Mas houve, também, duas conquistas que são pouco lembradas –
infelizmente – e que tem a sua importância para a história: o titulo de Raul
Boesel no Mundial de Marcas de 1987, a bordo do belíssimo Jaguar XJR-8 da TWR, dando
o primeiro título brasileiro no automobilismo internacional que não fosse nos
fórmulas. Passaram-se doze anos para que outro piloto brasileiro, igualmente
paranaense como Boesel, também chegasse a um título de um certame tão
importante quanto aquele do World Sportscar. Ricardo Zonta, do alto de seus 22
anos, chegou a título da ainda novata – e já importante – FIA GT ao volante do
lendário Mercedes CLK GTR/ LM que dividiu com um mestre dos carros de turismo,
o alemão Klaus Ludwig.
Foi um ano de domínio amplo da Mercedes, vencendo as dez
etapas que compunham aquela temporada de 1998 – escapando apenas a desejada 24
Horas de Le Mans, que não fazia parte do calendário e que foi vencida pela
Porsche. Os grandes rivais de Zonta e Ludwig eram seus companheiros de Mercedes
Bernd Schneider (campeão de 1997) e o novato Mark Webber. Apesar da oposição da
Porsche com seus belos 911 GT1, estes não foram páreo para os Mercedes que
dividiram entre suas duplas as dez corridas (5-5), mas a maior regularidade da
dupla Ludwig/ Zonta acabou por premiá-los.
Da BPR ao FIA GT
O término abrupto do Mundial de Sport
Prototipos ao final de 1992 foi um duro golpe para as corridas de resistência
no seu todo. O grid de largada para as 24 Horas de Le Mans daquele ano computou
apenas 28 participantes, num dos mais esvaziados grids da história da prova o que já deflagrava a crise que instalara na
categoria após adotarem – por conta da FIA – o regulamento de motores 3.500cc,
os mesmos que eram usados na Fórmula-1. Com o desinteresse maciço das grandes
fábricas, o número de participantes caiu e a Peugeot teve apenas como ela mesma
a grande rival daquela temporada. Yannick Dalmas e Derek Warwick, com o Peugeot
905, foram os últimos campeões do certame.
A lacuna deixada pelo fim do Mundial de Sport Protótipo foi um passo importante para a criação de uma categoria que tornaria-se forte nos poucos anos em que se fez presente no cenário do motorsport: a BPR GT Global Series, criada pelo trio Jürgen Barth, Patrick Peter e Stéphane Ratel (a sigla BPR se deu a partir das iniciais dos sobrenomes de cada um dos fundadores), logo tomou conta das provas de endurance ao despertar o interesse de grandes fábricas. Mas ao contrário do que era empregado no antigo Mundial de Sport Protótipo, onde os grandes protótipos tinham sua vez, as estrelas deste novo campeonato eram os GTs - ou super carros, como queiram. Foi daí que surgiram grandes ícones do motorsport como o McLaren F1 GTR e Porsche 911 GT1 ou até mesmo o fortalecimento de outras grandes máquinas como a Ferrari F40, Bugatti EB110 e Jaguar XJ220, apenas para citar alguns.
O primeiro campeonato foi experimental, sendo realizado entre março e novembro de 1994 com oito etapas de quatro horas cada que compunham o calendário (sendo seis provas na Europa e duas na Ásia, no Japão e China. Estas duas provas saíam do eixo de quatro horas, sendo que em Suzuka eram disputadas 1000km e em Zhuhai três horas). Não teve um campeão atribuído para aquela primeira temporada.
Os anos de 1995 e 1996 viram o crescimento da BPR para com as construtoras, principalmente quando a Porsche estreou o volumoso e veloz 911 GT1 na temporada de 1996 conseguindo angariar três vitórias. Os títulos de 1995 e 1996 foram conquistados pelo McLaren F1 GTR (1995 Thomas Bscher/ John Nielsen - David Price Racing; 1996 Ray Bellm/ James Weaver - GTC Competition).
O grande sucesso do BPR fez com que a FIA tomasse as rédeas do campeonato transformando-o num mundial a partir de 1997. Deste modo nascia para o ano seguinte o Mundial de FIA GT.
Agora chancelado pela FIA o Mundial de FIA GT teria a participação da Mercedes com o seu CLK GTR, assim como Lotus, Panoz e Lister na categoria principal (GT1) para enfrentar os já aclamados McLaren F1 GTR (agora longtail) e Porsche 911 GTR. Apesar dos problemas iniciais, a Mercedes tomou de assalto o campeonato ao vencê-lo entre as equipes e com Bernd Schneider no campeonato de pilotos.
O campeonato
Após uma temporada onde a Mercedes iniciou cambaleante e terminou comemorando o primeiro título do FIA GT, o ano de 1998 reservava uma boa dose de expectativas em torno de como e quem poderia bater os carros prateados. Mas como todo certame, os favoritos não estariam de braços cruzados e eram os rivais que deveriam tentar algo para interver um domínio ainda mais amplo.
Mercedes - O fabuloso CLK GTR ainda tinha muito a oferecer quando o campeonato iniciou, mas o trabalho dos alemães foi primoroso e o que já estava bom superou ainda mais as expectativas e o grande carro estava infalível. A máquina que veio a seguir - a partir das 24 Horas de Le Mans (então extra-campeonato) - deixou ainda mais os adversários atordoados: o CLK LM continuou o rolo compressor, não dando chances aos concorrentes.
Mas o CLK GTR ainda teve vida útil: mesmo que não pudesse lutar por vitórias, o Team Persson Motorsport alinhou dois modelos que receberam uma das mais belas pinturas do motorsport na ocasião. Acabaram terminando o mundial de construtores na terceira colocação.
AMG Mercedes - CLK GTR e CLK LM
1 - Bernd Schneider/ Mark Webber
2 - Ricardo Zonta/ Klaus Ludwig
Team Persson Motorsport - Mercedes CLK GTR
11 - Christophe Bouchut/ Bernd Maylander
12 - Marcel Tiemann/ Jean-Marc Gounon
Panoz - A grande jóia de Don Panoz foi modificada para a temporada de 1998, tendo melhorias na dianteira e traseira do Esperante GTR-1 que foram eficazes para um melhor comportamento do carro em termos aerodinâmicos. Em algumas provas, como em Silverstone, Hockenheim e Dijon-Prenois, o único Esperante GTR-1 inscrito pela DAMS conseguiu dar algum trabalho a Mercedes e - principalmente - a Porsche. Mas ainda assim, ficava devendo nas demais provas.
Também foi testado uma variante híbrida do Esperante, denominada GTR-1 Q9 que foi entregue a David Price Racing que a testou por toda temporada. O sistema híbrido, que foi desenvolvido em parceria com a Zytek, tinha a mesma idéia do que hoje é usada pela Toyota (e que foi usada por Audi e Porsche) na LMP1Hque é o uso de um motor elétrico para ajudar a impulsionar as rodas traseiras (lembrando que hoje é usado um motor elétrico também na dianteira). O carro chegou a ir para os treinos em Le Mans, mas foi logo rechaçada a sua participação após uma baixa performance.
DAMS (Panoz Esperante GTR-1)
3 - David Brabham/ Eric Bernard
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(Foto: Carstenriede) |
Porsche - O seu 911 GT1 sofreu uma boa mudança no seu aspecto - o tornando mais "magro", frente ao seu antecessor - e também na geometria da suspensão dianteira para conseguir melhorar o desempenho frente ao Mercedes. Mas a verdade é que o carro tornou-se veloz nos treinos, chegando dar algum trabalho para a Mercedes. Mas nas corridas, apesar de um bom início, o desempenho despencava frente aos Mercedes e as chances de vitória se esvaíam.
A única vitória da Porsche se deu em Le Mans ao apostarem na resistência do seu conjunto. Enquanto que a Mercedes ia abandonando com o seu novo CLK LM e a Toyota também ficando pelo caminho com o seu GT-One, a Porsche foi subindo na classificação para conseguir, até aquele momento, a sua 16a vitória em Sarthe.
Além dos dois repaginados 911 GT1 inscritos pela fábrica, outros dois carros foram alinhados pela Zakspeed Racing. Um Porsche 911 GT1 EVO participou de duas provas, inscrito pela Larbre Compétition.
Zakspeed Racing (Porsche 911 GT1)
5 - Andreas Scheid/ Alexander Grau
6 - Michael Bartels/ Max Angelelli
Porsche AG (Porsche 911 GT1)
7 - Allan McNish/ Yannick Dalmas
8 - Jörg Müller/ Uwe Alzen
McLaren - O carro que dominou os anos da BPR Series e batalhou o título do primeiro ano do FIA GT contra a Mercedes em 1997, não tinha mais o mesmo desempenho.
O único McLaren F1 GTR Longtail - repaginado já em 1997 - que esteve regularmente nas corridas foi inscrito pela Davidoff Classic e pouco pôde fazer contra Mercedes, Porsche e Panoz.
O outro McLaren F1 GTR foi inscrito pela Parabolica Motorsports, competindo em apenas duas corridas.
Davidoff Classic (McLaren F1 GTR)
15 - Thomas Bscher/ Geoff Lees
Ainda na GT1, o Team Hezemans alinhou dois Bitter GT1 Chrysler que competiram em duas provas.
Ao todo nove equipes participaram da classe, entre as regulares e esporádicas.
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O Bitter GT1 Chrysler da equipe holandesa Team Hezemans. Participou apenas de Silverstone e Hockenheim. |
GT2
Apesar de ter sido a competição mais renhida do campeonato, a grande horda de Porsches 911 GT2 não foram páreo para os Chrysler Viper GTS-R do Team Oreca. Para não dizer que a Porsche não teve sucesso, alcançou apenas uma vitória com a equipe Roock Racing em Hungaroring.
O Marcos LM600 da Marcos Racing Internacional teve boas prestações nas qualificações ao anotar quatro poles.
Na GT2 foram 22 equipes ao todo.
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As máquinas a serem batidas na GT2: a exemplo da Mercedes na GT1, o Chrysler Viper praticamente não teve opositores, conseguindo vencer em nove das dez etapas do campeonato. |
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A equipe Roock Racing, com o Porsche 911 GT2, conseguiu apenas uma vitória na temporada conseguindo quebrar a grande sequência dos Chrysler Viper do Team Oreca. |
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O Marcos LM600 da Marcos Racing International: apesar de não dar resistência aos Viper e Porsche nas corridas, nos treinos se revelou um carro veloz ao anotar quatro poles. |
O campeonato foi composto por dez provas oficiais e mais a extra-campeonato que foi as 24 Horas de Le Mans. Nove provas tinham a distância de 500km e apenas Suzuka com a distância de 1000km, sendo sete na Europa e três fora do velho continente - o já citado 1000km de Suzuka, Homestead e Laguna Seca.
O sistema de pontuação seguia o da F1, distribuindo pontos para os seis primeiros das duas classes: 10, 6, 4, 3, 2 e 1.
O campeonato foi disputado entre 12 de abril e 25 de outubro.