domingo, 2 de setembro de 2018

GP da Itália: Uma improvável doce vitória




Havia muita expectativa de como seria o comportamento da Ferrari em Monza após a sova que aplicaram na Mercedes semana passada em Spa. Se na pista belga as coisas tinham sido praticamente perfeitas, com um ritmo pra lá de satisfatório, com uma vitória relativamente tranquila de Vettel, era de se esperar que na veloz Monza, sob os olhos críticos e apaixonantes de sua torcida e imprensa, a Ferrari repetisse com ainda contundência o que foi visto dias atrás na Bélgica. Talvez apostassem quantos segundos chegariam na frente da primeira Mercedes. O otimismo era grande. Mas havia a Mercedes e Hamilton para tentarem virar um improvável cenário que já estava bem desenhado após Spa. E a estória foi incrivelmente fabulosa em Monza.
Os treinos livres nos sugeriram que as coisas não seriam tão fáceis e o treino classificatório corroborou isso, ao nos brindar com uma qualificação eletrizante entre os dois Ferrari e a Mercedes de Lewis. Kimi Raikkonen foi o homem daquele sábado ao cravar a pole e também a volta mais veloz da história da categoria, ao fazer a média de 263km/h contra os 262km/h de Juan Pablo Montoya estabelecido em 2002 lá mesmo em Monza. Vettel e Hamilton - estes dois separados por míseros 14 milésimos - apareciam com apenas um décimo de desvantagem. Ora, as coisas pintavam para uma corrida imprevisível...
A largada das Ferrari foi muito bem feita, conseguindo bloquear alguma ação de Lewis, porém as coisas mudariam de figura mais adiante: após um quase toque já na primeira curva com Hamilton, Vettel partiu com tudo para tentar tomar de Kimi a liderança, porém esqueceu-se de Lewis que aproveitou a brecha deixada pelo lado de fora para mergulhar e emparelhar com Sebastian e nisso o toque entre os dois candidatos ao pentacampeonato foi determinante para o andamento da prova, onde Vettel rodou e despencou para último. A sua sorte é que o SC foi acionado para que pudessem resgatar  o Toro Rosso de Hartley que ficou parado após um incidente na largada. Apesar de Vettel ter dito que Lewis não deixou espaço suficiente naquela manobra, a verdade é que o próprio Sebastian é que desequilibrou o Ferrari ao subir na zebra e acabou encostando no Mercedes do inglês, vindo a rodar na variante Della Roggia.  Mais um erro para a conta do piloto alemão. Raikkonen e Hamilton chegaram trocar de posições após da saída do SC, mas o finlandês conseguiu recuperar e sustentar-se bem na primeira posição.
O mais interessante é que após a lavada da Ferrari sobre a Mercedes em Spa, tinham quase certeza - inclusive este que vos escreve - que os italianos deitariam e rolariam com certa tranquilidade em solo "monziano". Porém o cenário foi muito diferente: um Lewis Hamilton extremamente veloz não deixava Raikkonen se distanciar, tanto a que a maior diferença deles antes da parada de box chegou a ser de 1.1 segundos. E essa distância foi importante para quando as ações nos boxes começaram. E daí entrou a velha tática da Mercedes em preparar tudo para uma possível entrada de seus pilotos, esperando a Ferrari morder a isca. E dessa vez as coisas saíram como planejado: com tudo armado por conta dos rivais, a Ferrari chamou Raikkonen e deixou o caminho aberto para Lewis fazer o seu famoso "Hammer Time" e cravar voltas bem velozes. Porém o risco de chuva passava a ser considerado e talvez por isso a equipe alemã não tenha chamado Hamilton para a troca de pneus, esperando para ver qual era a da chuva. Uma vez que não foi confirmado, Hamilton foi aos boxes e voltou em terceiro com quatro segundos de atraso para Raikkonen que agora teria que tentar ultrapassar Bottas - este fez mais uma vez um belo trabalho como escudeiro e antes que as pessoas reclamem veementemente, este é o momento correto para tal coisa. Porém Kimi não ameaçou Valtteri e viu a sua distância para Hamilton cair em poucas voltas. Agora sem o seu conterrâneo na dianteira - Bottas fora aos boxes - ele teria que fazer mágica para segurar Lewis. Os pneus de Kimi já estavam para lá de desgastados e apenas um grande milagre poderia ajudá-lo numa futura batalha contra o inglês. Mas isso não foi possível, e algumas voltas mais tarde ele seria ultrapassado por Hamilton na freada para a primeira chicane. Lewis apenas aumentou a diferença e caminhou para uma sensacional vitória.
Vettel conseguiu recuperar-se bem, ao terminar em quinto - mas herdaria a posição de Verstappen, uma vez que este levara cinco segundos de reprimenda após um toque com Bottas na freada da primeira chicane. Sebastian teve uma derrota amarguíssima em seu território.
Além dos 25 pontos conquistados em Monza, ficou também a grande performance imposta por Hamilton numa situação que parecia já perdida após a prova de Spa.
É bem provável que havia quase uma unanimidade sobre a vitória da Ferrari em Monza, mas a virada de jogo da Mercedes com esta prova que beirou a perfeição, foi um balde de água gelada na euforia italiana. 

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