O rolo compressor McLaren e o
erro de Senna em Mônaco
Com este domínio de Senna era de se esperar
uma corrida solitária, mas um problema no engate para a primeira marcha acabou
deixando o piloto brasileiro parado no grid, o que forçou o atraso desta
largada e a realização de um novo procedimento. A McLaren acabaria por dar uma
mancada ao deixar Ayrton sair com um carro reserva e o piloto acabaria por ser
desclassificado na 31ª volta, quando estava em segundo após grande recuperação.
Alain Prost foi quem mostrou a força que a
McLaren escondia desde a pré-temporada: liderou a corrida desde o início, não
dando chances a ninguém e com voltas extremamente velozes (cerca de 1,5
segundos de diferença para o segundo colocado) e venceu a prova com Berger em
segundo, Piquet em terceiro, Warwick em quarto, Alboreto em quinto e Nakajima
em sexto.
A segunda etapa, o GP de San Marino, foi
mostra ainda mais assustadora do que tinha sido o domínio da McLaren em
Jacarepaguá quase um mês antes. Tanto Prost, quanto Senna havia acenado para
uma evolução do MP4/4 que ambos julgavam ainda estar fora do equilíbrio ideal.
Quando todos os carros foram para as classificações pode-se verificar que,
salvo algum problema nos dois McLaren, a corrida estava fadada a ser de um dos
dois pilotos da casa de Woking: Ayrton chegava a sua segunda pole e desta vez
teria Prost ao seu lado, mas o que impressionou – mais uma vez – o restante dos
pilotos foi ver que na tabela de tempos Senna havia enfiado três segundos sobre
o terceiro colocado Nelson Piquet (precisamente 3.352 segundos) e oito décimos
sobre Alain. Se eles procuravam o equilíbrio ideal, encontraram facilmente...
Fechando os seis melhores, Nannini colocou o Benetton num belo quarto lugar,
seguido por Berger e Patrese com a Williams-Judd. Dois aspirados entre os seis
primeiros, nada mal...
A corrida tornou-se um passeio solitário de
Ayrton pela pista de Ímola, já que Prost não conseguira sair bem e caíra para
sexto. Mas já estava em segundo na oitava volta e apesar de tentar chegar
próximo de Senna, o piloto do carro 12 estava pronto para responder com a
melhor volta.
Apesar de parecer ter sido fácil, Ayrton
sofreu com o câmbio durante o GP e a grande diferença que abrira para Alain
ainda no início da prova, lhe salvou a pele. Outro que sofreu, mas com o
consumo de combustível, foi Piquet que precisou economizar a gasolina perto do
fim da corrida e ainda se defender dos ataques de Nannini, Patrese, Mansell.
Nelson ainda teve um alívio quando tomou uma volta do McLaren de Senna, o que
significou que teria uma volta a menos para se preocupar com o consumo e
terminar a corrida em terceiro.
Ayrton chegou a sua primeira vitória no ano
com Prost em segundo, Piquet novamente em terceiro, Boutsen
em quarto, Berger
em quinto e Nannini em sexto. A classificação do mundial ainda tinha Prost na
ponta da tabela com 15 pontos; Senna era o segundo com 9; Piquet e Berger
empatados em terceiro com 8, e Warwick com Boutsen com 4 pontos cada fechando
os seis melhores.
Mônaco foi a terceira corrida daquele ano e
talvez a que tenha mudado um pouco – ou muito – o andar daquele mundial para
Ayrton Senna. Ao começar pela classificação onde o piloto brasileiro fez a
volta que, segundo ele, o transportou para outro plano quando melhorava a sua
performance a cada volta feita no tortuoso Monte Carlo. Ayrton conseguiu cravar
a pole com uma marca absurdamente superior a de Prost, chegando ao tempo de
1’23’’998 contra 1’25’’425 do francês que posicionara o seu McLaren ao lado do
rival na primeira fila. Uma diferença de 1’’427 segundos... Berger, que fizera
o terceiro tempo, aparecia “apenas” 2’’587 segundos de Senna. Tinha sido uma
classificação perfeita. Alboreto, Mansell e Nannini fecharam os seis primeiros.
Nelson Piquet não teve uma boa jornada e posicionou a sua Lotus apenas na 11ª
colocação, três posições a frente de Gugelmin que largava pela primeira vez na frente
de Capelli que sairia em 22º.
Como nas outras duas etapas, a McLaren
partiu sozinha e abria vantagem com Ayrton no comando. Prost largou mal mais
uma vez e teve que ver a traseira da Ferrari de Berger por 52 voltas, até que
superou o austríaco na reta de largada. Mas alcançar Senna seria impossível,
uma vez que ele havia colocado uma diferença descomunal sobre o segundo
colocado superando a casa de 50 segundos. Apenas um milagre para que Prost, ao
menos, chegasse próximo do brasileiro.
Com os dois carros fazendo a dobradinha,
Ron Dennis pediu para Senna que diminuísse o passo uma vez que Prost não era
mais ameaça. Então o francês cravou a melhor volta e Ayrton a recuperou na
volta seguinte para lhe mostrar quem era o melhor naquele momento. Então veio o
relaxamento, desconcentração, guard-rail na Portier, acidente... Senna havia
pagado caro pela sua arrogância ao volante do MP4/4 e
perdido uma corrida já
ganha. Alain assumiu a liderança para vencer a sua segunda corrida no ano,
seguido por Berger, Alboreto, Warwick, Palmer – marcando os primeiros pontos
dele e da Tyrrell no ano – e Patrese em sexto. Alain ampliou para 24 pontos a
sua liderança, com Berger em segundo com 14; Senna em terceiro com 9; Piquet em
quarto com 8; Warwick e Alboreto em quinto com 6 pontos cada.
A F1 se deslocou para a sua temporada
“Norte Americana”, com as provas a serem realizadas no México, Canadá e EUA.
Mais uma chance para as rivais tentarem se aproximar do duo de ferro da
McLaren. Apesar de algumas mudanças no motor, que tiraram algum sorriso de
Alboreto e Berger, a Ferrari não teve chance contra os mclarianos que mais uma
vez dominaram as ações, desta vez no ondulado e poluído circuito dos Hermanos
Rodriguez.
Senna, mais uma vez, foi o dono da
classificação ao cravar a quarta pole consecutiva e com uma folga de meio
segundo para Prost. Berger aparecia em terceiro, seguido por Piquet, Alboreto e
Nakajima, que fizera uma bela classificação. Devido a altitude de 2.200 metros
acima do nível do mar, essa prova foi sofrível para os motores aspirados que
não obtiveram êxito e ficaram de fora da casa dos pontos pela primeira vez no
ano. Coube a Nannini ser o melhor dos pilotos com carros movidos a motor
atmosférico ao posicionar o seu Benetton em oitavo no grid e em sétimo na classificação
final da prova. Maurício Gugelmin, que marcara o 16º tempo no grid, foi quem
melhor resumiu o espírito dos pilotos que usavam este tipo de motor: “Parece
que estou num Fórmula 3”. Maurício abandonaria a prova com problemas na parte
elétrica do seu March.
Apesar da pole Senna não pôde usufruir
desta vantagem, uma vez que tivera problemas na vávula pop-off do motor Honda
fazendo com que atrasasse na largada permitindo que Prost assumisse a ponta.
Ele perdeu posições para Piquet e Nakajima que foram logo recuperadas pelo
brasileiro, mas este preferiu poupar os pneus desistindo de um ataque à Prost.
Berger teve possibilidades de brigar com Ayrton pela segunda posição, mas um
erro de cálculo o forçou a abrandar o ritmo para economizar gasolina. Após a corrida
verificou-se que tinha sido engano e que ele tinha, de fato, combustível para
fazer a sua prova tranqüilamente. Infelizmente a informação chegara tarde
demais...
Alain venceu a corrida com uma margem de
sete segundos para Senna. Berger chegara 57 segundos depois de Prost, em mais
uma prova dominada absolutamente pelos Mclarens. Alboreto, Warwick e Cheever
fecharam os seis primeiros. Piquet abandonou na volta 58 por problemas no
motor, a exemplo que acontecera com Nakajima algumas voltas antes.
Prost fechou o primeiro quarto do mundial
com uma bela folga de quinze pontos para Berger (33x18); Senna era o terceiro
com 15 pontos; Alboreto era o quarto com 9 e Piquet estava empatado com Warwick
na quinta posição com 8 pontos cada.
(Foto: Sutton-Images) |
A reação de Ayrton e os duelos
com Prost
Montreal havia voltado o calendário após um
ano de fora, quando a prova canadense se viu numa luta as cervejarias Labbat e
Molson pelo patrocínio majoritário da corrida. Com o impasse resolvido a favor
desta última, a pista de Gilles Villeneuve presenteou os pilotos com mudanças
dos boxes – que fora deslocado mais para frente – e alterações no traçado que
deixou a pista mais veloz, o que acabou por trazer duas preocupações que foram
percebidas durante a corrida: o alto consumo dos freios e combustível. Deste
modo todos os motores – e aí se incluíam até os aspirados – deveriam fazer duas
corridas: uma na pista e outra nos cálculos.
A McLaren continuou a dar as cartas e Senna
mais uma vez foi o pole, seguido por Prost. Berger e Alboreto ficaram com a
segunda fila e Nannini pôs a sua Benetton num belo quinto lugar sendo 0’’027
centésimos melhor que Piquet, o sexto. Ayrton tentou mudar a posição do pole
junto aos comissários,
alegando que o melhor lado para essa posição era o de
fora, mas o brasileiro não conseguiu nada mais que um não.
(Foto: Sutton Images) |
Senna tinha razão sobre isso quando Prost
largou melhor e virou a primeira curva na ponta da corrida, com Senna logo em
segundo. Com a limitação por conta possível desgaste do freio e,
principalmente, pelo consumo da gasolina, os Mclarens não abriram grande
diferença e estavam apenas sete segundos na frente do Ferrari de Berger na
décima volta. Todos estavam atentos ao duelo entre Prost e Senna que, enfim,
estava acontecendo após quatro corridas. Ayrton esperou o momento certo para
dar o bote na volta 19, quando atacou Prost na freada para o hairpin e assumiu
a liderança e tratou de se distanciar de Alain até que venceu a corrida com uma
vantagem de cinco segundos sobre o francês. Boutsen foi ao pódio, seguido por Piquet
– que sofreu um bocado com Mansell e Streiff que fizera uma bela corrida e era
quinto até a 41ª volta, quando abandonou por quebra – Capelli e Palmer.
Gugelmin abandonou na volta 54 com problemas de câmbio. No mundial Prost ainda
era o líder, agora com 39 pontos; Senna subiu para segundo com 24 pontos,
Berger era o terceiro com 18; em quarto Piquet com 11; Alboreto em quinto com 9
e Warwick em sexto com 8.
A F1 chegou ao seu último GP na América do
Norte para a disputa do GP dos EUA, na pista citadina de Detroit. Esta acabou
por ser a última visita da categoria a esta pista e um rumor de um circuito
permanente por aquelas bandas fora noticiado, mas que nunca veio a ser
realizado.
Ayrton era o grande favorito para essa
corrida, uma vez que ele havia vencido as duas últimas edições. O “King of the
Streets” não decepcionou e marcou a sua sexta pole consecutiva, mas ao
contrário que vinha acontecendo desde o GP de San Marino, ele não teve a
companhia de Prost na primeira fila: Berger conseguira ultrapassar a barreira
da segunda fila e estaria ao lado de Ayrton. Alboreto trouxe a outra Ferrari
para o terceiro lugar e Prost aparecia em quarto, com Boutsen em quinto e
Mansell em sexto. Piquet fez o oitavo tempo e Gugelmin o 13º.
O asfalto foi um desafio para os pilotos já
que ele estava numa condição que lembrava ao de Dallas, quatro anos antes, onde
alguns pontos estavam desmanchando. Havia também a preocupação com o consumo de
combustível, mas isso não pareceu problema para Ayrton que sustentou a
liderança desde o começo da corrida e a venceu tranquilamente. Prost teve a
vida facilitada após os problemas com os Ferrari e subiu para o segundo posto,
trazendo consigo – a exemplo de Montreal – Thierry Boutsen na terceira posição.
Andrea De Cesaris garantiu um belo quarto lugar para a novata RIAL, seguido por
Palmer e Pierluigi Martini, que conseguira o primeiro – e único – ponto para
ele e a Minardi no mundial. Apenas nove carros terminaram o GP americano, sendo
que os outros três carros que chegaram ao fim foram de equipes menores: Dalmas
(Lola), Caffi (BMS) e Bailey (Tyrrell). Prost ainda manteve a liderança do
mundial com 45 pontos; Senna foi para 33; Berger era o terceiro com 18; em
quarto Piquet empatado com Boutsen somando 11; Alboreto em sexto com 9.
Após a excursão pela América do Norte, a F1
voltou para a Europa para cumprir a clássica trinca formada pelos GPs da
França, Grã-Bretanha e Alemanha. E foi no veloz circuito de Paul Ricard que
mais uma vez, pela segunda naquele ano, que Prost e Senna se confrontaram
diretamente pela vitória.
Desta vez a sequência de pole-positions
feita por Senna até o GP dos EUA, foi quebrada por Alain Prost com uma
imponente marca que foi meio segundo melhor do que o de Ayrton. A segunda fila
foi feita pelas Ferraris de Berger e Alboreto, seguidas pelas Benettons de
Boutsen e Nannini. Encerrando as filas formadas por carros gêmeos, Piquet e
Nakajima posicionaram as Lotus na quarta fila. Gugelmin marcara o 16º tempo.
A corrida foi de tática, principalmente por
parte de Prost que liderou bem a corrida – com certa folga – até parar nos
boxes na 36ª volta. Foi o momento que Senna subiu para o primeiro posto e desde
já começou uma “guerra fria” ou uma “caça do gato ao rato” por parte de Alain,
que nitidamente tinha um carro mais bem acertado do que o brasileiro. Com a
preocupação do alto consumo – que também preocupava as Ferraris, tanto que
estavam rodando com a pressão do turbo mais baixa que o normal – Prost tratou
de tirar a diferença para Senna aos poucos. Na volta 61 veio o golpe de Alain:
aproveitando-se que Senna ficara encaixotado no Minardi de Martini, Prost fez a
manobra e conseguiu passar os dois na Beausset. O único trabalho que o francês
precisava agora era abrir vantagem sobre Ayrton, que não tinha condições de
buscar o McLaren 11. Alain venceu a corrida com mais de 30 segundos de avanço
sobre Ayrton, e Alboreto completou o pódio. Berger, Piquet – que enfrentou
problemas de câmbio e fez parte da corrida sem a segunda marcha – e Nannini
fecharam os seis primeiros. Prost continuou firme na ponta da tabela de pilotos
com 54 pontos; Senna em segundo com 39; Berger em terceiro com 21; Alboreto e
Piquet estavam empatados com 13 pontos cada na quarta posição e Boutsen em
sexto com 11.
Silverstone apresentou a todos uma faceta
interessante naquela oitava etapa: as Ferraris estavam em grande forma naquele
fim de semana de GP bretão e por um momento parecia que, enfim, o domínio da
McLaren seria suplantado daquela vez. Desde os treinos livres, passando pelos
classificatórios, os carros vermelhos estiveram na ponta dos tempos e coube à
Berger cravar a primeira pole de um carro que não fosse um McLaren e Alboreto
confirmou essa força ao ficar em segundo. Senna e Prost colocaram os dois
carros de Woking na segunda fila e na terceira, pasmem: os dois March mostraram
uma força não apresentada até então e Gugelmin e Capelli apareciam na terceira
fila, na frente de carros como os Lotus e Benettons, figurinhas carimbadas
naquelas colocações. Nelson Piquet aparecia em sétimo, com Nannini ao seu lado
na quarta fila.
Berger realizou uma bela largada, mas
depois se verificou que Senna estava na sua cola. A liderança da Ferrari do
austríaco foi até a 14ª volta quando Ayrton superou o carro vermelho pelo
simples fato de Berger precisar abrandar o ritmo por causa do... consumo de
gasolina. Foi este momento que Ayrton aplicou uma volta sobre Prost que se
arrasta pela pista que estava totalmente encharcada. A largada do professor
tinha sido desastrosa, caindo de quarto para nono na largada e ir despencando
pelo pelotão até será acossado – e ultrapassado – por Caffi e Modena. Alain
abandonaria a prova na 24ª volta por problemas de dirigibilidade – mais tarde
ele diria que de fato, a pista estava absurdamente inguiável naquelas condições
com pouca visibilidade e que não fazia sentido continuar pilotando naquele
aguaceiro.
Mais uma vez Senna teve uma exibição de
gala naquele tipo de traçado, totalmente encharcado, ficando 23 segundos na
frente de Mansell que levou a torcida local ao delírio com uma pilotagem virtuosa
e tirando o proveito daquelas condições para chegar em segundo. Nannini
completou o pódio, com Gugelmin - marcando seus primeiros pontos na F1 – em
quarto, Piquet em quinto – após problemas que o jogaram para trás – e Warwick
fechando o top 6. Prost permaneceu com os mesmos 54 pontos, mas Ayrton já se
aproximava agora somando 48 pontos. A terceira posição continuou com Berger (21
pontos); Piquet quarto com 15, Alboreto quinto com 13 e Boutsen em sexto com
11.
O campeonato havia encerrado a sua primeira
parte do mundial com uma forma avassaladora do duo da McLaren, que além ficarem
na dobradinha da tabela de pontos, eles dividiam quase todos os quesitos: 4
vitórias para cada; 6 poles para Ayrton, 1 para Prost e outra para o “intruso”
Berger; 4 melhores voltas para Prost, duas para Senna e uma para Berger e
Mansell.
De longe eram dois campeonatos: um para os
dois Mclarens e outro para o resto.
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