceira posição. Foi um grande desaire para a fabricante francesa, que estava prestes a conquistar o seu melhor resultado no WEC - Jean Eric Vergne, que estava no comando do #93, ainda conseguiu fechar em sétimo, mas seria desclassificado já que não conseguiu retornar aos boxes (e consequentemente ao parque fechado) por condições próprias, já que havia usado o motor elétrico na tentativa de completar a corrida. 

Para a Porsche, foi um início absurdamente positivo, juntando esta vitória na abertura do WEC a conquista recente nas 24 Horas de Daytona. Para não dizer que a Porsche Penske não sofreu algo, tiveram um bom susto quando houve um contato do #6com o Lexus da classe LMGT3 quando a corrida já estava próxima do encerramento. Houve uma quebra considerável do lado esquerdo do Porsche, na altura do número luminoso, e isso passou a dificultar a pilotagem de Kevin Estre. “O contato foi lado a lado em uma curva de alta velocidade e o controle da corrida julgou que era culpa do carro GT. Tivemos que reagir e decidir o que queríamos fazer. Todos estiveram à altura da ocasião” disse Jonathan Diuguid que é diretor administrativo da equipe Penske. O carro foi levado aos boxes para uma rápida parada de box para que fosse recolocado o adesivo com o #6. Kevin Estre destacou este momento tenso para eles, assim como o ótimo trabalho da equipe e também o bom momento neste inicio de temporada: “Foi um pouco louco, para ser sincero. Tive um grande impacto com o Lexus, tivemos muita vibração depois disso e nenhuma aderência. Tornou-o picante até o fim. Mas toda a equipe fez um trabalho incrível, sem problemas. Estou muito feliz com onde estamos hoje em comparação com onde começamos no ano passado”

Por outro lado, além da adoção do BOP, onde os carros da Porsche, Cadillac e da Peugeot eram mais leves frente aos da Toyota e Ferrari e conseguiram otimizar esse fator num circuito com pista extremamente plana (sem ondulações), o que ajudou, também, na conservação dos pneus - algo que deu uma bela dor de cabeça à Toyota, por exemplo - e fluidez na aerodinâmica dos dois principais carros desta etapa inicial, acabaram dando a eles uma vantagem considerável que provavelmente possa cair já na etapa seguinte, nas 6 Horas de Ímola. 

Na estréia da nova classe LMGT3, a Porsche venceu também através do 911 LMGT3 R 992 #92 da Manthey Pure Rxcing que foi pilotado por Alex Malykhin/ Joel Sturm/ Klaus Bachler depois de uma batalha bem interessante contra o Aston Martin Vantage AMR LMGT3 2024 #26 da Heart Of Racing pilotado por Ian James/ Daniel Mancinelli/ Alex Riberas e em tercerio o outro Aston Martin #777 da D'Station Racing.


A Manthey Pure Rxcing teve a primazia de ser a primeira vencedora da nova classe LMGT3
(Foto: Andrew Hall/ Dailysportscar)

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Foto 1038 - Quando conheci Wilson Fittipaldi

Wilson Fittipaldi na época da GT3 Brasil
(Foto: Instagram)


Nestes quase 22 anos frequentando Interlagos, tive a oportunidade de estar junto de pessoas que até então eram praticamente inalcançáveis, justamente por estar apenas do outro lado da telinha e ver aquilo como um sonho que, um dia, quem sabe, poderia realizar.

Nessa toada de poder dividir espaço com pessoas divinas, estive ao lado do Wilsinho Fittipaldi em algumas ocasiões quando ele foi por algum tempo comissário nas provas do Campeonato Paulista de Automobilismo ali no finalzinho dos anos 2000, justamente num período que ele retomou a sua vida de piloto para correr em algumas temporadas do saudoso GT Brasil ao lado do seu grande irmão Emerson Fittipaldi no Porsche 911 da equipe do Washington Bezerra - para nós que não pudermos vê-los no auge de sua juventude, foi uma dádiva vê-los em competição.

Naquele tempo eu ficava na antiga torre de controle de Interlagos - como um conhecido meu dizia, “era de lá que víamos o bicho pegar” - e de vez em quando levava anuários e revistas do meu acervo para que pudéssemos folheá-las quando as coisas estivessem mais “calmas”. Foi exatamente numa dessa que levei o anuário “O Ano do Automóvel 1974/ 1975” para que ele pudesse autografar. Ficávamos no terceiro andar e num dos raros momentos de pausa que o Campeonato Paulista nos dá, fui até ele e pedi para autografar uma das páginas, onde ele justamente aparecia a bordo de sua obra prima, o FD-01. Sentado no canto direito da antiga torre, que dava vista a toda reta oposta e entrada e contorno do Larajinha, ele gentilmente pegou a caneta, abriu um sorriso, escreveu seu nome de forma abreviada “W.Fittipaldi” e me entregou o anuário. Agradeci e saí para o outro lado, feliz como uma criança que havia acabado de ganhar um brinquedo - e detalhe é que este mesmo anuário seria autografado meses depois pelo Emerson em duas páginas.

A primeira vez que tive contato com o nome do Wilsinho remonta a sua participação na Stock Car, principalmente quando ele pilotou um Omega com as cores da Marlboro que, para nós que vivenciamos a era de ouro dos patrocínios marcantes, este é um dos mais emblemáticos da história do motorsport. Ter um carro com as cores da famosa marca de cigarros correndo num campeonato nacional, era sinônimo de associar de imediato com os carros da Mclaren e Penske.

O Manual do Automobilismo da Disney também deu um pequeno espaço para o Copersucar Fittipaldi, trazendo um resuminho bem bacana para a molecada se interar sobre a equipe brasileira chefiada por Wilsinho. Foi naquele momento, lá na metade dos anos 1990, que pude começar a entender a grandeza de Wilson à frente do projeto brasileiro que, junto do saudoso Ricardo Divila e Emerson Fittipaldi, puderam colocar o sonho de entrar no mais alto nível de competição que era a Fórmula-1 já naquele período da década de 1970. Foi uma epopeia árdua, que renderam momentos magníficos para o nosso motorsport nacional, quando Emerson chegou ao segundo lugar no GP do Brasil de 1978 realizado em Jacarepaguá. Uma pena que a falta de apoio e maior paciência não deram um norte à equipe, mas ficava claro que se as coisas caminhassem bem, podiam ter ido muito além.

Eu já em Interlagos, agora em 2006, tive a oportunidade de ver o FD-01 lindamente restaurado com apoio da DANA e que foi levado à pista algumas semanas antes e depois foi o carro madrinha nas Mil Milhas daquele ano e claro, com Wilsinho ao volante de sua cria.

Mas de todas essas a que mais eu tive satisfação em ver, ainda que não tenha sido em loco, foi a sua vitória nas Mil Milhas de 1994 ao lado de seu filho Christian Fittipaldi. Foi justamente nessa que eu pude descobrir a grande prova e ao mesmo tempo, presenciar uma das mais emotivas conquistas de pilotos brasileiros nessa prova, justamente envolvendo pai e filho numa mítica corrida criada ainda nos anos 1950 e realizada pela primeira vez em 1956 pelo Grande Wilson “Barão” Fittipaldi ao lado de Eloy Gogliano. Certamente o Barão, que esteve no grid da prova, ficou feliz em ver seus herdeiros vencendo pela primeira vez a lendária corrida.

Wilsinho ainda teve todo tempo para ajudar a desenvolver o forte campeonato da Fórmula Vee - revivendo sua criação que ele e Emerson fizeram por aqui nos 1960 - aqui em São Paulo, que faz parte do nosso Campeonato Paulista há mais de dez anos. Junto de seu amigo de longa data, Ricardo Divila, esteve no comando da reformulação do carro e também atuou como conselheiro por ali. É mais um dos legados deixados por estes dois grandes gênios do nosso motorsport.

Wilson fazia aniversário dois dias após este que vos escreve, tendo nascido em 25 de dezembro de 1943 e vivido uma vida a pleno, conseguindo deixar uma marca indelevel no nosso motorsport de uma forma que, para aqueles que um dia possam ler sobre a sua vida, possam saber o tamanho da contribuição que ele deu ao no automobilismo.

O homem que ajudou a dar vida a um dos mais corajosos projetos do nosso automobilismo, nos deixou hoje aos 80 anos.

Nosso eterno agradecimento.

 

Parte do Manual de Automobilismo lançado ainda nos anos 1970

O autógrafo de Wilson Fittipaldi no Anuário "O Ano do Automóvel 1974/ 1975"

sábado, 30 de dezembro de 2023

Foto 1037 - Adeus, Gil


Gil De Ferran em Portland 2001 
(Foto: Rick Cameron/ Flicker)


Gil De Ferran desempenhou um papel importante no nosso automobilismo lá fora. Ele e André Ribeiro, para falar a verdade, foram caras importantes para manter a moral do torcedor brasileiro elevada após os acontecimentos de 1994 e a forçada aposentadoria de Emerson Fittipaldi em 1996.


Eram dois caras dos quais a gente depositava uma mega esperança nas corridas quando ligávamos a TV no domingo, trocando a tradicional manhãs pelas tardes, esperando ansiosamente pela performance destes - ao lado de Christian Fittipaldi - na esperança de vitórias. Foi emocionante ver a gigante conquista de Ribeiro em Jacarepaguá 1996 e de bater palmas pela magnífica conquista de Gil em Portland no mesmo ano. Estávamos bem representados e melhor: o sentimento de que poderíamos voltar a gritar a plenos pulmões que éramos campeões de uma categoria top, era bem possível.

Como sabemos bem - aprendendo as duras penas - vimos que o automobilismo é ingrato - apenas a vitória de Maurício Gugelmin em Vancouver 1997 foi o fio de esperança que nos agarramos por quase dois anos até Gil voltar a vencer em Portland 1999. Um alívio e tanto, diga-se.

A transferência de Gil para a Penske renovava ess esperança a partir de 2000 e ele não decepcionou, ao cravar os dois títulos na categoria em 2000 e 2001 de forma espetacular - como não vibrar com a ultrapassagem sobre Kenny Brack em Rockingham nas voltas finais? De quebra, ele ainda se tornaria o homem mais veloz do mundo num circuito ao cravar 241,428 mph (388,541 km/h) na qualificação para as 500 Milhas de Fontana de 2000, prova que ele acabaria por vencer. E três anos depois, ele entraria para o Olimpo do Motorsport mundial ao vencer as 500 Milhas de Indianápolis, formando uma inédita trinca brasileira, com Hélio Castroneves em segundo e Tony Kanaan em terceiro.

A imagem de Gil vencendo com um carro nas cores da Marlboro, automaticamente o associou a um dos momentos mais brilhantes do nosso esporte onde Emerson e Ayrton conseguiram boa parte de seus feitos trajando as cores da famosa marca de cigarros, que virou sinônimo de vitória por aqui e ajudou a resgatar o orgulho de vermos um piloto brasileiro no mais alto lugar do pódio. E claro, ajudou a pavimentar um caminho que já estava sendo muito bem aproveitado por Hélio Castroneves e Tony Kanaan.

A sua partida neste 29 de dezembro deixa uma lacuna imensurável no nosso motorsport, mas ao mesmo tempo nos trás as melhores lembranças de um período vitorioso quando ainda olhávamos com desconfiança se algum piloto daqui ainda chegaria a um importante título.

Foi um período glorioso e podemos, sim, afirmar, que foi a segunda era dourada do nosso Motorsport, mas desta vez na terra dos ianques.

O que nos resta agora é fazer um tributo e não deixar que seu legado seja esquecido.

Obrigado por tudo, Gil de Ferran.

domingo, 12 de novembro de 2023

4 Horas do Velopark - Problemas, chuva e vitória para Xandinho e Gomes

 

O Ligier JS P320 de Xandinho Negrão/ Marcos Gomes enfrentando o aguaceiro no Velopark
(Foto: Bruno Terena)

As corridas no pequeno traçado do circuito do Velopark costumam ser bem intensas, justamente pela natureza do autódromo situado em Nova Santa Rita onde o tráfego é sempre um desafio a ser considerado, principalmente pela diferença entre as três classes do Império Endurance Brasil. Dessa vez, as coisas não foram diferentes e alguns contratempos forçaram os principais favoritos ficarem pelo caminho e ainda teve a chuva, que deu uma embaralhada nas cartas na parte final da classe GT3.

O primeiro grande favorito, que se destacou logo de cara, foi o AJR #28 de Sarin Carlesso/ Gustavo Martins que saiu da pole e que fez uma primeira hora muito forte, indicando que a chance de vitória era iminente. Mas problemas no carro começaram a aparecer na metade da prova quando ocupavam a terceira posição e passaram a despencar na classificação, para mais tarde abandonarem com problemas no câmbio. Da mesma forma que este #28 da JLM, os demais AJR não tiveram uma grande tarde: o #35 da JLM (Pedro Queirolo/ David Muffato) enfrentaram problemas e não tiveram chance alguma de conquistar algo melhor do que o oitavo na geral e quinto na P1; o #99 da Box99 (Leandro Romera/ Pietro Rimbano), vencedora da Cascavel de Ouro, conseguiram recuperar voltas de atraso com as entradas de SC e entraram na disputa pela vitória pressionando bem ora o Ligier #9, ora o AJR #75, mas um toque com o Mercedes #83 de Marco Billi/ Mauricio Billi/ Max Wilson – quando este último estava no comando durante a chuva – acabou arrebentando parte da asa traseira e tirando deles a possibilidade de lutar pela vitória, ficando em segundo. O #75 (FTR) de Henrique Assunção/ Fernando Fortes também apareceram muito bem, mas o uso do pneu de chuva ainda quando a pista estava seca, os levaram a cair na tabela da classificação e infelizmente tiraram deles uma boa possibilidade de tentar a vitória. Fecharam na sexta posição na geral e em terceiro na P1.

Outro que parecia ter ritmo para tentar a vitória era o Sigma #12 de Aldo Piedade/ Marcelo Vianna/ Sergio Jimenez/ Jindra Kraucher que acabou recebendo uma batida por trás do Mercedes #31 de Marco Pisani/ Renan Guerra quando Pisani estava ao volante no final da reta oposta. Isso acabou quebrando o eixo traseiro esquerdo e forçando o abandono prematuro do carro da equipe TechFoce. Pegando gancho em relação aos Sigmas, esta não foi uma corrida generosa com eles: além do #12, os dois da Motorcar não tiveram uma boa jornada. O #11 de Emilio Padron/ Fernando Ohashi/ Arthur Gama estava com bom ritmo e chegaram desafiar o #28 da JLM, mas houve um entre os dois carros com o lado esquerdo do Sigma ficando danificado. No decorrer da prova o ritmo do #11 começou a cair e o trio abandonaria na volta 51. O outro Sigma da Motorcar, o #444 conduzido por Vitor Genz/ Vicente Orige/ Luiz Bonatti, não tiveram o mesmo ritmo que os coroaram nessa mesma pista no mês de julho, quando conquistaram a vitória, e terminaram na sétima posição na geral e em quarto na P1.

Os Ligier também não ficaram de fora dos problemas, seja antes ou durante a corrida. Pior para o #117 da BTZ (Pedro Burger/ Gaetano Di Mauro) que abandonaram na volta 69 quando sofreram um apagão em plena reta dos boxes.

Se o Ligier da BTZ não teve uma boa jornada, o #9 da Andreas Mattheis teve um inicio complicado já nos treinos e que seria esticado até a madrugada, quando foi feita a troca de motor no carro depois da equipe não ter ficada satisfeita com o rendimento na qualificação. Na corrida, foi um jogo de paciência para escapar das armadilhas de um tráfego intenso, entremeado com a pilotagem precisa de Xandinho Negrão e Marcos Gomes, que apareceram como favoritos ainda na primeira meia hora de corrida. Com os demais que iam à frente enfrentando problemas e/ou incidentes, eles já estavam na liderança na metade prova e por ali ficaram. Sofreram um susto quando sofreram um leve toque do Sigma #444, mas nada que tirassem deles a oportunidade e na chuva foram precisos, continuando com a tocada perfeita após a paralisação por conta da forte tempestade.

A vitória veio, a segunda deles no campeonato, mas desta vez em pista, já que em Goiânia, na rodada dupla de setembro, eles venceram a primeira prova após a vistoria técnica desclassificar o Ligier #117. Xandinho Negrão comentou sobre essa conquista no Velopark, aproveitando, também, para parabenizar toda equipe pelo empenho: “É sempre diferente quando se ganha na pista. Estou muito feliz. Os mecânicos fizeram um trabalho incrível e ficaram até às três horas da manhã trocando o motor. A equipe está de parabéns, foi muito emocionante e muito legal e quero agradecer a todos pelo apoio”. Marcos Gomes também destacou a conquista, assim como a chance de conquistar o título na derradeira etapa em Velo Città: “Estou muito feliz com nossa primeira vitória na pista. Queria parabenizar toda a equipe pelo trabalho excelente. Agora, vamos para a última etapa com chances reais de título na geral, o que ainda não conquistei em minha parceria com o Xandinho, mas espero que seja neste ano!”

Mercedes e Mustang vencem nos GTs

 

O Mercedes "Caolho" de Maurizio e Marco Billi e Max Wilson, os vencedores da GT3
(Foto: Bruno Terena)

A GT3 teve um bom cenário desde o início quando viu o Mclaren 720s GT3 #16 da Blaumotorsport, pilotada por Marcelo Hahn/ Allan Khodair, liderar com um ritmo forte e se credenciando para a vitória. No término da primeira hora de corrida, o Mclaren apresentou problemas de câmbio que deixou o carro travado na segunda marcha e por mais que tivessem tentado resolver, acabaram abandonando. O caminho ficou aberto para que os Mercedes do Team RC #83 (Marco Billi/ Mauricio Billi/ Max Wilson), #27 (Caca Bueno/ Ricardo Baptista) e #8 (Guilherme Figueroa/ Julio Campos) e o Porsche #55 da Stuttgart Motorsport (Ricardo Mauricio/ Marçal Muller/ Marcel Visconde) entrassem numa enorme batalha.

O Mercedes #8 teve a sua vida complicada com dois furos de pneus no lado dianteiro direito, que os tiraram da briga pela vitória ao abandonarem na volta 138. No entanto, a batalha continuou entre os outros três, com a chance pendendo inicialmente para o Porsche #55 e depois passando para os dois Mercedes do Team RC.

Um pouco antes da paralisação por conta do temporal, Max Wilson, no comando do Mercedes #83, esteve em evidência quando optou em usar pneus de chuva assim que o aguaceiro se fez presente e passou a rodar mais rápido que os protótipos, criando, assim, uma possibilidade, ainda que remota, de tentar beliscar uma vitória na geral – ainda precisando descontar uma desvantagem de duas voltas. Foi neste momento que ele teve um toque com o AJR #99, que danificou a parte dianteira direita do Mercedes e a asa traseira do #99.

Após a paralisação, tivemos um duelo intenso entre o #83 e o #27, quando este último, com Caca Bueno no comando, acabou sendo ultrapassado por Max Wilson. O #27 ainda perderia a segunda posição da classe para o Porsche #55, que contava com Ricardo Mauricio no comando e que tentou uma aproximação ao Mercedes #83. Max Wilson conseguiu controlar a distância e passou para vencer, seguido pelo Porsche #55 e do Mercedes #27 – na geral, terminaram em terceiro, quarto e quinto respectivamente. Marco Billi comentou sobre a conquista na classe: “Foi muito bom voltar assim, em grande estilo, com vitória. Fazia tempo que não andávamos na frente. O carro estava bastante competitivo, todos nós conseguimos imprimir um ritmo de corrida muito forte e acertamos o momento de fazer a troca para os pneus de chuva. Foi uma vitória muito importante para nós”

Essa classe não contou coma participação do BMW M4 GT3 #15 da EMS Motorsport pilotado por Átila Abreu/ Leo Sanchez, que saíram dessa etapa em protesto por conta do BOP que, segundo eles, os penalizavam entre 7 e 8 décimos de desvantagem em relação aos aspirados. No entanto, a categoria rebateu que foi feito uma compensação no aumento da pressão do turbo em 6% e uma redução de 10kg.

A festa de Leandro Ferrari e André Moraes Jr
vencedores da GT4
(Foto: Bruno Terena)
Na GT4 os principais favoritos tiveram seus contratempos: no Mercedes #31 da Autlog Racing (Marco Pisani/ Renan Guerra) acabaram sendo desclassificados quando Pisani acertou a traseira do Sigma #12 e forçou o abandono do protótipo com a quebra do eixo traseiro esquerdo – e ainda teve o lance que quase provocou um acidente com o Ligier #117 da BTZ, quando Pisani mudou repentinamente em direção a entrada dos boxes e forçou Pedro Burger a sair pela grama justamente quando estava em batalha contra o Ligier #9.

Este cenário parecia bem favorável ao Porsche #21 de Jacques Quartiero/ Danilo Dirani que estão na
briga pelo título da classe justamente contra o #31, mas um acidente quando Quartiero estava no comando do Porsche após o trecho do túnel, os forçaram abandonar.

O caminho ficou aberto para a conquista do Mustang #22 da Autlog (Leandro Ferrari/ André Moraes Jr.), nesta que foi a primeira conquista deles no ano com o Mustang. Luis Landi/ tom Filho/ Marçal Muller ficaram em segundo com o Porsche #718 da Stuttgart Motorsport e em terceiro fechou o Audi #5 da MC Tubarão pilotado por Henry Visconde/ Marco Tulio – a equipe ainda sofreria um susto quando o BMW M2 #64 conduzido por Victor Foresti/ Lucas Foresti teve um principio de incêndio na parte final da corrida, mas sem consequência para os pilotos e o carro. Leandro Ferrari comentou sobre essa vitória com o Mustang: “A gente merecia muito alcançar essa vitória. Fazia tempo que não conseguíamos ter uma sequência com esse carro. Sofremos com quebras, problemas. Mas neste final de semana não. Foi perfeito. Treinamos bem, fizemos a pole e conquistamos uma vitória incrível. Estamos muito felizes”

A etapa final do Império Endurance Brasil acontecerá no Velo Città, nos dias 8 e 9 de dezembro.

terça-feira, 7 de novembro de 2023

Foto 1036 - O fim de uma bela época

(Foto: Sutton Images)

Final de temporada no GP da Austrália era sempre uma bela festa. Talvez pudéssemos até mesmo considerar como um "GP Amistoso", já que quase sempre o campeonato chegava ali decidido - exceto a excelente prova de 1986 que coroava pela segunda vez consecutiva Alain Prost como campeão do mundo. Mas aquela de 1993 envolvia muita coisa, não apenas por se tratar da corrida final daquela temporada, mas também por ser os derradeiros de dois dos maiores personagens da categoria naqueles últimos nove anos: Alain Prost e Ayrton Senna chegavam ao final de suas carreiras, mas de formas diferentes. O francês estava na sua última jornada num carro de Fórmula-1 já carregando seu recente quarto título mundial que fora conquistado no Estoril. O brasileiro, ainda em forma, estava discutindo o vice campeonato contra Damon Hill que seria o seu futuro companheiro de Williams em 1994, justamente no lugar de Prost. 

O final de semana foi o melhor dos mundos para o piloto brasileiro: motivado, ele conquistou uma impressionante pole com mais de meio segundo de vantagem sobre Alain e Hill, que apareciam em segundo e terceiro respectivamente. Na corrida, a vitória veio quase de ponta a ponta - Prost conseguiu liderar entre as volta 24 à 29 -, e Ayrton acabou chegando com nove segundos de vantagem sobre o francês e trinta e três sobre Damon, numa corrida em pista seca onde ele pôde dominar amplamente os pilotos da Williams que experimentavam novos acertos em seus FW15 já que os problemas nos treinos os deixaram bem abaixo de uma possível luta contra Ayrton Senna e sua Mclaren Ford. Azar de uns, sorte de outros e nisso Senna acabava por conquistar seu vice-campeonato com 73 pontos contra 69 de Hill.

Emoções

(Foto: Pinterest)

Bem como dito anteriormente, essa prova australiana era uma tremenda festa de encerramento, mas desta vez as coisas estão mais sensíveis. Ayrton Senna está em sua derradeira corrida pela Mclaren, um local que lhe deu a oportunidade de conquistar seus três títulos mundiais e automaticamente ser lançado à piloto por excelência da história da equipe - algo que perdura até os dias atuais. Todos os movimentos ali dentro parecem ser bem cuidadosos para que fosse um desfecho dos melhores para todos - e o que acabou sendo com a conquista de Ayrton, que ainda renderia à equipe o vice no Mundial de Construtores e o recorde absoluto de vitórias na F1 (104) , além do próprio ter ampliado sua marca pessoal na equipe para 35 vitórias. "O mais importante é guardar os bons momentos que vivemos juntos, e quero agradecer a todos os patrocinadores como Shell, Marlboro, Boss, Honda, e todos os que me ajudaram. Ganhei amigos e o respeito deles. E tenho por eles os mesmo sentimentos. Isso é o mais importante. Esta temporada deu-nos um desafio muito duro, que enfrentamos".

Do outro lado da trincheira, Alain Prost também sinalizava o fim de sua estadia na categoria o que viu erguer quatro taças de Campeão Mundial e, obviamente, tornar-se um dos maiores da história, ficando agora apenas atrás de Juan Manuel Fangio em número de títulos, mas carregando para ele o recorde absoluto de vitórias (51). "Quando se sabe que enfiamos o capacete integral pela última vez, e que pomos as luvas pela última vez, e que escorregamos para dentro do cockpit de um F1 pela última vez, é muito dificil manter a concentração. Hoje estava realmente motivado. Queria fazer uma boa corrida. Mentalmente não é nada fácil abordar a nossa última corrida: queremos fazer o melhor possível, evitando ao máximo cometer um erro. Fiquei feliz em por ter subido ao pódio. Claro que teria gostado ganhar, mas foi dificil. Esforcei-me muito para manter a concentração. Paciência: é o fim da história. Depois da bandeirada, na minha volta de arrefecimento, disse para mim próprio que podia suspirar: em treze temporadas de F1, nunca me feri gravemente!''

Em torno de toda essa atmosfera e fim de festa - e até mesmo com uma pitada de melancolia - o que boa parte esperava era de uma reconciliação entre os dois melhores pilotos dos últimos tempos. Segundo Prost, ele chegou procurar Senna entre as duas provas finais, mas o brasileiro não lhe deu retorno. Porém, um primeiro gesto dado pelo brasileiro assim que terminou o briefing dos pilotos - onde Roland Bruynsereade encerrou a reunião com "Alain, obrigado por tudo que você fez e boa sorte em sua vida", que logo tomada por uma salva de palmas e cumprimentos dos pilotos que lá estavam, inclusive Senna. 

Ao terminar da corrida, no parque fechado, eles também se cumprimentaram, sempre com Ayrton a dar o primeiro passo. No pódio, a cena que tornou-se icônica: um pouco antes da premiação, Ayrton puxou Prost para o alto do pódio e fez o mesmo com Damon Hill. Pouco tempo depois, voltaria a fazer ao puxar Alain para o primeiro lugar quando os troféus foram distribuídos. Os aplausos esfuziantes do público que estava logo abaixo do pódio, demonstra o tamanho da admiração por estes dois gênios e também da atitude de Senna para com Prost. 

A coletiva de imprensa continuou com a mesma atmosfera alegre entre os dois agora ex-rivais, com risadas e desabafos alegres dos dois grandes pilotos: "Devemos privilegiar essa imagem desportiva. Ayrton e eu passamos bons momentos juntos, principalmente em 1988. Com a minha saída, o melhor é relembrar apenas as boas lembranças, os aspectos bons da nossa rivalidade esportiva", disse Alain Prost que foi seguido por uma fala descontraída de Senna: "Na Mclaren, o maior problema que encontramos foi simples: Alain queria sair do circuito o mais rápido possível para ir jogar golfe! Impossível, forcei muito, os briefings duraram horas! Ele ficava me dizendo: 'Vamos, acabe com isso, quero ir jogar golfe!' Lembro-me perfeitamente!." Ayrton encerraria a conversa naquela coletiva ao analisar rapidamente aquele pódio em Adelaide: “O que podemos dizer hoje? Nossa atitude falou mais do que todas as palavras que poderíamos dizer com mais ou menos habilidade. Apenas os gestos realmente contam. Foi um belo pódio. Ele refletiu meus sentimentos. Dele também, eu acho".  

Alain já havia se reunido com os membros da Williams na quinta-feira em um restaurante no centro de Adelaide, onde acabou recebendo de presente dos mecânicos uma embreagem de presente após uma sessão no karaokê. 

Já Ayrton reuniu-se com o pessoal da Mclaren naquela mesma noite do GP para a confraternização final, onde o brasileiro foi agraciado com um quadro entregue por Jo Ramirez e mais tarde ele foi ao show da Tina Turner que o convidou para o palco quando ela estava para cantar "Simply The Best", tornando único aquele momento.


A melhor tradução de uma história


(Foto: Pinterest)

"
Como nas cédulas de dinheiro, revelando em filigrana o rosto de uma personagem célebre, a carreira de Alain Prost teve sempre a sombra de Ayrton Senna. Desde 2 de junho de 1984, num GP do Mónaco chuvoso que revelara o novo prodígio, o cenário da Formula 1 se articulou à volta destas duas personagens principais, que chegaram ao paroxismo de sua rivalidade em 1988 e 1989, os anos da sua coabitação na McLaren, levados com inteligência, mas pontuados por uma severa rutura.

Durante estes quase dez anos, os feitos de Prost não teriam talvez tido a mesma importância se Senna não existisse, e o contrário também é verdade. Será agora necessário nos habituarmos à ideia de um sem o outro. Como um casal jamais separado. Senna sem Prost, será um pouco D.Quixote sem o seu Sancho Pança.

Se já dá para sentir o vazio que a aposentadoria de Prost vai trazer a partir de 1994, Senna ficará ainda mais orfão que todos nós. Ao volante do seu Williams-Renault, o brasileiro, o último Campeão do Mundo ainda em atividade, vai se sentir bem solitário, mau grado todos esses jovens ainda longe de terem atingido a sua dimensão: Schumacher, Hill, Hakkinen e o nosso Alesi.

A sua caça aos recordes de Prost, notadamente o de vitórias, para o qual já só restam dez sucessos, fará provavelmente sobresair ainda mais a sua ausência do seu alter ego. Senna sabe tudo isso. como homem inteligente e sensível, não pode deixar de pensar nisso no momento em que derramou uma lágrima dpeois da chegada deste emocional GP da Austrália. Este romance que acaba de chegar ao fim com o adeu de Alain Prost, é também um livro que se fecha sobre ele. Na sua nova vida que chega, haverá um pouco da sua juventude que se vai."

Tive contato com este texto assim que ganhei o anuário 93/94 do grande Francisco Santos, jornalista português que é uma das minhas grandes fontes de inspiração, e ele foi reproduzido na parte final que trata do GP da Austrália. Este foi escrito pelo francês Francis Reste e foi publicado na segunda-feira do pós GP no jornal francês L'Équipe. 

Foi a tradução perfeita de dois personagens que tiveram suas carreiras intrisecamente ligadas desde o famoso evento da Mercedes na inauguração do novo traçado de Nurburgring intitulado de "Race Of Champions", onde Alain cravou a pole e teve ao seu lado o jovem piloto em segundo e que o passaria imediatamente após a largada para uma imponente vitória. “A primeira vez que eu realmente conheci, e falei com ele, foi em 84. Era um evento da Mercedes na Alemanha, onde fizemos uma pequena corrida em Nürburgring com um novo modelo da Mercedes, onde alguns pilotos e ex-pilotos de Fórmula 1 participaram. Alguém da Mercedes me perguntou se eu podia esperar Ayrton aeroporto, pois seu voo chegaria 15 minutos depois do meu e tínhamos somente um carro para ir até a pista. Essa foi a primeira vez que nós conversamos. Nosso papo durou cerca de três horas. Foi muito bom. Ficamos muito próximos, porque o Ayrton não conhecia ninguém lá. Ele estava sempre perto de mim durante os primeiros dias” falou o francês alguns anos depois. E pouco tempo depois, num chuvoso 3 de junho, em Mônaco, ambos quase entraram em duelo pela vitória no Principado e mais tarde dividiriam os pódio, com o francês a ficar com a primeira posição e Senna com o segundo. 

E foi interessante ver que ambos se esbarraram tantas vezes na corridas para depois dividirem o espaço na Mclaren, onde formaram, talvez, o Dream Team da Fórmula-1 e onde desencadearam a maior rivalidade da história da categoria. O pódio carregado de emoção em Adelaide, foi um desfecho memorável para uma história igualmente memorável. 

Mas a história não tinha acabado e a última página seria escrita em Paris pouco tempo depois.

Foto 1042 - Uma imagem simbólica

Naquela época, para aqueles que vivenciaram as entranhas da Fórmula-1, o final daquele GP da Austrália de 1994, na sempre festiva e acolhedo...