domingo, 28 de maio de 2023

107ª Indy 500 - A vez de Josef Newgarden

 

(Foto: Josef Newgarden/ Twitter)


Sabemos que as últimas 50 voltas da Indy 500 são as que passam a valer. Para aqueles que estiverem bem, automaticamente se preparam para as derradeiras 25, 15, 10 voltas onde as ações se tornam vertiginosas e é quando começam a aparecer os percalços em forma de bandeiras amarelas. Os nervos precisam estar em dia - e serem de aço - para aguentar todas as pressões e não sucumbirem no primeiro descuido.

Essa 107ª edição das 500 Milhas de Indianápolis indicavam duas equipes específicas para chegarem à vitória: Mclaren e Ganassi estavam bem desde os treinos e o indicativo de que seriam elas as protagonistas era bem clara. Mas como qualquer roteiro de filme - ou pela escolha daqueles que cuidam do solo sagrado de Indianápolis - o favoritismo foi sendo ruído de forma lenta e trazendo doses absurdas de emoções.

As vibrações no carro de Scott Dixon ainda na primeira parte da prova indicavam que o sempre sortudo - e competente - multicampeão tinha seu azar renovado no IMS. Com ele caindo no pelotão, ficava claro que era uma peça a se descartar nessa engrenagem; Takuma Sato e sua estrela começaram a se apagar da mesma forma ao caírem na tabela; Alex Palou, o homem mais veloz da história da Indy 500, parecia intocável entre os primeiros até que Rinus Veekay resolveu desmistificar isso ao jogá-lo no muro do pit-lane e arruinar a sua corrida. Apesar de uma ótima recuperação, terminando em quinto, a chance de gravar seu rosto no Borg Warner se esvaiu. Parecia que o dia estava se desenhando à favor da Mclaren.

A equipe de Zak Brown, com a sua homenagem para lá de especial em comemoração a sua Tríplice Coroa no automobilismo, estava muito bem até que a parte final da prova resolveu mexer as peças: primeiro Félix Rosenqvist, que estava na cola do compatriota Marcus Ericsson e mostrava estar disposto a ser o terceiro sueco a beber o leite da vitória, acabou se perdendo e iniciando um dos acidentes mais assustadores desta edição quando atravessou a pista e foi acertado pelo Andretti de Kyle Kirkwood que capotou e teve um dos pneus lançados por cima do alambrado, causando um momento de tensão por não saber onde teria ido parar. Com a prova em bandeira vermelha, instantes depois verificou-se que havia caído no estacionamento e acertado um dos carros. Dos males, o menor... 

Após o momento de paralisação, foi a vez de Pato O'Ward desafiar Ericsson pela liderança, mas nenhum deles contavam com velocidade de Josef Newgarden que pulou para a liderança e deixou os dois se engalfinharem pelo segundo lugar. Num lance parecido com o de Emerson Fittipaldi vs Al Unser Jr na edição de 1989, Pato mergulhou por dentro na três e acabou levando uma fechada de porta que o fez rodar e bater, terminando ali o sonho do jovem mexicano em chegar a sua primeira Indy 500 - não bastasse a batida, ainda seria acertado por Agustín Canapino que apareceu do nada com problemas em seu carro, enquanto que mais atrás Simon Pagenaud fora acertado por Scott Mclaughlin e acabou no muro. A corrida entraria em sua segunda bandeira vermelha e a tensão aumentava ainda mais.

Com outra relargada pela frente, o que esperar? O desafio vindo até mesmo de um brilhante Santino Ferrucci, mostrava que a batalha estava longe de terminar e isso confirmado quando outro entrevero na turma do fundo forçou a terceira vermelha. Sem dúvida alguma os nervos passavam de aço para titânio...

As duas últimas voltas podem ser descritas como uma batalha entre Davi e Golias, já que Josef Newgarden não estava entre os principais favoritos e Marcus Ericsson parecia ter crescido o suficiente naquele caos para cravar uma segunda vitória histórica em Indianápolis. A estilingada de Ericsson na última relargada dava a impressão de que ele estava prestes a abrir o caminho para a sua segunda glória, mas Newgarden, o Golden Boy do automobilismo americano, ainda tinha a cartada final ao superar o sueco na reta oposta e partir para uma improvável conquista, que foi garantida nos já famosos zigue-zague - que Marcus usou tão bem em 2022 - para cravar uma espetacular primeira vitória no solo mágico de Indianápolis.

A imagem de Josef Newgarden, que perseguia esta vitória há anos, indo para a torcida,  já se torna um dos grandes clássicos da rica história de 112 anos de Indianápolis. 

Para nós brasileiros, existia uma ponta de esperança partindo com a nona posição de Tony Kanaan que não foi o melhor dos Mclaren, mas esteve no bolo dos doze primeiros por um bom tempo. A exemplo de outros veteranos, também sofreu com vibrações em seu carro e nos momentos de relargada, que se tornaram sua marca registrada, o uso de mais asa não ajudou muito. O Bom Baiano, assim como falava o saudoso Luciano Do Valle em suas míticas transmissões, merecia uma despedida bem melhor, mas ao menos não faltou garra e combatividade - como ficou claro na sua ultrapassagem sobre Mclaughlin num dos estágios da prova, ao passá-lo usando até a grama. Fará falta nas provas da Indy.

Helio Castroneves parecia ter uma chance interessante quando estava parando nos boxes na mesma janela dos líderes. Dessa forma, ele chegou a ocupar a 13ª posição antes que a corrida chegasse em sua metade, o que daria uma boa perspectiva para ele mais à frente, mas o alto desgaste dos pneus, acompanhado da temida vibração, quase o jogou no muro e em seguida o obrigou a ir aos boxes fora da janela e automaticamente tirá-lo de qualquer possibilidade em buscar algo a mais. O sonho da quinta fica para 2024.

A conquista de Josef Newgarden que, como eu disse, não estava entre os favoritos, até por conta de uma Penske que há anos não tem tido boas jornadas nesta prova, mostra mais uma vez que circuitos míticos como Indianápolis tem esse poder escolher os seus melhores. 

E dessa vez foi Newgarden o escolhido.

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