A complexidade de um ser humano é medida nas condições da qual ele convive. Se for um ambiente bem organizado, as chances de sucesso são enormes e isso também passa pela sua força de vontade em querer vencer na vida. Agora, se o ambiente for um caos, as coisas tendem a ser mais difíceis. Pode até conseguir vencer, mas nem sempre a força de vontade, o otimismo, será suficiente para tal conquista.
Para Sebastian Vettel as coisas tem sido mais ou menos assim nos últimos doze meses. É claro que uma boa parte das pessoas apontam que o caldo entornou mesmo já na sua escapada em Hockenheim, quando estava liderando com folga. Porem temos que lembrar que Vettel ainda teve duas situações onde pilotou bem: na Hungria tinha condições de sobra para conquistar uma vitória, mas a mudança de tempo na classificação que ajudou as Mercedes a marcarem a primeira fila, dificultou a tarefa e esta tornaria-se ainda mais impossível quando teve em Bottas um bloqueio efetivo que possibilitou Hamilton fazer uma grande diferença e caminhar para uma importante vitória. Para Vettel restou ultrapassar Valtteri na marra para conquistar a segunda colocação. Na Bélgica talvez tenha sido o grande sopro de esperança ferrarista quando Sebastian desafiou e venceu Hamilton com autoridade, numa corrida onde a Ferrari esteve bem acima da Mercedes. Com uma vitória dessa, era impossível não ter um clima de euforia para Monza e isso foi inflado quando a Ferrari fez 1-2 na classificação. Mas o balde de água gelada na possível festa dos tiffosi já iniciou na tomada da chicane Roggia, quando Vettel foi superado por Hamilton e acabou rodando ao tocar no inglês. Já a Mercedes conseguiu vencer e iniciar uma arrancada importante para a conquista do quinto título de Lewis. O turbilhão no qual se encontrou Sebastian iniciou-se em Monza.
Os erros de Sebastian, que viriam a seguir em sequência, acabou gerando uma enorme carga de piadas e críticas em torno do desempenho do piloto alemão. As suas tentativas de recuperar as posições a fórceps sempre terminaram com algum erro, mas a verdade é que para Sebastian Vettel foi o que restou frente uma inoperância da Ferrari na segunda metade da temporada, que já fora deflagrada na segunda parte do mundial de 2017 que também o privou de batalhar pelo título. Somando os erros de Vettel, mais a queda técnica da Ferrari e a batalha de poder entre Arrivabene e Binotto - que intensificou após a morte de Sergio Marchionne - a equipe virou uma casa de loucos e isso foi refletido nos resultados até Abu Dhabi.
As esperanças foram renovadas na pré-temporada com um desempenho para lá de animador, principalmente quando comparado com os da Mercedes. Apesar de três situações onde os carros foram bem - Bahrein, Canadá e Áustria - a vitória não veio e nas demais etapas, o desempenho foi bem abaixo. Vettel teve sua grande oportunidade em Montreal, mas a decisão para lá de polêmica na sua já famosa escapada e retorno na frente de Hamilton, que lhe valeu os cinco segundos mais odiados da história da categoria, tirou-lhe uma vitória. Este é outro ponto que tem desagradado imensamente Sebastian - e toda comunidade que acompanha a categoria - que tem sido o excesso de punições por qualquer que seja o lance e este de Montreal é um fator que deixou o piloto transtornado - como foi bem visto nas trocas de placas - e que certamente contribui para um desânimo.
Depois dessa decepção, os resultados de Vettel tem sido abaixo dos conseguidos por Charles Leclerc nas últimas três corridas: da França até Inglaterra, Vettel largou todas elas atrás de Charles e a pontuação na soma destas foi de 48 para o monegasco e apenas 23 que conquistou, já que não conseguiu terminar entre os dez primeiros em Silverstone. Exatamente nesta prova britânica é onde as críticas em torno de seu desempenho voltou com força, por conta do incidente com Max Verstappen que tirou a chance do holandês ir ao pódio e a dele também, de conseguir marcar mais alguns pontos.
O bombardeio é forte. Tentar defender as ações de Vettel na pista, também tem sido uma tarefa hercúlea e os fãs sabem disso. Mas creditar os fracassos apenas a Vettel, como uma boa parte tem feito, é um grande erro. Quando se está em situações de desvantagem, o piloto tende a resolver as coisas no braço e quando sai errado, suas qualidades são postas em xeque. Isso é o que tem afetado bastante o comportamento de Sebastian, que procurou elevar o otimismo da equipe através de suas atuações - mesmo que, na sua maioria, tem sido um fracasso. A chegada de Charles à equipe, um piloto festejado na academia da Ferrari e que muitos apostam em seu sucesso, era uma aposta para despertar em Sebastian aquele piloto que fizera aquele sucesso estrondoso na Red Bull e também aquele piloto que chegou muito bem em 2015, renovando o oxigênio da clássica equipe. Mas, descontando a sua grande atuação em Montreal, Vettel não tem feito um bom campeonato até aqui enquanto que Leclerc tem conseguido, aos poucos, elevar a sua pilotagem e medir forças com o piloto alemão.
O caos técnico da equipe, que não conseguiu entender tudo deste promissor SF90 para que seus dois pilotos possam, enfim, dar combate a Red Bull e principalmente Mercedes, também contribui para que as coisas não andem bem no clima geral da equipe. Ou seja: não dá para se fazer milagres com uma equipe tão desorganizada tecnicamente e politicamente. Isso sem contar nas críticas pesadas que a fanática imprensa italiana tem feito ao piloto alemão desde o ano passado e que intensificou após o GP bretão, sem que a Ferrari desse um respaldo ao piloto alemão que tão bem faz seu papel em colocar o lema de "ganhamos juntos, perdemos juntos" em voga. Talvez esse episódio mostre exatamente a falta de apoio da Ferrari, que apenas vê seu piloto jogado aos leões e tranca as portas e joga a chave fora, esperando que ele reaja.
Esse combo de situações no qual Vettel está imerso e que a cada etapa parece puxá-lo mais baixo nessa areia movediça que se encontra há um ano - ou quase -, sempre dá margem para especulações: para alguns a sua aposentadoria está próxima, enquanto que outros sugerem um ano sabático para esperar todos os movimentos do mercado de pilotos - que promete ser intenso de 2020 para 2021, já que ano que vem os contratos de boa parte se encerrará (incluindo o dele e de Hamilton) - e ver para onde pode ir. Um local onde ele conhece bem e é tido como piloto exemplo, seria importante: uma volta de Sebastian à Red Bull é sempre colocada nas rodas de conversa e sinceramente, seria uma boa para ele poder dar continuidade a sua trajetória na categoria. É um caminho que será muito bem observado.
Esta segunda parte de campeonato que se avizinha será vital para as pretensões de Vettel. Se a equipe se achar e conseguir uma reação que possa, ao menos, dar a seus pilotos uma oportunidade de terminar o campeonato de forma decente, talvez o cenário nebuloso em torno do piloto alemão possa clarear para 2020 para que possa terminar seu contrato no próximo ano. Agora resta saber como ficará a situação caso nada avance ou piore, pois casos assim tendem a ser sustentáveis e um rompimento amigável é o melhor a fazer.
Chega ser melancólico observar a carreira de um piloto que foi alçado a um novo "Schumacher" entrar numa descendente que já entra para doze meses e ver as sua qualidades serem questionadas. Mas existem provações que nos é impostas pela vida. Se Vettel vai superar mais essa, não sabemos. Mas os seus números estão lá, encravados na história e isso não poderá ser mudado.
E o apoio daqueles que o amam e admiram, não irá faltar. Seja lá qual for a sua escolha.
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