O que restou do carro da Haas pilotado por Romain Grosjean neste GP do Bahrein, numa das maiores apreensões que a categoria passou desde o acidente de Jules Bianchi no GP do Japão de 2014
A Fórmula 1 flertou com a morte hoje em Sakhir e as piores lembranças de um tempo onde a categoria era mais conhecida pelo perigo do que pela competitividade, voltaram com força. Uma nova geração que ainda não tinha presenciado algo de tamanha magnitude e até mesmo para os mais veteranos, que assistiram finais de semanas bem mais pesados, tiveram que lidar com esta situação. O corte de câmera para não mostrar o que havia acontecido aumentou ainda mais o desespero em saber quem era - ou eram - o envolvido naquele brutal acidente que aconteceu logo após a largada, onde deu para ver dois carros indo para o lado interno do circuito barenita e um deles explodir de imediato. Foram breves minutos que trouxeram um ar pesado, onde podia sentir até mesmo a possibilidade de que algo pior pudesse acontecer. Mas o surgimento de Romain Grosjean das chamas, pulando o guard rail e indo em direção ao carro médico, fez as coisas acalmarem quase que instantaneamente. Logo após as chamas serem apagadas, pudemos ver o tamanho do estrago onde o Haas dividiu ao meio e o cockpit, que rasgou as lâminas metálicas, pregado na proteção metálica e totalmente carbonizado. Um cenário de guerra num curto espaço.
Sabemos bem que este acidente, até por volta de 2017, poderia ter sido catastrófico, mas também sabemos que as melhorias no campo da segurança melhorou de forma considerável, atingindo um nível onde os riscos serem quase eliminados. Porém, é impossível eliminar os riscos do motorsport e são eles que aparecem de vez em quando para nos alertar que ainda existe uma pequena chance de algo dar errado. Hoje foi um destes casos, onde o mínimo risco acabou dando o ar da graça e mostrando a todos que não se deve acomodar. A adoção do HALO, tão criticado para o ano de 2018, onde as reclamações giravam em torno da estética dos carros, hoje teve a sua grande prova: o brutal impacto que fez o carro de Grosjean varar o guard rail, mostrou a peça intacta e cumprindo o seu objetivo que era de proteger a cabeça do piloto. As lembranças de François Cevert em Watkins Glen 1973 ou de Helmut Koinnig no mesmo circuito um ano depois, podiam ter sido reavivadas hoje, mas a peça protegeu bem Romain e não teve nenhum dano nesta - até onde podemos ver. Fazendo uma conjunção do HALO com a tripla proteção de Nomex do macacão, também foi vital para que Grosjean saísse com apenas queimaduras nas mãos e nos pés, principalmente num deles que ficou sem a sapatilha que pode ter ficado grudado nos pedais.
A fato de Romain não desmaiar também contribuiu bastante para que ele mesmo pudesse sair logo daquele inferno que se transformou o resto de seu carro, mas ainda temos que destacar - de forma negativa - a demora e falta de preparo dos bombeiros presentes naquele momento. Apesar de saber que os treinamentos das equipes que trabalham no GPs serem rigorosas, é bem provável que escape alguém ou alguns que não estejam em perfeitas condições de assumir a responsabilidade em uma corrida - e nisso englobo o motorsport num todo. A demora em retirada, aparentemente, da trava de segurança do extintor, também ajudou no atraso para que as chamas fossem contidas e isso teria ajudado Romain a sair com mínimas ou nenhuma queimadura deste acidente. Outro ponto que deverá ser revisto até mesmo na próxima semana, quando será realizado o GP de Sakhir, mas utilizando o traçado externo do circuito, é o uso de barreiras de pneus ou até mesmo do softwall no local onde bateu Grosjean e em outros pontos do circuito, já que as médias serão bem maiores.
O que aconteceu hoje em Sakhir foi colocar em prova tudo que foi gasto e estudado para melhorar a segurança do carros e dos circuitos. O pavoroso acidente de Robert Kubica em Montreal 2007 já havia sido a grande prova de que a segurança dos carros da Fórmula 1 era altíssima, mas o descuido em deixar um trator trabalhando enquanto os carros estavam a toda velocidade, abrandando brevemente a velocidade no trecho de bandeira amarela, acabou custando a vida do promissor Jules Bianchi em Suzuka 2014 o que fez colocar em check novamente as questões de segurança. Foram lições que serviram para melhorar ainda mais e corrigir pequenas falhas até que acontecesse este de Romain Grosjean, onde expôs outras falhas e também a eficácia de todo melhoramento que foi implantado nos últimos tempos.
Parafraseando um trecho de uma matéria da revista Veja de 1989, que abordava o acidente de Maurício Gugelmin no GP da França, onde escreveram que "aumentava a segurança, mas não eliminava os riscos", hoje foi o dia vermos a segurança cumprir seu papel, mas sempre com o risco a espreita.