Não devia ser comum um piloto novato chamar atenção de um
campeão do mundo de Fórmula-1. Este campeão, sendo naquele momento, o detentor
de cinco títulos mundiais, tornava qualquer descoberta valiosa e seja quem
fosse o escolhido, certamente as pessoas olhariam com mais atenção. Quando o
jovem Fritz D’Orey chamou atenção de Juan Manuel Fangio no I Triangular Sulamericano,
realizado em Interlagos no ano de 1958, abriu-se uma importante porta para que
o paulistano pudesse mostrar o seu talento que já era bem conhecido pelos
entusiastas do automobilismo nacional.
Apesar de meteórica, fazendo sua estréia – com vitória numa
prova de 15 voltas em Interlagos destinado a pilotos iniciantes – em 1955 após
comprar um Porsche Spyder das mãos de Chico Landi e que pertenceu a Hans Von
Stuck, Frederico José Carlos Themudo D’Orey começou a se firmar como um dos
grandes nomes do automobilismo nacional. Mas foi em 1958 que o paulistano passou
a domar as competições ao derrotar grandes nomes do automobilismo nacional como
Celso Lara Barberis, Camilo Christófaro, Cyro Caires em categorias como o
Campeonato Paulista de Automobilismo e também o Campeonato Brasileiro de
Automobilismo. Foi neste mesmo ano que aconteceu o I Triangular Sulamericano em
Interlagos onde ele desafiou Jose Froilan Gonzalez e por muito pouco não
venceu, mesmo tendo dominado amplamente a competição com direito a quebra de
recorde por parte do brasileiro, ao desbancar a melhor marca de Gonzalez (3’47’’4) com uma volta em 3’42’’5 pilotando
uma Siderato Ferrari. Infelizmente problemas mecânicos o tiraram da luta pela
vitória, mas fez uma grande recuperação para terminar em quarto. Foi a deixa
que Juan Manuel Fangio precisou para recrutar o jovem brasileiro para a sua equipe
Centro-Sud que contava com pilotos argentinos e uruguaios – e agora com o
brasileiro Fritz.
Voltou a impressionar no GP de Buenos Aires de 1959 quando
estava liderando, mas a quebra de um dos eixos o deixou a pé quando faltava
seis voltas para o fim. Sob a batuta de Fangio, foi para a Europa onde testou a
Maserati 250F em Modena e em 5 de julho fez a sua estréia na Fórmula-1 ao
comando da 250F da Centro-Sud. Largou em 18º e terminou em 10º, com dez voltas
de desvantagem para o vencedor Tony Brooks da Ferrari. Para Fritz, essa corrida
ficou marcada por um entrevero com Stirling Moss: em um dos estágios, quando
estava para tomar uma volta de Moss, ele fez sinal para que o inglês o
ultrapassasse e numa das fortes freadas após uma das longas retas do circuito
de Reims, Moss acabou escapando e rodando – Stirling ainda retornou para a
corrida e foi desclassificado mais tarde por ter recebido ajuda externa para
retornar. Fritz ainda participou de outros dois GPs naquele ano, mas sem
completar os GPs da Grã-Bretanha e dos EUA, quando pilotou um TEC-MEC F415 de
motor Maserati inscrito pela equipe Camoradi. Um dia antes, na mesma Sebring,
mas pela Fórmula Júnior, ele foi segundo na corrida com um Stanguelini. Ele
ainda teve outras vitórias importantes naquele ano de 1959 quando venceu o GP
de Messina pilotando uma Ferrari (com Christian Heins em segundo); ganhou o GP
de Cadur na Fórmula Júnior.
As boas prestações de Fritz D’Orey lhe renderam a oportunidade
de correr pela equipe oficial da Ferrari no Mundial de Carros Sport em 1960.
Fez as 12 Horas de Sebring daquele ano com uma Ferrari 250GT SWB inscrito
William Sturgis. Dividindo essa Ferrari com Bill Sturgis, eles terminaram na
sexta colocação na geral e ficaram em quarto na classe para carros de 3.000cc.
Infelizmente a sua carreira foi interrompida nos treinos para as 24 Horas de Le
Mans, quando a sua Ferrari 250GT SWB da Scuderia Serenissima – que ele
compartilhava com os italianos Carlo Maria Abate e Gianni Balzarini – foi fechada
em plena Maison Blanche pelo Jaguar E-Type 2A Prototype do americano Walt
Hansgen – com o qual, segundo o próprio Fritz, teve um desentendimento na
corrida de 1959 de Fórmula Junior em Sebring – e com isso o Ferrari de D’Orey
acabou escapando para fora da pista e batendo contra uma árvore, que dividiu o
carro ao meio e deixando o piloto brasileiro gravemente ferido – e com grave
traumatismo craniano. Ficou vários dias em coma e oito meses internado e logo
após, acabou encerrando a sua carreira de piloto e passou a se dedicar ao ramo
da construção civil.
A carreira de Fritz D’Orey podia ter sido a que alavancaria
o sucesso de pilotos brasileiros no exterior. Sua pilotagem agressiva e
espetacular chamava bastante atenção e impressionava os melhores ases de seu tempo,
como Fangio e Gonzalez e certamente ele seria um dos grandes do automobilismo
internacional naqueles anos 60. Mas infelizmente isso não foi possível e o que
ficou foi apenas essa forte impressão.
Fritz D’Orey morreu hoje em Cascais, Portugal, aos 82 anos
após lutar contra um câncer.
À duas semanas atrás perdemos o Nicha Cabral, agora foi o Fritz d´Orey.
ResponderExcluirQue continuem a acelerar onde quer que estejam.
Abraço
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