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A segunda da Ferrari após o seu retorno à La Sarthe (Foto: Ferrari Hypercar/ X) |
Começar um texto sobre algo tão fantástico não é das melhores tarefas. É preciso ter uma sensibilidade para conseguir transmitir todas as emoções, refazendo os caminhos que foram presenciados para que o leitor possa sentir-se dentro do acontecimento e, ao ler, se "teletransportar" ao momento descrito para que ele também faça parte daquela situação, mesmo que esta tenha sido realizada a quilometros de distância. Certos momentos devem ser eternizados com o mais puro cuidado e a escrita é uma base sólida que leva o leitor a viajar. Retratar o automobilismo é uma destas artes que a escrita pode fazer, e quando a história é veridica, torna-se ainda mais saborosa e nos faz querer ainda mais ir à fundo e descobrir muito mais do que simples parágrafos tentam mostrar.
A edição das 24 Horas de Le Mans, a 92ª do grande clássico do Endurance Mundial, nos presenteou com uma corrida tão cheia de suspense e dramaticidade que causaria inveja a qualquer roteiro de cinema. Aliás, só a hora final em Le Mans, já garantiria uma película interessante onde a briga pela sobrevivência nos últimos 50 minutos daquela reta final onde o fracasso e glória estavam de mãos dadas.
O final foi fabuloso, assim como a própria corrida, que foi vendo alguns dos favoritos sendo deixados para trás até que as últimas horas deixassem cabeça a cabeça duas equipes que buscavam não apenas mais uma conquista na grande prova, mas também uma confirmação: para a Ferrari, uma das três grandes vencedoras de Le Mans, outra vitória neste local ratificaria o seu nome como uma das "Donas" deste circuito e, automaticamente, daria ao 499P a segunda vitória justamente onde veio a primeira um ano antes, já elevando o carro a um patamar de lenda. Para a Toyota, que venceu por cinco vezes em Le Mans, sempre houve alguém para lhe apontar o dedo sobre não ter nenhuma concorrente a altura quando colecionou os cinco triunfos em linha entre 2018 e 2022. Assim como em 2023, a oportunidade de vencer sobre fabricantes de peso e ter uma conquista de alto gabarito, era possível. Portanto, teríamos duas equipes de muita história batalhando contra outras tão grandes quanto, pela chance de fazer história mais uma vez.
Apesar da intromissão de Porsche e Cadillac, os caminhos de Toyota e Ferrari voltaram a se emaranhar assim como um ano antes, quando os italianos ganharam a contenda e fizeram ecoar pelo mítico circuito "Fratteli D'Italia" 58 anos depois pela geral. Mas desta vez, como já descrito anteriormente, muita coisa estava em jogoe assim as duas equipes entraram numa batalha gigante pelo troféu da 92ª Edição das 24 Horas.
Ainda que houvesse uma corajosa participação do amarelo 499P #83 da AF Corse, que também flertou com a vitória com um trio que ainda ganhará uma corrida - Robert Kubica/ Robert Schwartzmann/ Yifei Ye - as atenções se voltaram especialmente para o 499P #50 de Nicklas Nielsen/ Miguel Molina/ Antonio Fuoco e para o Toyota #7 de Kamui Kobayashi/ Nicky De Vries/ Jose Maria Lopez, que entraram numa caça de gato e rato que transformar-se-ia em minutos de alta tensão e dramaticidade para saber quem conseguiria chegar ao topo.
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(Foto: Getty Images) |
Essa disputa ainda traria alguns ingredientes bem interessantes: do lado da Ferrari, era a oportunidade do trio chegar à vitória na edição, que foi se esvaindo ano passado e tiveram que se contentar com a mega pole de Antonio Fuoco e em ver a tripulação do #51 chegar ao triunfo. Desta vez eram eles com a chance chegando cada vez mais perto. Do outro lado, Jose Maria Lopez recebera uma oportunidade de ouro, já que ele havia sido escalado para pilotar um dos Lexus que competiram na LMGT3 e com o acidente de bicicleta de Mike Conway, o argentino foi chamado às pressas para poder substituir o britânico no carro #7. Era a chance de poder mostrar que ainda tinha muita lenha para queimar no comando de um Hypercar.
Com o Toyota #7 largando de último na classe (23º entre os Hypercars) e o Ferrari #50 batalhando contra os demais que iam à frente, as duas tripulações se encontraram em condições de vitória nas duas últimas horas, mas nenhum dos dois carros estavam imunes a problemas: por três vezes o Toyota #7 sofreu com algum contratempo: De Vries precisou ir aos boxes assim que a relargada foi dada após o longo período de Safety Car em decorrência da forte chuva. O carro embaçou todo pára-brisa e ele precisou ir ao box para que a película fosse retirada, perdendo algumas posições, justamente quando ocupava o terceiro posto; Kobayashi sofreu uma queda de performance devido a falha no turbo e Lopez sofreria uma queda da mesma forma após uma das últimas paradas nos boxes. Já o Ferrari #50 não ficaria para trás, quando foi verificado que a porta do lado direito não fechava de jeito nenhum e assim acabaria sendo chamado para que esta fosse fechada corretamente, o que acabaria custando uma série de posições para quem estava liderando até então.
Foi a partir desse desaires que as coisas tomaram uma forma e começaram a definir como seria a reta final em Sarthe. A batalha de velocidade entre Nicklas Nielsen no Ferrari contra Jose Lopez no Toyota foi algo hipnotizante e isso tornaria-se o centro das atenções nos últimos 50 minutos: Nielsen procurando responder como podia a velocidade de Lopez, que foi um dos grandes nomes dessa edição justamente por estar numa forma absurda. Mas o dinamarquês da Ferrari conseguiram responder bem nessa troca de voltas rápidas - em plena pista molhada - para conseguir chegar nas duas últimas com uma carga de combustível próxima do critico - ao atingir menos de 10% - e ver uma diferença de 24 segundos despencar para 15.
Mesmo com toda sua velocidade, Lopez não conseguiu se aproximar naqueles minutos finais e a Toyota teve que se contentar em ver a Nicklas Nielsen fazer as últimas duas voltas em grande ritmo para levar o 499P #50 com apenas 4% de combustível. A explosão de emoção no box da equipe Ferrari AF Corse, foi um alivio de um sofrimento quase que palpável de uma tensão que foi compartilhada pelas câmeras da TV. Do outra lado, víamos a frieza da equipe japonesa, à espera de um milagre que, infelizmente, não veio.
De toda forma, a vitória da Ferrari, a 12ª da bela história da marca italiana em Le Mans, assim como a segunda consecutiva de um carro que ganhou apenas duas vezes e logo no solo sagrado, foi imensamente festejada e revitaliza uma equipe que poderia muito bem ter vencido ao menos uma - para não dizer todas - nesta temporada. Para a Toyota foi uma corrida brilhante, mas os seus azares voltaram pesar na hora da decisão, seja por problemas mecânicos, seja por ímpeto exagerado dos pilotos - as idas aos boxes do carros por furo de pneu, queda momentânea de rendimento e o erro de Lopez, quando tentava descontar a diferença para o Ferrari #50, foram fatores decisivos para este desaire da Toyota em Le Mans.
De toda forma, será uma das edições mais lembradas e celebradas da história
Hypercar - Uma mega batalha
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A enorme batalha entre os Hypercar: nove carros na mesma volta ao final da prova (Foto: Sportscar 365) |
Por muitos momentos, foi difícil indicar um real favorito para esta vitória em Le Mans. Nada mais que nove carros estiveram com boas condições de sair de La Sarthe com a vitória da 92ª edição no bolso: Ferrari, Toyota, Porsche e Cadillac estiveram num grande dia e qualquer uma delas teria vencido esta edição.
A Cadillac mostrava bom andamento deste o Test Day e a Hyperpole foi algo sublime vindo do Cadillac amarelo #3 através do filho da casa Sebastian Bourdais, que estava confiante na sua pole até que Kevin Estre tirasse da cartola para cravar a primeira posição no grid para a Porsche. Mas na corrida as coisas foram diferentes, com o #3 caindo pelas tabelas e muito pouco figurando entre os primeiros. Por outro lado, o #2 da equipe de Chip Ganassi estava muito bem e com uma estratégia alternativa, parecia um sério candidato à vitória. O trio formado por Earl Bamber/ Alex Lynn/ Alex Palou estiveram em ótima simbiose e conseguiram manter a esperança de vitória viva até a penúltima hora, com uma ótima condução nas mais variadas situações que o circuito proporcionou. “Lideramos a corrida por longos períodos de tempo. No final das contas, não pendemos a nosso favor com o clima no final. Mas isso é uma espécie de Le Mans e corridas. Podemos nos orgulhar como programa do que alcançamos, do quanto avançamos. Agora só precisamos de um resultado para mostrar isso. Fora isso, acho que demos grandes avanços", comentou Bamber ao Sportscar 365, após fechar em sétimo com seus outros dois companheiros. O outro Cadillac #3 da Ganassi, pilotado por Sebastian Bourdais/ Renger Van Der Zande/ Scott Dixon, abandonou na volta 223.
O Cadillac #311 da Action Express, que contou com os serviços de Pipo Derani/ Jack Aitken/ Felipe Drugovich, não teve grandes possibilidades de lutar pela dianteira, mas se manteve na volta dos líderes por um bom número de voltas. Mas quando estava com uma volta de atraso, Derani sofreu um acidente na Indianápolis e danificou bem o carro, que ainda conseguiu levar aos boxes e ser reparado e retornar algumas horas depois para receber a quadriculada. Pipo comentou sobre o acidente: “Não sabemos o que aconteceu, se foi algo que quebrou ou talvez um dos carros da frente trouxe para a pista um pouco de água que estava no meio-fio. Aconteceu tão rápido que não houve tempo para reagir.”. Eles fecharam na 29ª posição na geral.
Não tem como negar que a Porsche era uma das favoritas a conquistar essa edição, especialmente os da equipe Penske. A pole de Kevin Estre já é um dos grandes clássicos de Le Mans pela forma como foi conquistada, mas infelizmente o ritmo dos três carros não foram suficientes para que chegassem com totais chances de vencer. O #4 acabou sendo o mais problemático, seja por entreveros com outros carros, seja por penalizações e no fim acabaria se acidentando em Indianapolis num acidente bem parecido com o que sofrera o Cadillac #311 e, coincidentemente, com um brasileiro no volante quando era Felipe Nasr no comando e o abandono foi imediato. “Desde o início, o nosso nº 4 foi atormentado por penalidades, erros e contactos – totalmente anormais para nós. Não estou culpando meu companheiro de equipe Felipe Nasr. Qualquer pessoa que dirija com pneus slicks frios em uma pista ainda úmida pode voar rapidamente. Tal acidente não é incomum.”, comentou Nicky Tandy, que ainda teve Mathieu Jaminet completando o trio no #4.
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O 963 #6 foi o melhor dos Porsche ao terminar em quarto na geral (Foto: Porsche Motorsport) |
Ficou claro, também, que a velocidade final e erros de estratégia minaram as chances dos outros dois Porsches da Penske. Urs Kuratle, chefe do programa LMDh da Porsche, falou dessas situações que foram tirando aos poucos os carros alemães da briga pela vitória: “Estávamos perdendo velocidade máxima. Se você não tem velocidade máxima em Le Mans, você está [ferrado]. É assim que as coisas são. Esse é um fator." Ele também destacou o fato da estratégia para com o pneus não ter dado certo: “O segundo fator é que também tomamos algumas decisões sobre pneus que provavelmente não estavam bem no momento. Você pode argumentar que não foi fácil hoje, mas de qualquer forma, é uma corrida de velocidade de 24 horas". Jonathan Diuguid, que é o diretor administrativo da equipe Porsche Penske Motorsport, também destacou o fator pneus: “Nossos carros nºs 6 e 5 fizeram todas as paradas durante as últimas quatro horas. A nossa equipa também levou ao limite os limites estratégicos no que diz respeito à escolha dos pneus. Queríamos realmente desafiar a Ferrari e a Toyota pela vitória.”
Além dos carros de fábrica, a Porsche ainda teve os 963 privados: os dois da Hertz Team Jota completaram em 8º e 9º, num esforço que foi muito comemorado pela equipe, que por muito pouco não perdeu o #12 após o acidente de Callum no segundo treino livre após a qualificação. O carro foi recuperado num esforço digno de aplausos e ainda conseguiu um bom desempenho para fechar em oitavo e na mesma volta dos líderes, assim como o gêmeo #38. Dá até para pensar o que poderia ter sido deles caso não tivessem esse problema.
A Proton esteve com uma série de problemas com seu 963 #99 conduzido por Harry Thincknell/ Neel Jani/ Julien Andlauer. Inicialmente foi a porta travada e depois problemas na suspensão que atrasaram bastante o andamento da equipe. Eles fecharam na 45ª posição na geral.
A Toyota poderia ter saído dessa edição com a vitória? Bem provável que a prova deste ano será mais uma que a equipe olhará para os pequenos detalhes e sentirá um gosto amargo. A vitória escapou por entre os dedos e, não desmerecendo a grande jornada da Ferrari, os japoneses teriam condições de fazer até mesmo uma dobradinha. E essa conquista teria sido ainda mais brilhante se o #7, pilotado por Kamui Kobayashi/ Nicky De Vries/ Jose Maria Lopez, tivessem levado a taça, visto que largaram de 23º na classe e estavam cabeça a cabeça com o Ferrari #50 pela vitória. Mas a falhas de motor, mais dois furos lentos e um erro de Lopez na última hora, foram alguns dos pontos determinantes para esta derrota. “Perdemos tempo em zonas lentas, tivemos dois furos, um no Kamui e outro para mim assim que saí da garagem nas duas últimas passagens, quando estava seco. Kamui teve um problema com o motor e eu também.", comentou Lopez que esteve numa jornada muito positiva no protótipo #7, principalmente nas ultimas horas onde ele fez dois turnos bem velozes. Sobre o erro, ele não sabe exatamente o que aconteceu, indicando que poderia ser até mesmo por conta do freio motor ou do sistema, mas rechaçou a ideia de que este contratempo poderia ter colocado tudo a perder: “Felizmente não perdi muito. Foi só um giro rápido, perdi apenas dez segundos. A Ferrari estava voando no final. A lacuna real era maior.”
Sobre os problemas no motor do #7, David Floury, diretor técnico da Toyota, explicou o que ocasionou cada um deles: “O primeiro foi devido a um sensor. A segunda vez foi uma mudança de interruptor.". Mas Floury acredita que, o que realmente atrasou as coisas para a tripulação do GR010 Hybrid #7, foram os furos: “No carro nº 7 tivemos dois furos lentos e, em ambos os casos, tivemos que fazer paradas adicionais fora da nossa janela.”, finalizou.
O carro #8 esteve muito bem, mas o toque com o #50 durante a batalha nas horas finais, os tiraram na disputa pela vitória forçando-os a terminarem na quinta posição. Ryo Hirakawa, que dividiu o comando do #8 com Sebastien Buemi e Brendon Hartley, comentou sobre essa oportunidade perdida: "Tivemos uma chance de vencer. Eu estava liderando a corrida antes de termos alguns safety cars e zonas lentas. É uma vergonha. Fizemos o que pudemos. É muito difícil prever o tempo e é fácil dizer em retrospectiva. Pouco antes de a chuva chegar, tínhamos um pouco de ritmo. A chuva não esteve realmente a nosso favor no final. Mas isto é Le Mans. Voltaremos mais fortes.”, concluiu.
A Ferrari esteve forte desde o inicio da prova, conseguindo avançar para as primeiras posições com os três 499P e apenas em alguns momentos na chuva é que podíamos colocar em cheque se estariam na ponta no momento que realmente valia. “Quando choveu muito fomos competitivos, mas com menos chuva não fomos e perdemos posições. Este foi o verdadeiro problema destas 24 Horas. Sem a chuva, a nossa competitividade tem sido muito forte. Mas durante a corrida é difícil pensar: 'Ok, podemos vencer a corrida'... o máximo que você pode pensar é que tem chance de vencer", comentou Antonello Coletta, chefe global do programa de endurance da Ferrari.
Um ponto a ser considerado, também, foi a perca das 6 Horas de Ímola, segunda etapa desta temporada, quando o ritmo dos Ferrari foram bons e perderam por conta da estratégia em se manterem na pista molhada com pneus slick. Coletta comentou sobre essa situação: “Em Imola, tivemos um mal-entendido entre a equipe e nossos pilotos e perdemos a corrida. Lembro que organizei muitas reuniões com mecânicos e engenheiros depois de Imola. Falei com eles porque queria entender o problema e por que o tínhamos. Agora acredito que demonstramos que trabalhamos muito bem. Acho que todas as escolhas que tomamos nesta corrida foram corretas. Não houve mal-entendidos. Provavelmente a corrida de Imola foi uma grande ajuda nestas 24 Horas".
Além dos dois 499P da equipe oficial, a Ferrari ainda tinha no #83 da AF Corse pilotado por Robert Kubica/ Robert Schwartzmann/ Yifei Ye, um carro em grande forma e que esteve na disputa pela ponta por um bom par de horas, conseguindo manter o ritmo mesmo com a troca de pilotos o que mostra a ótima simbiose entre eles. Infelizmente eles abandonariam na 19ª hora por problemas no sistema hibrido, mas deixaram uma ótima impressão justamente para as próximas etapas, indicando que podem ser um trio bem cotado para a vitória.
As demais equipes dessa classe tiveram desempenhos distintos: A Peugeot conseguiu levar so dois 9X8 ao final, mas ficou claro que o ritmo está aquém do eles esperavam - ainda mais tendo na lembrança as voltas na liderança da edição de 2023 e da ótima oportunidade em Losail, na abertura deste campeonato. Porém, temos que ressaltar que uma nova configuração para este protótipo começou a ser usado em San Marino, e sabemos bem que leva um tempo para que os resultados apareçam de forma mais sólida. Apesar de um olhar positivos dos técnicos, que destacaram o fato dos dois carros não terem sofrido problemas, eles reconheceram que os 9X8 tiveram percas de desempenho na Tertre Rouge e Porsche Curves.
A principal meta da Lamborghini era terminar a prova sem ter que visitar os boxes inúmeras vezes, e conseguiram. O fato de abordarem um ritmo mais conservador, ajudou e muito para que conseguissem chegar ao final da corrida sem maiores problemas. “Foi um resultado positivo, definitivamente. Ainda temos falta de ritmo, por isso precisamos trabalhar no puro desempenho do carro. Fomos muito conservadores em termos de como abordamos o fim de semana de corrida. É óbvio que não estávamos em condições de lutar na pista contra Porsche, Ferrari, Cadillac. Sabemos onde estamos e onde estão os outros, por isso temos que ser humildes e abordar a questão da maneira certa.”, confidenciou Emmanuel Esnault, que é o diretor de corridas da Lamborghini Iron Lynx. A equipe fechou em 10º com o SC63 #63 de Mirko Bortolotti/ Daniil Kvyat/ Edoardo Mortara e em 13º com o #19 de Andrea Caldarelli/ Matteo Cairoli/ Romain Grosjean, ambos com duas voltas de atraso para o vencedor.
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Apesar de estar totalmente fora do ritmo, o complemento da prova foi festejado pela equipe (Foto: Isotta Fraschini/X) |
Outra que pode se sentir satisfeita é a Isotta Fraschini, ainda que seu gap para os demais seja bem alto. O Tipo 6-C #11 pilotado por Carl Wattana Bennett/ Jean-Karl Vernay/ Antonio Serravale, fechou na 14ª posição e última para os Hypercars que completaram a prova, com sete voltas de atraso para o Lamborghini #19 que ficou em 13º e nove para o vencedor - e ficando cinco voltas à frente do vencedor da LMP2. Apesar do ritmo mais lento, não foi um carro que se meteu em confusões, conseguindo realizar seus stints sem maiores problemas e partilhando da mesmo condição de Lamborghini e Peugeot, que não visitaram os boxes por grandes problemas.
O desaire dessa classe ficou para BMW e Alpine que viram seus carros ficarem pelo caminho ainda cedo. Os alemães perderam o BMW M Hybrid V8 #15 na sexta hora quando Dries Vanthoor (Rafael Marciello/ Marco Wittmann) levou um toque do Ferrari 499P #83 em plena Mulsanne e acabou batendo forte, o que deixou a dianteira destruída e automaticamente tirando eles da prova. O #20 "Arta Car" de Sheldon Van Der Linde/ Rene Rast/ Robin Frinjs, sofreu acidente na hora dois e ficou por muito tempo nos boxes, retornando apenas na parte final para receber a quadriculada.
Tão frustrante quanto a BMW, foi a participação da Alpine que, apesar de um bom andamento nos treinos e qualificação, acabou vendo os dois carros saírem com problemas no motor: o #35, quando estava com Ferdinand Habsburg no comando, abandonou a Arnage e o #36 uma hora depois quando Nicolas Lapierre estava ao volante.
LMP2 - Vitória para a United Autosports
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A United Autosports chegou a sua segunda conquista em Le Mans (Foto: United Autosports/ X) |
É sempre uma categoria a ser olhada com atenção, e desta vez não foi diferente já que por toda a prova ficava dificil apontar de fato quem poderia garantir a primeira posição na geral, até mesmo com carros da LMP2 PRO-AM na batalha pela vitória geral desta categoria, como foi o caso do #183 da AF Corse (François Perrodo/ Ben Barnicoat/ Nicolas Varrone) que chegou liderar um bom número de voltas, mas que acabou caindo na classificação para fechar em quarto na classe e vencer na PRO-AM.
Além do #183 da AF Corse, o #10 da Vector Sport, #37 da Cool Racing, #22 da United Autosports, #14 da AO by TF, #28 da IDEC Sport e o #34 da InterEuropool estiveram num revezamento das primeiras posições, indicando que dali poderia sair o vencedor desta classe.
Mas conforme as condições de pista foram mudando por conta da chuva-estiagem-chuva, que levou as equipes as mais variadas estratégias e junto algumas quedas de performance, o #22 da United Autosports (Oliver Jarvis/ Bijoy Garg/ Nolan Siegel) chegou a conquista, nesta que foi a segunda vitória da equipe em Le Mans (a primeira foi em 2020). “É sempre uma sensação incrível estar em Le Mans, mas poder vencê-lo é uma honra. Fiquei aliviado ao ver a bandeira quadriculada. Que corrida difícil. Só ficar na pista já era uma conquista. As condições eram tão difíceis.", comentou Oliver Jarvis que conquistou a sua segunda em Le Mans e também nesta classe, algo que ele havia experimentado em 2017 com a Jackie Chan DC. Ele foi um fator importante, afinal liderou dois jovens que estrearam na clássica corrida este ano, ainda mais para Siegel, que semanas antes passou pelo desgosto de cair no Bump Day para a Indy 500. Uma baita - e feliz - reviravolta.
LMGT3 - Sempre Porsche
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A Porsche venceu na estreia da LMGT3 em Le Mans: foi a 111ª conquista da marca por lá (Foto: Porsche Motorsport) |
A estréia dessa nova classe em Le Mans prometia muito e não decepcionou. As disputas foram intensas, seja em duos, trios, quartetos ou até mesmo em grandes blocos disputando palmo a palmo os metros de cada trecho do histórico circuito. Não há dúvida que daqui para frente, será um mega sucesso.
Coube à Porsche a primazia de ser a primeira vencedora dessa classe nas 24 Horas de Le Mans, algo como "fazer as honras da casa" de uma marca que venceu inúmeras vezes neste circuito nas mais variadas classes - esta foi a 111ª da história. É a que mais respira e transpira Le Mans, sem dúvida.
O Porsche 911 R LMGT3 #91 da Manthey EMA, conduzido por Yasser Shahin/ Morris Schuring/ Richard Lietz chegou a vitória aproveitando-se bem das estratégias que esta edição ofereceu devido as condições climáticas. E a Porsche poderia muito bem ter feito dobradinha com o #92 da Manthey PureRxcing que também esteve com ótimas chances de vitória, mas acabou enfrentando problemas e penalizações que os jogaram para trás na classificação.
O BMW M4 LMGT3 #31 do Team WRT foi o segundo após um trabalho hercúleo do trio formado por Darren Leung/ Sean Galael/ Augusto Farfus sair do meio do grid dessa classe e entrar na briga pela vitória que escapou por muito pouco. Em entrevista para o Sportscar 365, Augusto Farfus comentou sobre esse segundo lugar: “Se você tivesse me perguntado [sábado] às 18h, você teria um discurso diferente. Eu teria pensado, 'Olha, se conseguirmos sobreviver, seria um sonho.' Na verdade, fizemos um P2 onde nosso verdadeiro ritmo, nossa verdadeira velocidade do carro não era para o P2. Acho que operamos bem. Mais uma vez mostramos que somos provavelmente os melhores neste campeonato para maximizar o que temos. Havia um monte de carros que tinham muito mais ritmo do que nós e terminamos em segundo.". O outro BMW da equipe, o de #46 pilotado por Ahmad Al Harthy, Maxime Martin e Valentino Rossi, chegou liderar a classe por algum tempo, mas acabou abandonando quando bateu na saída da Chicane Dunlop na oitava hora.
A terceira posição nessa classe ficou para o Mustang LMGT3 #88 da Proton Competition que foi conduzido por Giorgio Roda, Mikkel Pedersen e Dennis Olsen. O segundo Mustang da equipe, o de #44, ficou em quarto.
Os brasileiros em Le Mans
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Augusto Farfus conseguiu a segunda posição na LMGT3 (Foto: BMW Motorsport) |
Não podemos negar que havia uma boa dose de esperança nas duas classes onde tivemos pilotos brasileiros, mas, ao mesmo, sabemos o quanto de variáveis esse tipo de corrida reserva e portanto uma boa dose de sorte é sempre bem vinda.
Augusto Farfus foi o único da turma a conquistar um bom resultado ao terminar em segundo na LMGT3 e ainda flertar pela vitória em alguns momentos. Nicolas Costa também esteve bem no Mclaren 720s LMGT3 EVO de #59 (que dividiu com James Cottingham e Gregoire Saucy) e chegou ficar entre os primeiros, mas abandonou na hora 20 por problemas mecânicos. Daniel Serra fez o que pôde no comando do Ferrari #86 da GR Racing (que teve como companheiros Michael Wainwright e Riccardo Pera) conseguindo escalar o pelotão nas vezes que assumiu o volante. Mas o carro apresentaria problemas na Chicane Dunlop já no final da corrida, lhes negando terminar entre os dez melhores da classe - o que seria um prêmio após um final de semana atribulado de problemas que obrigaram o trio a partir do final do grid da classe.
Os representantes na Hypercar não tiveram melhor sorte. No Porsche #4, Felipe Nasr estava no comando do carro quando este escapou e bateu forte na Indianápolis na hora 17 e forçando o abandono. Mas naquele momento os esforços eram apenas para terminar a prova, já que um resultado melhor já havia caído por terra devido a incidentes - inclusive com o Lamborghini da Iron Dames - e também por várias infrações durante pit-stops e intervenções na pista.
Pipo Derani, assim como Nasr, estava no comando do Cadillac #311 quando este bateu em Indianapolis, mas ao contrário do conterrâneo, conseguiu levar o carro aos boxes onde foi reparado e foi devolvido à prova para conseguir levar a quadriculada. Felipe Drugovich, que estava na tripulação do #311, fez um bom trabalho quando fez seu turno na parte da noite, quando a pista estava variável por conta da chuva.